Prédio onde ficavam os transmissores da Ceará Rádio Clube
Em
outubro de 1941 a Ceará Rádio Clube (PRE-9) mudou-se das Damas (Avenida João
Pessoa) para o Edifício Diogo e os transmissores foram para a Rua Senador
Pompeu esquina com uma rua de um só quarteirão, sem denominação. Depois de
vários anos lá, mudou-se, em 1960 para a Estância (hoje Dionísio Torres) e o
terreno dos transmissores foi vendidos. A rua sem denominação passou a
chamar-se Rua PRE-9.
Em fins da década de 1950, as noites domingueiras da Ceará
Rádio Clube (PRE-9) eram lideradas por alguns programas bastante populares e de forte audiência. Um
desses programas era intitulado Eles Fazem a Cidade, que fazia tanto sucesso
que não tinha hora para acabar.
Eles Fazem a Cidade buscava por tipos especiais, que por suas excentricidades, seu comportamento
exótico ou curioso, conquistavam espaço e popularidade no meio em que viviam.
Era o caso de Dalila, uma velhinha simpática que, por esclerose ou outra
patologia qualquer, dizia-se deputada estadual, frequentando normalmente as
sessões de Assembleia Legislativa, como se fosse dona de um mandato popular. Dalila
foi ao programa e falou por mais de uma hora sobre suas atividades políticas.
Edíficio Pajeú para aonde a PRE-9 mudou-se em 1949
Sucesso, porém, obteve José Teodorico, o célebre Dr.
Batérico, emérito contador de histórias fantásticas, todas produto de sua
fértil imaginação, a par de uma capacidade incomum de narrar com detalhes,
fatos que, em determinados momentos, chegavam a convencer. Noutros, as histórias eram tão absurdas, que
logo deixavam claro a arte que o Dr. Batérico exercia com raro talento: a de contar lorotas.
Figura conhecida, nascida na classe média das primeiras
décadas do século passado, Batérico era mecânico de velocimetros, proprietário
de uma oficina localizada na Rua Meton de Alencar, próxima a Faculdade de
Direito. Lembrando seus dias de artista do velho Centro Artístico da Avenida
Tristão Gonçalves, Batérico tocava piano no programa Coisas que o Tempo
Levou, comandado por José Limaverde.
os programas de auditório eram as maiores atrações das emissoras de rádio da época
Pianista de ouvido, capaz de executar com certa graça
algumas peças populares, a imaginação criadora de Batérico concebeu a história
de que, antes da Segunda Guerra Mundial, em andanças pela Europa (o mecânico/pianista
nunca saiu de Fortaleza), chegou à Roma
e fez amizade com o ditador fascista Benito Mussolini, a quem, assegurava, dera
aulas de piano.
Como especialista em mecânica automotiva, viu-se
transformado em mestre do volante, ensinando a ninguém menos do que a Francisco
Franco, o ditador espanhol. E foi amigo de Stalin, com quem costumava beber
cachaça, nas noites geladas de Moscou, em pleno Kremlin, cachaça levada do
Ceará, muito apreciada pelo líder russo.
Pontilhado de conversas assim, o programa com o Dr. Batérico
invadiu todos os horários, com os ouvintes lembrando por telefone, essa ou
aquela história famosa que já ouvira do pianista, como a do disco-voador que
sofreu uma pane em Fortaleza. Incrível – informava Batérico ao microfone – mas a
Base Aérea mandou chamá-lo em casa, com urgência e em absoluto sigilo, para
tirar a nave espacial do “prego”.
Os detalhes
eram simplesmente sensacionais. O tamanho gigantesco de uma chave de fenda de
que só ele dispunha; a altura dos tripulantes da nave que, para serem ouvidos,
exigiam a colocação de um cavalete para atingir a sua cabeça. Havia ainda uma “Luana”
(os tripulantes eram da Lua e não de Marte, eternos suspeitos dessas visitas intergalácticas),
de tamanho descomunal que, ao dar-lhe um beijo de agradecimento quando da conclusão
do trabalho, quase o esmaga com a força dos braços.
As risadas ecoavam por toda a Fortaleza naquela noite. Batérico
dominava a audiência num show de potocas inéditas e extremamente cômicas. Um
sucesso inesquecível.
extraído do livro de Blanchard Girão
"Sessão das Quatro" cenas e atores de um tempo mais feliz
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