Às oito horas da manhã do dia 25 de março de 1884, uma salva de tiros do 11° Batalhão e da Força Policial anunciou à população de Fortaleza o início das comemorações alusivas à libertação total dos escravos no Ceará. Uma data, ansiosamente aguardada pelos que lutaram contra o tráfico de escravos na província, sofrendo em represália, perseguições políticas e demissões de cargos públicos. Defronte ao grande pavilhão instalado na atual Praça Castro Carreira, o povo começou a se reunir para a sessão solene que marcaria a história do Ceará.
Sociedade Cearense Libertadora abolicionista, composta por Isaac Amaral, Papi Junior, William Ayres, João Cordeiro, Antonio Bezerra, Dragão do Mar, Alfredo salgado, Oliveira Paiva, João Lopes, José Amaral e Antônio Martins - 1880 (arquivo Nirez)
Ao meio-dia, chegaram o arcebispo D. Luiz dos Santos, o bispo diocesano D. Joaquim, o governador Sátiro de Oliveira Dias ago/1883 a mai/1884), representantes de outros países e de municípios que libertaram seus escravos. Diante do público, estimado entre três e quatro mil pessoas, foi executado o Hino da Redenção, cantado por artistas locais. Sátiro de Oliveira Dias abriu a sessão, destacando a importância do evento e finalizando com a histórica declaração: A província do Ceará não possui mais escravos.
Segundo o Jornal Cearense, em edição de 29 de março de 1884, logo após o inflamado discurso de Sátiro de Oliveira, foi acionada a linha telefônica entre a praça e a fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. E aos aplausos do povo uniram-se as salvas de artilharia, as descargas da guarda de honra do 11° Batalhão de Infantaria e girândolas de foguetes de todos os pontos da cidade. Depois foram proferidos mais discursos e poesias, sempre ruidosamente aplaudidos.
Os jornais divulgavam as boas e más noticiais. Defendiam ideias liberais e conservadoras
Segundo o Jornal Cearense, em edição de 29 de março de 1884, logo após o inflamado discurso de Sátiro de Oliveira, foi acionada a linha telefônica entre a praça e a fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. E aos aplausos do povo uniram-se as salvas de artilharia, as descargas da guarda de honra do 11° Batalhão de Infantaria e girândolas de foguetes de todos os pontos da cidade. Depois foram proferidos mais discursos e poesias, sempre ruidosamente aplaudidos.
Entre os oradores, representantes de instituições abolicionistas e governamentais, como Antônio Martins (Sociedade Perseverança e Porvir) Maria Tomásia (Cearenses Libertadoras), Gonçalo de Lagos (Jornal Constituição), Lassance Cunha (Província do Rio de janeiro), Guilherme Studart (consulado inglês).
Falaram ainda João Lopes Ferreira Filho, representante da Abolicionista Cearense da Corte, Antonieta Gurgel representante do município de Messejana. Antônio Bezerra, Sousa Melo e Francisca Clotilde recitaram poemas, encerrando às 15h30m a série de discursos.
O presidente da província e o bispo diocesano assinaram a ata da sessão, duas penas de ouro, em nome de todos os membros da Sociedade Libertadora. Em seguida, o povo gritou vivas a Sátiro de Oliveira Dias, ao Imperador, a Constituição do Império e à província do Ceará, em passeata até o Palácio do Governo. A festa comemorativa não parou no dia 25 de março. Nos dias seguintes ainda foram realizadas passeatas e outras manifestações cívicas.
A repercussão do acontecimento foi imediata em todo o País, contribuindo para ampliar a causa abolicionista, apesar da oposição de latifundiários e comerciantes escravocratas. O exemplo do Ceará, promovendo, por iniciativa particular, a abolição do trabalho escravo, foi seguido apenas pela província do Amazonas, porquanto os demais só conseguiram libertar-se da aviltante instituição em virtude do decreto da Princesa Isabel, a Redentora, assinado a 13 de maio de 1888, que extinguiu a escravidão no Brasil.
Em Conferência no Congresso Antiescravista de Paris, em 1900, Joaquim Nabuco destacou a importância da luta cearense e o significado para a própria abolição em todo o País, recordando alguns fatos históricos. Lembrou que os escravos do Norte eram exportados em massa para o Sul, onde os preços eram maiores. No Ceará, para chegarem a bordo dos paquetes onde seriam embarcados, tinham que ser transportados em jangadas. Movidos pelos abolicionistas, os jangadeiros, com Francisco José do Nascimento - o Dragão do Mar - à frente, negavam-se a transportar a carga humana.
Francisco Nascimento, conhecido como Dragão do Mar, teve papel relevante na abolição da escravidão no Ceará
A libertação dos escravos no Ceará foi resultado da ação de várias sociedades dedicadas à extinção do tráfico de negros. Algumas delas promoviam até furtos de escravos. A rejeição a este comércio teve maior ênfase a partir da grande seca de 1877-1879, quando fazendeiros foram à falência e tiveram que comercializar os escravos.
O número de escravos no Ceará era bastante reduzido em comparação com outras províncias do Império, sobretudo aquelas que exploravam o cultivo da cana de açúcar e do café, que ocupavam grandes latifúndios rurais.
Tratados – em alguns casos – sem o excessivo rigor de que eram vítimas seus irmãos de cativeiro nos latifúndios do sul, viviam na sua humilhante e triste condição na província cearense, quando a grande seca iniciada em 1877, e perdurou três anos, veio dar nova fisionomia ao problema.
trabalho escravo em uma fazenda de cana de açucar em Pernambuco
O alto preço do café, produzido no sul, onde faltavam braços para o trabalho, e a falta de trabalho no Nordeste, propiciou o surgimento de novos corretores que se entregaram ao comércio de escravos, incrementando o negócio no Ceará.
Tal ato provocou a revolta da população, que incentivada pelos abolicionistas, resultou num movimento emancipador iniciado em Fortaleza desde 1879, quando foi fundada a Sociedade Perseverança e Porvir.
Extraído dos livros
de Rogaciano Leite Filho e Nélson Campos
3 comentários:
Parabéns, Fátima pela postagem e pelo blog como um todo. Adoro história, principalmente a nossa, já estou te seguindo. Abraços!
Me chamo Raoni Maciel e agradeço pela página e toda a pesquisa aqui exposta. Parabéns pelo trabalho Fátima@ Que Clio a guie na sua busca por mais e mais documentos históricos.
Incrível a data de acesso da Ana Luiza Chaves ter sido em 25 de março, e a minha, Raoni Maciel, ser 23 de março. Isso mostra que estudar nossa história local é atemporal. Abraços para as duas: Fátima Garcia e Ana Luiza
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