A partir da década de 1930, Fortaleza começou a crescer
desordenadamente, sem plano urbanístico que apontasse soluções convenientes,
para o surgimento de favelas, arranha-céus, destruição do perfil arquitetônico
anterior, aparecimento de fachadas e monumentos de gosto duvidoso, dentre
outras mazelas. Tais situações decorriam
dos interesses e devaneios das elites locais, da inoperância e omissão de
sucessivas gestões municipais, da especulação imobiliária e do grande abismo
social que separa ricos e pobres de Fortaleza.
Estima-se que a área da cidade, calculada em 6 km² no início
do século, passou para aproximadamente 40 km² (zonas urbana e suburbana) no
início da década de 1940. Nesse intervalo de tempo, o número de ruas, que era
de 61 passou para 150, enquanto que as 23 avenidas existentes em meados da
década de 1940, faziam a Fortaleza com seus três boulevards um arremedo de
cidade.
A partir da década de 1920, as familias de maior renda começaram a se mudar do centro, e as residências se tornaram estabelecimentos comerciais
Nesse período intensificou-se o abandono do centro da
capital pelos setores mais abastados, processo iniciado na década anterior – a
porção central foi assumindo cada vez mais as características de zona
comercial. A movimentação pública no centro (carros, lojas, oficinas, clubes),
a presença de excluídos ( desempregados, bêbados, loucos, crianças abandonadas,
prostitutas), e retirantes da seca, com seus inconvenientes (doenças, furtos,
assaltos, mendicância) levaram parte da
classe média e as elites a se deslocarem para outros pontos da cidade, fazendo
surgir os primeiros bairros nobres.
Ainda nos anos 1920, o Jacarecanga ganhou
essa condição – situado na zona oeste, não ficava distante do centro, o que
permitia ainda aos setores abastado terem acesso às opções de consumo e lazer
que, então, se concentravam na porção central da cidade.
Avenida Filomeno Gomes, no Jacarecanga
Nas proximidades da estrada do Jacarecanga, perto do riacho
homônimo, as elites comerciais e agrárias começaram a instalar grandes e
elegantes casarões, vários deles copiados de modelos europeus, a exemplo do
Palacete da família de Pedro Filomeno Gomes.
Para deleite dessa elite, em 1920, na primeira
gestão do Prefeito Álvaro Weine (1928-30), foi reformada a Praça Coronel
Teodorico (após 1965, Praça Capistrano de Abreu, mais conhecida como Praça da
Lagoinha), situada exatamente na entrada do refinado bairro e que virou local
de reunião e passeios das famílias residentes no Jacarecanga.
Com a reforma, a praça recebeu uma fonte luminosa colorida, a primeira a ser instalada em Fortaleza.
Em 1935 inaugurou-se no Jacarecanga a nova sede do prestigiado Liceu
do Ceará, na então Praça Fernandes Vieira, que depois de 1960 passou a ser
chamada oficialmente de Praça Gustavo Barroso, mas é popularmente conhecida por
Praça do Liceu.
Praça Capistrano de Abreu (Praça da Lagoinha) após a reforma de 1920
Com a reforma, a praça recebeu uma fonte luminosa colorida, a primeira a ser instalada em Fortaleza.
Prédio do Liceu, inaugurado em 1935, na Praça Gustavo Barroso
Nos anos 1930, as elites fortalezenses foram ocupando em
menor escala, a região do Benfica, e vencendo a barreira representada pelo
Riacho Pajeú, as áreas da Praia de Iracema e Aldeota, ao leste.
Avenida Visconde de Cauípe, no cruzamento com a Avenida 13 de Maio, Benfica
Na estrada de Arronches (Parangaba) numa área bastante arborizada e fértil, cujas fontes d’água ajudaram a abastecer Fortaleza até a seca de 1877-79, foi surgindo o que é hoje o bairro do Benfica, ainda no final do século XIX. Aos poucos, os setores dominantes foram se instalando, com suas chácaras, sobrados e bangalôs.
Nos anos 1930 o Benfica foi alvo de melhorias na gestão do
prefeito Álvaro Weine e consolidou-se como um dos locais mais elegantes da
cidade, atraindo os fortalezenses por seus bosques, praças, campo de futebol
(do Prado) e missa na Igreja dos Remédios.
Nos anos 1920 a antiga Praia do Peixe, até então ocupada por
humildes pescadores, começou a ser ocupada pela elite, predominando as casas de
veraneio. Aos poucos a visão negativa acerca do mar/litoral ia mudando.
Ficou famosa
a Vila Morena (Atual Estoril), construída para moradia da família Porto, no
começo daquela década, e que durante a 2ª.
Guerra Mundial (1939-1945) serviu de espaço de lazer para os soldados
americanos instalados em Fortaleza. Com a presença dos ricos, até o nome da
praia foi mudado em 1929 para Praia de Iracema (exatamente no ano em que se
comemorava o centenário de nascimento do escritor José de Alencar).
Nos anos 1930/40/50 os pescadores passaram a ser afastados da área, enquanto mais famílias chegavam, junto com os clubes (Ideal Clube, Praia Clube, Jangada Clube, Gruta Praia), bares/restaurantes (Ramon, Zero Hora) e hotéis (Pacajus, Iracema, Plaza).
A Aldeota – nome pelo qual ficou conhecida parte da antiga
região do Outeiro – também crescia como bairro residencial em torno da Avenida
Santos Dumont (antiga Rua do Colégio), mas ainda se limitando, mais ou menos,
ao final da linha dos bondes, entre as Ruas Silva Paulet e José Vilar. No
bairro fora erguido o famoso Castelo do Plácido Carvalho, rico comerciante que
teria construído a residência nos moldes de um castelo florentino, em homenagem
à esposa italiana.
Também eram referências no bairro, nos anos 1930, o Colégio Militar, a Igreja do Cristo-Rei e o Cine-teatro Santos Dumont. A partir dos anos 1940/50, a Aldeota tornou-se o bairro mais aristocrático de Fortaleza, com suas mansões e bangalôs, dando margem a muitas controvérsias sobre a origem rápida e duvidosa de alguns dos seus moradores, que buscavam residir longe do Centro, para escapar dos bisbilhoteiros e das autoridades. Setores médios, menos abastados, pequenos comerciantes e mesmo populares ocupavam ainda, áreas no sentido do interior, como as do entorno da Praça do Carmo, do início da Estrada do Arronches/Parangaba – nas imediações da Praça do Encanamento (Clóvis Beviláqua), começo da atual Avenida da Universidade, da Estrada do Soure/ Bezerra de Menezes (bairro Farias Brito ou Otávio Bonfim) e da Estrada de Messejana/Visconde do Rio Branco. Para o sudeste da cidade, no entorno do Boulevard/Estrada de Aquiraz, igualmente se concentrariam residências, dando origem ao bairro Joaquim Távora.
A cidade
também se expandia no chamado Outeiro da Prainha, onde já havia um seminário
desde 1864, um teatro (São José), fundado em 1915 e o monumento do Cristo
Redentor, na antiga Praça da Conceição
(atual Praça do Cristo Redentor), inaugurado em 1922 para comemorar o
centenário da Independência do Brasil. O bairro mais distante do centro era o Alagadiço,
atual São Gerardo, nas proximidades da estrada do Soure e onde havia uma lagoa
que inundava áreas próximas, daí o antigo nome do bairro. Percebe-se que o crescimento urbano aconteceu, sobretudo, ao
longo dos antigos caminhos que davam acesso a cidade, ficando as áreas entre
eles praticamente vazias. Parangaba, Barro Vermelho (Antônio Bezerra) e
Messejana eram tidos como zonas rurais do município de Fortaleza. Na área do
Arraial Santa Luzia do Cocó, os moradores viviam da agricultura.
A Barra do
Ceará, apesar de suas belezas naturais, também era considerada muito distante
do centro de Fortaleza – ali funcionava um hidroporto para atender aos viajantes
privilegiados, capazes de assumir os gastos de uma passagem aérea. Com o passar
do tempo, a região foi cada vez mais ocupada por pobres, quase que numa
extensão do Pirambu.
Orla Marítima da Praia de Iracema 1930
Nos anos 1930/40/50 os pescadores passaram a ser afastados da área, enquanto mais famílias chegavam, junto com os clubes (Ideal Clube, Praia Clube, Jangada Clube, Gruta Praia), bares/restaurantes (Ramon, Zero Hora) e hotéis (Pacajus, Iracema, Plaza).
Hotel Iracema Plaza, hoje abandonado
O Palácio do Plácido foi demolido em 1974, para a construção de um supermercado da rede Romcy. O terreno, porém ficou abandonado por anos, e acabou sendo desapropriado pelo governo do Estado para a construção da Central de Artesanato Luiza Távora
Também eram referências no bairro, nos anos 1930, o Colégio Militar, a Igreja do Cristo-Rei e o Cine-teatro Santos Dumont. A partir dos anos 1940/50, a Aldeota tornou-se o bairro mais aristocrático de Fortaleza, com suas mansões e bangalôs, dando margem a muitas controvérsias sobre a origem rápida e duvidosa de alguns dos seus moradores, que buscavam residir longe do Centro, para escapar dos bisbilhoteiros e das autoridades. Setores médios, menos abastados, pequenos comerciantes e mesmo populares ocupavam ainda, áreas no sentido do interior, como as do entorno da Praça do Carmo, do início da Estrada do Arronches/Parangaba – nas imediações da Praça do Encanamento (Clóvis Beviláqua), começo da atual Avenida da Universidade, da Estrada do Soure/ Bezerra de Menezes (bairro Farias Brito ou Otávio Bonfim) e da Estrada de Messejana/Visconde do Rio Branco. Para o sudeste da cidade, no entorno do Boulevard/Estrada de Aquiraz, igualmente se concentrariam residências, dando origem ao bairro Joaquim Távora.
Torre do Cristo Redentor, na Praça do mesmo nome
Hidroavião na Barra do Ceará em 1930
fotos do Arquivo Nirez
extraído do livro de Artur Bruno e Aírton de Farias
Fortaleza, uma breve história
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