O Palacete
Ceará é uma das obras mais representativas das primeiras décadas do século passado (1920), período em que ocorre grande transformação na aparência
arquitetônica da cidade. Foi autor do
projeto o arquiteto João Sabóia Barbosa. A edificação era de propriedade do Sr.
José Gentil Alves de Carvalho, tendo sido construída por Rodolpho F. da Silva e
Filho. (foto de Tarcísio Garcia)
As edificações remanescentes das décadas iniciais da história de Fortaleza – a maior parte delas localizadas no centro – se caracterizam por misturar elementos de vários estilos arquitetônicos como o neoclássico e o neogótico. Mas os traços retos da arquitetura moderna, começam a integrar a paisagem da cidade a partir dos anos 1960. O fim dos anos 50, início dos anos 60 marcam a chegada dos primeiros arquitetos com formação moderna, que iriam projetar os primeiros edifícios modernos da cidade.
Liberal de Castro foi o autor do projeto do Palácio do Progresso e
do Colégio Cearense; Neudson Braga criou o prédio do antigo Centro dos
Exportadores, caracterizado pelo painel em pastilhas do artista plástico Zenon Barreto;
Ivan Barreto assina o Clube de Regatas
da Barra do Ceará e a Residência Universitária da UFC, no Benfica.
foto Jornal O Povo
prédio construído pelo arquiteto Neudson Braga, para o antigo Centro dos Exportadores, mais tarde ocupado pelo Bancesa. Tem como caracteristica, o painel em pastilhas, trabalho do artista plástico Zenon Barreto.
O espaço
urbano de Fortaleza passa a ter um novo modelo de referência. Além de trazer o
traço de influência corbusiana para a cidade, o grupo de pioneiros permite a
consolidação de uma arquitetura fortalezense ao fundar o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), que passa a funcionar a partir
de 1965.
O edifício onde funcionou o Colégio Cearense foi um projeto de Liberal de Castro (foto do Arquivo Nirez)
Ivan Brito projetou o prédio do Clube de Regatas da Barra do Ceará (arquivo particular)
A “cultura do novo”, além de erguer novas edificações, representa uma ameaça ao patrimônio mais antigo. Ao mesmo tempo em que chega a arquitetura moderna, se intensifica a destruição do que já havia, porque o novo é o que é desejado. Um fato entrou para a memória da cidade, simbolizando esta destruição. No início da década de 1970, o Palácio do Plácido, mandado construir pelo comerciante Plácido de Carvalho como réplica de um castelo italiano, na Avenida Santos Dumont – onde hoje é a Praça Luiza Távora – foi demolido para a construção de um supermercado que nunca chegou a ser construído. Conhecido como “castelinho”, apesar de não ter relevância arquitetônica, por ser uma réplica, o edifício fazia parte da paisagem afetiva da cidade. Houve uma grita geral. Esse fato talvez tenha gerado o primeiro debate amplo acerca da importância da preservação do patrimônio.
A demolição do palácio do Plácido deu início ao debate acerca da destruição do patrimônio arquitetônico de Fortaleza (foto do Arquivo Nirez)
Os anos 70 além de trazerem a intensificação da destruição do patrimônio edificado, principalmente nas áreas de atuação da especulação imobiliária, marcam a verticalização da cidade, primordialmente na área leste.
O centro se esvazia cada vez mais, principalmente com a
saída do poder financeiro e do poder político – o Palácio do Governo e depois a
Assembleia Legislativa. Enquanto isso, na Aldeota, surge o Center Um, um marco
simbólico deste processo.
A saída do Centro de instâncias do poder, como o Governo do Estado e a Assembleia Legislativa, contribuiu para o esvaziamento da área. Hoje o Palácio da Luz, antiga sede do poder Estadual, é ocupado pela Academia Cearense de Letras, enquanto o Palacete Senador Alencar, que abrigava a Assembleia Legislativa, hoje é a sede do Museu do Ceará (fotos acervo do blog)
Seguindo a tendência nacional das políticas de financiamento à habitação, surgem os conjuntos habitacionais – hoje transformados em bairros – como o Conjunto Ceará e José Walter, entre tantos outros surgidos entre os anos 70 e 80. Não havia preocupação com o meio ambiente nem com a individualidade das pessoas. Era uma nova tentativa de isolar os indesejáveis, nas áreas periféricas, em espécies de cidades-dormitórios. Afastados do centro e forçando a expansão da infraestrutura urbana, como os serviços de água e luz, os conjuntos habitacionais também criam possibilidades de ocupação dos vazios urbanos entre eles os núcleos já habitados, espalhando ainda mais a cidade no mapa, e favorecendo, em muitos casos, a interesses de donos de terrenos que eram valorizados. A cidade começa a tomar jeitos de metrópole.
fonte:
Revista Fortaleza -A Formação urbana - fascículo 10 de 11 de junho de 2006
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