Casa Boris de Boris Frères e Cia. responsável pela publicação do Álbum de Vistas do Ceará-1908
Escritório da Estrada de Ferro Baturité
O Álbum de Vistas do Ceará, de 1908, editado pela Casa Boris
Frères e Cia, a mais poderosa das firmas estrangeiras no Ceará, e impresso na
França, significava formalmente uma homenagem à capital, um reconhecimento à
sua beleza e ao seu desenvolvimento. Confeccionado na Europa por uma consagrada
companhia francesa e distribuído em vários lugares, o Álbum não deixava de ter
um desejo de divulgação de uma cidade que era, na leitura capitalista, um
próspero mercado urbano. Considerando que a fotografia – devido a sua extraordinária
capacidade de informação, vale por mil palavras – nada como divulgar Fortaleza
através do elogio das imagens fotográficas. A ideia foi ainda mais feliz porque
veio à luz no momento em que a fotografia configurava-se como uma verdadeira
coqueluche na região, assim como no resto do Brasil.
Rua Major Facundo
Desde o final do século XIX a Capital contava com alguns estúdios
fotográficos – Lopes Brandão e Reckly em 1872, o dinamarquês Niels Olsen, a
partir de 1895, Moura Quineau e M. Mello, de 1899 em diante.
O Álbum sobre Fortaleza-1908, nesta linha, combinava duas
formas de sedução: cidade, no auge de
sua formosura, e a fotografia, um dos mais fascinantes produto da era moderna. Para
uma sociedade urbana que então disseminava e incorporava valores como beleza, conforto,
trabalho e saúde, a fotografia caiu como uma luva para consagrar em imagens
duradouras, os melhores momentos da instauração de uma racionalidade urbana
assentada no culto do belo, forte e saudável.
Na virada do século XX, a partir de 1902 teve início a
remodelação das praças mais centrais, e em 1930, Fortaleza conheceu sua fase de
maior esplendor em termos de uniformidade urbana. Depois dos anos 30, a Capital passou a crescer desordenadamente,
sem planos urbanísticos capazes de fornecer soluções racionais, mas com uma
voraz especulação imobiliária que lhe foi destruindo o harmonioso perfil
arquitetônico que ostentava anteriormente.
prédio do Liceu na Praça dos Voluntários
A cidade hoje se encontra inchada, com a maioria do seu
patrimônio histórico destruído ou em estado de abandono, centenas de favelas e
conjuntos habitacionais, além de arranha-céus, fachadas e monumentos urbanos de
gosto duvidoso. No começo deste século, ao contrário, ela apresentava uma
feição arquitetônica urbanística que se equilibrava bem entre singela
arquitetura geral e deslumbrantes fachadas em algumas construções. As fotografias
da época e o próprio álbum fotográfico de 1908 reforçam essa constatação,
revelando um conjunto harmonioso em linhas e formas. As imagens insinuam que a
Capital do Ceará tinha um estilo inteiramente agradável à visão, composição
estética esta complementada pela predominância do uso de paletós, chapéus,
vestidos longos e sombrinhas, neles prevalecendo os tons claros compatíveis com
a intensa luminosidade solar, que banha a cidade o ano inteiro.
Passeio Público
A conformação estética que marcou a aparência de Fortaleza
foi sendo construída aos poucos, tornando-se mais visível na segunda metade do
século XIX, a partir do “boom” da exportação algodoeira em 1860. A partir dali,
a cidade conheceu um inédito crescimento econômico e social. A concentração e
acumulação de capitais em Fortaleza, reforçou a constituição de grupos e
estrangeiros ligados aos negócios de exportação-importação, conferindo-lhe
grande poderio material e considerável prestígio político.
fotos do Álbum de Vistas do Ceará-1908
Arquivo Nirez
Extraído do livro de Sebastião Rogério Ponte
Arquivo Nirez
Extraído do livro de Sebastião Rogério Ponte
Fortaleza
Belle Epoque – reformas urbanas e controle social – 1860-1930
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