domingo, 4 de setembro de 2011

O Comércio de Votos no Abrigo Central

As vésperas das eleições de 1954, o comércio de votos corria solto no Abrigo Central, na Praça do Ferreira. Os candidatos, homens de negócios enriquecidos durante a guerra graças ao câmbio negro e ao contrabando,  pretendiam agora ingressar na política, a fim de legalizar negócios mal explicados, queriam ser políticos. 


Na verdade não tinham eleitores, mas tinham dinheiro para compra-los. E o Abrigo Central via-se de uma para outra, transformado  em bolsa de valores eleitorais, com os compradores de votos arrematando para os senhores do câmbio negro e dos contrabandistas os currais eleitorais dos chefes matutos. Negociar com eleitores tornara-se mais lucrativo do que negociar com mercadorias, como gado ou algodão.

Um dia chega ao Abrigo um maluco se dizendo prefeito e dono de currais eleitorais em cima da Serra de Baturité. Procurava compradores. Logo surgiram gaiatos para explorar o forasteiro, apresentando-se como se fossem cabos eleitorais de políticos conhecidos da época, como Carlos Jereissati, Horácio Pereira, Furtado Leite e dos irmãos Pinheiro Maia, os principais investidores no mercado de compra e venda de votos. 


As propostas do ofertante começaram altas, cabendo aos arrematadores diminuí-las gradativamente. Por fim o prefeito acabava entregando seus currais eleitorais em troca de pastéis e refrescos do Pedão da Bananada ou de modestas refeições no Tetéu.  Na hora de assinar o comprovante da transação, ele se esquivava. Era de fato analfabeto e deixava como garantia a palavra dada.

Através da figura do maluco, divertiam-se os críticos do coronelismo, ao mesmo tempo em que procuravam ridicularizar os edis interioranos, useiros e vezeiros em toda sorte de conchavos.  
modelos de urnas eleitorais utilizadas no Brasil na década de 1950 (arquivo Uol)
Passada a eleição, os milionários contraventores estavam todos eleitos, para vergonha e prejuízo do povo cearense. Os coronéis haviam cumprido com a palavra, despejando-lhes os votos vendidos, votos de cabresto arrancados do eleitorado dependente e despolitizado do sertão e da capital.   

Não havia muito que esperar desses parlamentares, que tudo que desejavam eram as imunidades de congressistas para o acobertamento de suas negociatas.  Através de um instituto de Previdência Armando Falcão, buscavam eleger-se deputado federal usando o Congresso para alcançar altos postos.  

Dentre os eleitos, um certo Cincinato Furtado Leite, a quem coube inaugurar a mais longa e inútil das legislaturas. Mais de 30 anos de silêncio e inatividade parlamentar.

fotos antigas Arquivo Nirez
Extraído do livro de Alberto S. Galeno

2 comentários:

Ana Luz disse...

Esta última parte é bem atual pois conchavos e enganações fazem parte das campanhas eleitorais com o nosso pobre e analfabeto povo que continua acreditando nas pessoas erradas,a julgar pelos nossos atuais dirigentes.

Fátima Garcia disse...

resumindo: tudo como dantes no quartel de abrantes.
abs Ana Luz