quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Febre das Novidades

Casa Boris de Boris Frères e Cia. responsável pela publicação do Álbum de Vistas do Ceará-1908

Em 1908 um álbum com fotos de Fortaleza circulava pela Cidade. Para gáudio dos agentes locais da modernização urbana, o livro confeccionado em papel de luxo, trazia 160 estampas de tudo o que representava o aformoseamento e o progresso da capital no começo do século XX: praças recém-remodeladas, jardins públicos, ruas alinhadas com bondes, transeuntes, sobrados e estabelecimentos comerciais; Passeio Público e Parque da Liberdade e seus elegantes frequentadores; Estação Central Ferroviária, mansões e fachadas art-nouveau, cafés, templos, escolas, porto, praias e lagos.

Escritório da Estrada de Ferro Baturité

O Álbum de Vistas do Ceará, de 1908, editado pela Casa Boris Frères e Cia, a mais poderosa das firmas estrangeiras no Ceará, e impresso na França, significava formalmente uma homenagem à capital, um reconhecimento à sua beleza e ao seu desenvolvimento. Confeccionado na Europa por uma consagrada companhia francesa e distribuído em vários lugares, o Álbum não deixava de ter um desejo de divulgação de uma cidade que era, na leitura capitalista, um próspero mercado urbano. Considerando que a fotografia – devido a sua extraordinária capacidade de informação, vale por mil palavras – nada como divulgar Fortaleza através do elogio das imagens fotográficas. A ideia foi ainda mais feliz porque veio à luz no momento em que a fotografia configurava-se como uma verdadeira coqueluche na região, assim como no resto do Brasil.

Rua Major Facundo 


Paço Municipal

Desde o final do século XIX a Capital contava com alguns estúdios fotográficos – Lopes Brandão e Reckly em 1872, o dinamarquês Niels Olsen, a partir de 1895, Moura Quineau e M. Mello, de 1899 em diante.  
O Álbum sobre Fortaleza-1908, nesta linha, combinava duas formas de sedução:  cidade, no auge de sua formosura, e a fotografia, um dos mais fascinantes produto da era moderna. Para uma sociedade urbana que então disseminava e incorporava valores como beleza, conforto, trabalho e saúde, a fotografia caiu como uma luva para consagrar em imagens duradouras, os melhores momentos da instauração de uma racionalidade urbana assentada no culto do belo, forte e saudável.
Na virada do século XX, a partir de 1902 teve início a remodelação das praças mais centrais, e em 1930, Fortaleza conheceu sua fase de maior esplendor em termos de uniformidade urbana. Depois dos anos 30, a  Capital passou a crescer desordenadamente, sem planos urbanísticos capazes de fornecer soluções racionais, mas com uma voraz especulação imobiliária que lhe foi destruindo o harmonioso perfil arquitetônico que ostentava anteriormente.

prédio do Liceu na Praça dos Voluntários


Café Java, na Praça do Ferreira

A cidade hoje se encontra inchada, com a maioria do seu patrimônio histórico destruído ou em estado de abandono, centenas de favelas e conjuntos habitacionais, além de arranha-céus, fachadas e monumentos urbanos de gosto duvidoso. No começo deste século, ao contrário, ela apresentava uma feição arquitetônica urbanística que se equilibrava bem entre singela arquitetura geral e deslumbrantes fachadas em algumas construções. As fotografias da época e o próprio álbum fotográfico de 1908 reforçam essa constatação, revelando um conjunto harmonioso em linhas e formas. As imagens insinuam que a Capital do Ceará tinha um estilo inteiramente agradável à visão, composição estética esta complementada pela predominância do uso de paletós, chapéus, vestidos longos e sombrinhas, neles prevalecendo os tons claros compatíveis com a intensa luminosidade solar, que banha a cidade o ano inteiro.


Passeio Público

A conformação estética que marcou a aparência de Fortaleza foi sendo construída aos poucos, tornando-se mais visível na segunda metade do século XIX, a partir do “boom” da exportação algodoeira em 1860. A partir dali, a cidade conheceu um inédito crescimento econômico e social. A concentração e acumulação de capitais em Fortaleza,  reforçou a constituição de grupos e estrangeiros ligados aos negócios de exportação-importação, conferindo-lhe grande poderio material e considerável prestígio político.

fotos do Álbum de Vistas do Ceará-1908
Arquivo Nirez
Extraído do livro de Sebastião Rogério Ponte
Fortaleza Belle Epoque – reformas urbanas e controle social – 1860-1930

Nenhum comentário: