A euforia com o crescimento do comércio e dos negócios, a
presença de muitos estrangeiros residindo na cidade, e a necessidade de lazer e
sociabilidade dos segmentos burgueses, concorreram para a criação, em 1868, de
duas inéditas entidades recreativas em Fortaleza: a Associação Comercial do Ceará (presidida pelo inglês
Richard Hugges) e o Clube Cearense, ambas compostas por estrangeiros e pela
elite cearense.
Antiga Rua da Misericórdia (atual Rua Dr. João Moreira)
1 - União Cearense; 2 - Casa Liebmann; 3 - Casa Mississipi; 4 - Prédio do Clube Cearense, (Hotel de France)
fonte José Liberal de Castro
O Clube Cearense foi, concretamente, a primeira grande
agremiação mundana da cidade, inclusive com sede própria e sócios. Mas um pouco
antes, em 1851, houvera um primeiro esboço nesse sentido: uma organização
chamada “Recreação Familiar Cearense”, fundada pelo engenheiro Caetano de
Gouveia, filho de rico comerciante e pelo Dr. Lourenço de Castro e Silva, um
dos primeiros médicos locais que retornaram à Fortaleza após se diplomarem nas
escolas de Medicina de Salvador e do Rio de janeiro.
Recém-formados e vindos de centros mais adiantados, Gouveia e Castro e Silva implantaram o que os abastados grupos emergentes da capital não tiveram o impulso mundano de fazê-lo: a iniciativa de congregar, a partir de um centro irradiante, os eventos festivos antes esparsos e acanhados na ingênua Fortaleza de então. O efeito desse desejo de fomentar um viver urbano mais efetivo, foi exatamente, a criação da Recreação Familiar Cearense, entidade destinada a reunir, uma vez por mês, as famílias de Fortaleza.
Recém-formados e vindos de centros mais adiantados, Gouveia e Castro e Silva implantaram o que os abastados grupos emergentes da capital não tiveram o impulso mundano de fazê-lo: a iniciativa de congregar, a partir de um centro irradiante, os eventos festivos antes esparsos e acanhados na ingênua Fortaleza de então. O efeito desse desejo de fomentar um viver urbano mais efetivo, foi exatamente, a criação da Recreação Familiar Cearense, entidade destinada a reunir, uma vez por mês, as famílias de Fortaleza.
A agremiação trouxe uma novidade: a participação feminina na organização de
atividades mundanas. A atitude, pouco comum ao círculo feminino fortalezense,
coube a Elisária Pereira, esposa do Dr. Gouveia, que assumiu a função de
secretária da Recreação Familiar.
Essa inauguração acendeu a chama da necessidade urgente de
lazer e sociabilidade urbana na acanhada capital cearense.
Entretanto, foi o Clube Cearense, 17 anos depois, que melhor assumiu as características de um verdadeiro clube recreativo, pois além de contar com sede própria (a partir de 1871) num grande prédio defronte à área verde onde surgiria em 1880, o magnífico Passeio Público. Oferecia festas suntuosas, novas danças, jogos lícitos, e atividades litero-culturais para o seleto corpo de associados.
sede própria do Clube Cearense em frente ao Passeio Público. Mais tarde funcionou no prédio o Hotel de France (foto Ah, Fortaleza!)
Entretanto, foi o Clube Cearense, 17 anos depois, que melhor assumiu as características de um verdadeiro clube recreativo, pois além de contar com sede própria (a partir de 1871) num grande prédio defronte à área verde onde surgiria em 1880, o magnífico Passeio Público. Oferecia festas suntuosas, novas danças, jogos lícitos, e atividades litero-culturais para o seleto corpo de associados.
Integrado pelos notáveis homens de negócios locais e
estrangeiros, o Clube Cearense logo se tornou famoso pelo fausto de seus salões
e pelo extremo requinte de suas programações recreativas. Seu elitismo
exclusivista, porém, vedava o acesso a
estranhos, mesmo que tivessem algum prestígio na cidade.
Acontecimentos constrangedores como a expulsão de um guarda-livros que se achava sem convite em uma de suas festas e a recusa de proposta para sócio de um funcionário da Alfândega, aumentaram o tom dos protestos contra a agremiação. Os excluídos do Clube Cearense, que se formava à margem do mundo aristocrático de então, era um ascendente grupo social médio-alto, constituído por comerciários, despachantes e guarda-livros, muitos deles, já na década de 1870, participantes de atividades literárias e jornalísticas, e ativos militantes abolicionistas.
Desse grupo de rejeitados pelo Clube Cearense, partiu a iniciativa de se criar uma outra sociedade recreativa, que viabilizasse seus anseios por diversão e cultura. Assim surgiu o Clube Iracema, em 1884 – ano da abolição da escravidão no Ceará – nome inspirado no afamado romance de José de Alencar.
Associação Comercial, fundada no mesmo ano do Clube Cearense (livro Ah, Fortaleza!)
Reunião da diretoria da Associação Comercial do Ceará, sociedade para defesa dos interesses comerciais do Estado, constituída pelas firmas mais importantes (foto Novo Milênio)
Acontecimentos constrangedores como a expulsão de um guarda-livros que se achava sem convite em uma de suas festas e a recusa de proposta para sócio de um funcionário da Alfândega, aumentaram o tom dos protestos contra a agremiação. Os excluídos do Clube Cearense, que se formava à margem do mundo aristocrático de então, era um ascendente grupo social médio-alto, constituído por comerciários, despachantes e guarda-livros, muitos deles, já na década de 1870, participantes de atividades literárias e jornalísticas, e ativos militantes abolicionistas.
Desse grupo de rejeitados pelo Clube Cearense, partiu a iniciativa de se criar uma outra sociedade recreativa, que viabilizasse seus anseios por diversão e cultura. Assim surgiu o Clube Iracema, em 1884 – ano da abolição da escravidão no Ceará – nome inspirado no afamado romance de José de Alencar.
extraído do livro de Sebastião Rogério Ponte
Fortaleza Belle Epoque reformas urbanas e controle social 1860-1930
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