A Construção do Cine São Luiz

 Praça do Ferreira com o prédio onde funcionou o Cine Polytheama no local onde hoje está o Edifício São Luiz

Em 1938 quando as picaretas começaram a ser utilizadas na demolição do velho Polytheama, começou a expectativa de como seria o edifício a ser erguido no local. Abrangia o projeto o quarteirão Polytheama, último reduto do cinema mudo na cidade, além de imóveis vizinhos, antigos estabelecimentos comerciais como a Casa Amadeu e a Casa Americana. Quase à sua frente, confrontando o Majestic, fora estabelecido um ponto de encontro de intelectuais e figuras ilustres da cidade a que se denominara “Banco da Opinião Pública”, ou simplesmente, “o Banco”. Seus membros foram espectadores privilegiados de uma longa história. Não era possível deixar de olhar para os prédios em demolição sem sonhar com o futuro edifício.

 Praça do Ferreira, ao fundo o prédio inacabado do São Luiz

As obras foram iniciadas em 1938, e por razões que nunca foram claramente explicadas, atravessa os anos 40 um prédio inacabado, que provoca a admiração e curiosidade popular. Havia a promessa renovada de breve inauguração. No início de 1940, o esperado Cine teatro São Luiz parecia bem próximo, pois o edifício erguia-se imponente, para orgulho dos fortalezenses.  Passam os inesquecíveis anos de guerra, com o centro da cidade e a praça do Ferreira ornamentada por um prédio erguido, mas inconcluso, a provocar as esperanças populares de um novo e moderno Cine Teatro. 

 Praça do Ferreira, em foto de 1953

Nos anos 50 dizia-se acerca do edifício, ainda fechado e periodicamente objeto de pequenos trabalhos  internos, que Luiz Severiano Ribeiro nunca o inaugurara porque uma cartomante previra sua morte logo após a abertura do novo cinema. Essa versão é contestada por pessoas de credibilidade, conhecedoras do empresário. A explicação para a demora na inauguração seria a opção feita pelo empresário em priorizar as atividades no Rio de Janeiro, sob forte pressão de concorrentes. 

 Fachada do São Luiz no dia da inauguração

Assim, um bom período transcorre até que a cidade recebesse o luxuoso presente. O Cine São Luiz seria teria sua inauguração solene a 26 de março de 1958, às 21h30min, apresentando a película Anastácia, a Princesa Esquecida. Para a imprensa e alguns convidados especiais, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro concedera o privilégio, dois dias antes da abertura oficial, de conhecerem o cinema, quando foi exibido o filme “Suplício de uma Saudade”.

O São Luiz impunha-se como um dos mais luxuosos do Brasil. Auditório com área total de 2.653m² e palco com recursos para teatro, acesso pelo imponente hall e escadarias para o balcão, realçados pelo piso e revestimento em mármore de Carrara, por lustres de cristal tchecos e ricos tapetes. 

A decoração lateral do salão executada pelos profissionais Osório Ferreira e Marcelino Guido Budini e a pintura ambiente pela firma Schaffer and Harvath. O cinema fora projetado pelo arquiteto cearense Humberto da Justa Menescal, com a participação de Humberto Monte, José Euclides Caracas e Oscar Dubeux Pinto.  No momento da inauguração, o São Luiz além de três gerentes e 55 empregados, dispunha  de 17 recepcionistas. Os frequentadores viam-se obrigados a trajes apropriados ao luxo do cinema, com obrigatoriedade do uso de paletós para os homens. os ingressos eram cobrados a 20 e 12 cruzeiros.

Em mensagem  distribuída em impresso no ato inaugural do São Luiz, disse Luiz Severiano Ribeiro:

Entregando o São Luiz ao público cearense, sinto-me feliz de ter podido realizar uma aspiração que sempre tive de dotar Fortaleza com uma casa de espetáculos à altura do seu progresso e do seu povo. O São Luiz está na vanguarda  dos melhores cinemas e com as mais modernas instalações, som e ar condicionado. Saudando o povo de minha terra, sentir-me-ei reconhecido se meus conterrâneos fizerem do São Luiz – o seu cinema.

Extraído do livro de Ary Bezerra Leite

A Tela Prateada
fotos antigas do Arquivo Nirez