domingo, 25 de setembro de 2011

Saneamento e Higienização Social do Corpo

As primeiras intervenções médico-urbanas em Fortaleza surgiram por volta de 1850, e foram intensificadas no início no século XX. Enquanto engenheiros e urbanistas cuidavam da aparência da  cidade, médicos formados no Rio de Janeiro e na Bahia, cuidavam do corpo social. 

Consta que no século XIX, 80 médicos cearenses foram diplomados por aquelas faculdades de medicina, sendo que destes, cerca de 30, se estabeleceram na província. Nesse tempo, o médico praticamente fazia parte da família, os cuidados eram feitos nas casas dos doentes.

O médico vinha a cavalo, apeava, alguém tomava conta do animal, e o doutor ia participar dos assuntos da família. Os médicos tinham seus consultórios junto às farmácias. E os farmacêuticos usavam os consultórios deles para fazer curativos.

 Para controlar o charlatanismo no âmbito da saúde, o governo ameaçava multar proprietários de boticas que não tivessem licença ou que vendessem medicamentos não autorizados.

Ar e água preocupavam os gestores. As cacimbas dos quintais das residências e os chafarizes dos locais públicos viraram objeto de preocupação, e se tornaram questões de saúde pública. Por receio de contaminação do solo e do lençol aquífero, a medicina aconselhava o uso de água fervida e condenava o hábito de se jogar lixo próximo aos poços.

As mazelas eram debeladas com receitas formuladas pela sabedoria popular: garrafas de extrato de fígado, do Sombra farmacêutico, era um clássico. Todo quintal tinha chá: cidreira, capim santo, quebra-pedra. 

Quando os remédios caseiros não resolviam, sempre havia as novidades francesas, vindas pelos vapores: cigarros contra asma, pílulas contra as doenças de pele, curando impinges, o lichen, a eczema, o prurido, a lepra, a comichão e assemelhados. Havia ainda os medicamentos de Grimault & Cia. Manipulados por farmacêuticos.


A população pobre – tida como indolente, e propensa ao vício e à vadiagem pelas autoridades – era o alvo principal da medicina urbana e dos discursos governamentais. Na década de 1880 inauguram-se escolas na Cadeia Pública e o casamento entre amasiados é praticamente obrigatório. São idealizados o Asilo de Alienados São Vicente de Paulo e o Asilo de Mendicidade. 

No século XX surge a vacinação obrigatória e a inspeção de domicílios. Alguns moradores recebem intimações por falta de limpeza nos quintais, remoção de lixo e por criação de animais nocivos à saúde. Desconfiada daqueles procedimentos, a população escapa como pode, negando-se a a receber vacina, driblando normas, valendo-se do escárnio, do riso e da vaia.

A moléstia que mais aterrizou a capital - a Varíola - permaneceu endêmica até 1904, quando finalmente foi eliminada por ação da Inspetoria de Higiene,e principalmente, pelo farmacêutico Rodolfo Teófilo. 

Os pouquíssimos médicos do século XIX eram considerados heróis. Deparavam-se com secas e epidemias, usando como recursos sanguessugas e unguentos. De 1850 a 1860 ressaltam-se os feitos dos médicos José Lourenço de Castro e Silva e Liberato de Castro Carrera. O primeiro, denominado médico da pobreza, recomendou a mudança do matadouro público, a proibição do salgamento de couros em vias centrais, a eliminação das águas paradas em quintais, e a não criação de porcos nos limites do perímetro urbano. 

As normas de higiene recomendadas pelos médicos, eram passadas à população na forma de lei, conforme consta do Código de Posturas do Municipio de Fortaleza, de 1891.

Artigo 109 - É prohibido:

& 1° - é ter cães soltos nas ruas da cidade;
& 2° - crear ou conservar gado dentro do perímetro urbano;
& 3° - soltar nas ruas e praças da cidade, animal vaccum, cavallar, muar, ovino e caprino.  

 As recomendações foram reforçadas por Castro Carrera, que insistia na limpeza de becos, ruas, travessas, chafarizes e poços, além das inspeções constantes e rotineiras a todo e qualquer quintal. 

 A Santa Casa da misericórdia foi o primeiro hospital de Fortaleza

Nessa época foi inaugurado o primeiro hospital público de Fortaleza, único até a década de 1930 – a Santa Casa da Misericórdia, em 1861 – que acolhia portadores de doenças não contagiosas. Para estes reservava-se o Lazareto da Lagoa Funda, inaugurado em 1857, numa área remota, sete quilômetros depois da cidade.


Fonte:
Revista Fortaleza, fascículo 9.  
imagem Rodolfo Teófilo do livro Fortaleza Belle Epoque

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