Nos distantes anos 1950, Fortaleza tinha Carnaval, que acontecia nas ruas, nos clubes e até em residências. O período momino era respeitado e a folia tinha prazo definido: do domingo à terça-feira. O Sábado gordo era a grande véspera, quando todos ultimavam as fantasias, conferiam o estoque de lança-perfumes, de serpentinas e confetes e se concentravam para a grande festa.
Clube Náutico em foto de 1952 (arquivo Nirez)
No domingo havia baile em todos os clubes, exceto o Country que promovia o baile da 2ª. Feira. Apesar do grande número de festas naquele primeiro dia, a animação era absoluta. Aconteciam bailes no Náutico, Diários, Iracema, Maguary, Líbano, Comercial, Circulo Militar, e Centro Massapeense. A 2ª Feira era exclusiva do Country Clube, sendo aquele o único baile da noite.
Clube Líbano, palco de grandes bailes carnavalescos (arquivo Nirez)
Na 3ª feira, despedida do carnaval, todos os clubes voltavam a receber os foliões, em bailes que se prolongavam até o amanhecer.
Mas para a maioria das pessoas, o melhor do carnaval acontecia nas ruas do centro de Fortaleza. A Rua Senador Pompeu era a passarela por onde passavam blocos, cordões e maracatus. As fantasias usadas pelos populares eram improvisadas e bastante criativas. É que naquela época a concepção de carnaval era diferente do hoje, e para os foliões, o importante era fazer a caricatura, fazer deboche de pessoas e fatos, especialmente de figuras da política e da administração pública.
O Bloco Prova de Fogo foi fundado em 1936 (arquivo Nirez)
Tudo começava cedo, a partir das duas da tarde, quando o público começava a encher as calçadas da Rua Senador Pompeu. Como não havia um planejamento, nenhum regulamento a ser cumprido, maracatus, blocos, cordões e blocos de sujos, se misturavam, quem chegava ia entrando e fazendo sua apresentação.
Por outro lado os grupos desfilavam à vontade, passavam duas, até três vezes, o importante era satisfazer o público e receber os aplausos. A Rua Senador Pompeu, quase totalmente residencial, permitia que seus moradores abrissem suas janelas e sacadas que funcionavam como camarotes.
Blocos Turma Bamba e Cordão das Coca-Colas, desfile de 1950 (arquivo Nirez)
Os sargentos da Base Aérea inventaram o Cordão das Coca-Colas, parodiando as moças que namoravam os americanos no tempo da 2ª. Guerra. Outras turmas de marmanjos fundaram o Bloco das Baianas, as Garotas do Sputinik, as Garotas da Pepsi, Turma do Camarão, Turma Bamba, Prova de Fogo, Escola de Samba Luiz Assunção e os Maracatus Leão Coroado, Estrela Brilhante, Az de Ouro, Reis de Paus, Rancho de Iracema e o maior e mais rico de todos, o Maracatu Az de Espadas.
Bloco "Enverga mas não quebra" e o maracatu, desfile de 1950 (arquivo Nirez)
Na Avenida Duque de Caxias passava o corso de automóveis, que ficava reduzido às famílias mais abastadas, porque naquele tempo, possuir automóvel era privilégio de poucos. O casal e as crianças ocupavam o interior do veículo, enquanto rapazes e moças, com suas fantasias, ocupavam a capota e os paralamas dos veículos, todos ostentando suas Rodouro, às vezes um em cada mão enluvada.
Outra particularidade dos velhos carnavais eram os assaltos às residências. Um grupo de mascarados, disfarçando a voz para não serem reconhecidos, invadia a residência de pessoas conhecidas e forçavam a todos a entrar na folia. Os anfitriões, pegos de surpresa, serviam comidas e bebidas e também brincavam. Só vinham saber quem eram os visitantes depois do Carnaval. Em alguns casos, nunca viriam a saber.
E assim era o Carnaval daqueles tempos. Três dias que eram suficientes para que todos se divertissem numa perfeita ordem e genuína democracia.
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O lança-perfume foi a grande invenção do Carnaval Brasileiro. Surgido em 1906 no Rio de Janeiro, logo veio dar uma aura toda especial às festas de momo de norte e sul do Brasil. Apareceu com grande publicidade, sendo distribuído em três apresentações — dez, trinta e sessenta gramas.
Fabricadas pela Rodo Suíça, aquelas ampolas de cloreto de etila, éter, clorofórmio e essência especialmente perfumada, animaram os nossos carnavais até 1961, quando tiveram a sua produção proibida por decreto do presidente Jânio Quadros.
extraído do livro de Marciano Lopes
5 comentários:
Do carnaval de rua não posso falar mas
o que acontecia nos clubes era maravilhoso.Grupos de amigos se reuniam em blocos e circulavam pelos clubes da cidade e dançavam e pulavam ao som de músicas alegres.Não havia a distribuição de camisinhas porque as pessoas íam era dançar e pular o carnaval,sem a permissividade vulgar nem o uso sem sentido de drogas.O carnaval que conheci,nem tão antigo assim,era pura alegria.
Conversando um dia com minha vizinha, ela contava que costumava frequentar as festas do maguary, que terminavam no inicio da madrugada (as tertulias).Voltavam ela e o irmão, a pé, do Benfica para o bairro S.Gerardo. Nunca, jamais foram incomodados ou importunados por quem quer que seja.As pessoas que encontravam, também vinham ou iam para algum lugar, nada de vagabundos, ladrões ou desocupados. Fico me perguntando em que altura do caminho essa Fortaleza se perdeu.
Diferente do Anônimo, nunca brinquei no carnaval de clubes, mas não perdia um carnaval de rua, morando perto do centro..À noite, em casas de família, à moda das tertúlias,brincava-se ao som das velhas marchinhas e frevos.
Doces, saudáveis e inocentes festas carnavalescas...quando as "trilhas" de Fortaleza ainda eram limpas e iluminadas...Até os 1960 e poucos,a Bela Menina-Moça, ainda não se perdera...Fátima!!!
bons tempos, né Lúcia
abs
Nossa querida Escola de samba Império Ideal ex Turma do camarão estará completando setenta anos em 6/2/2019 e iremos fazer grande comemoração no dia 8/2/2019 no Mirante do Mucuripe. Iremos desfilar na Domingos Olimpio dia 5/3/2019 às 22hs.Todos convidados
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