domingo, 26 de junho de 2011

O Manezinho do Bispo

Manoel Cavalcante Rocha, jocosamente conhecido pela alcunha de Manezinho do Bispo, pernambucano, nascido em 12 de maio de 1856, porteiro por muitos anos do Palácio Episcopal, foi uma das figuras mais curiosas e populares da Fortaleza antiga.
Manezinho aparecia em público sempre trajando um surrado paletó de alpaca, cuja cor o tempo se encarregara de transformar até se tornar indefinida, exibindo á mostra os punhos brancos da camisa. 

antigo Palácio Episcopal, hoje Paço Municipal (arquivo Nirez)

Sob o chapéu ensebado , os cabelos brancos e lisos e sob a barbicha, se escondia uma minúscula gravata preta de laço preto. Debaixo do braço carregava sempre um maço de jornais velhos e, transbordando dos bolsos largos, os opúsculos dos seus Pensamentos. Manezinho do Bispo colaborava quase diariamente na seção ineditoriais do Jornal Correio do Ceará, depois reunia em opúsculos os seus apreciados pensamentos, que eram decorados por muita  gente. 
Muitas vezes, alta noite, o grande pensador levantava-se bruscamente da cama, e ia para a mesa de trabalho registrar alguma ideia que lhe parecera genial. No dia seguinte a ideia genial passaria á história jocosa do Ceará e seria motivo de comentários na Praça do Ferreira, à leitura do jornal Correio do Ceará.
De suas obras a que causou maior sucesso foi um folheto cujo título era M.C. Rocha – Biografia de sua ex-mãe  (ex-mãe porque já havia falecido) e subtítulo: acompanhada de um passa-tempo.
Também publicou um folheto intitulado Astronomia Popular, no qual dava noções dessa ciência. Na opinião de Otacílio de Azevedo, coisa mais estapafúrdia dificilmente seria encontrada
 Eis alguns dos originais pensamentos do Manezinho do Bispo, que fizeram época e o transformaram em motivo de chacota na cidade. 

Manezinho do Bispo 

Se o mar fosse insosso, seria desengraçado e nós não teríamos o bondoso sal com que temperamos as comidas.

O Passeio Público é um aprazível lugar para quem vai ali com boas intenções.

Amar sem ser amado e correr atrás de um trem e perder

O bacharel pobre que casa com moça pobre dá um tiro com a pistola do passado nos miolos do futuro.

Quem não quiser quebrar as pernas não suba em pau

Quem tem recurso e não socorre a sua pátria, é como bocório que anda pelas calçadas comendo banana com rapadura.

Gostaria de ser como as borboletas: as borboletas voam e eu não voo.

Todo homem ou mulher vaidoso ou dosa deve cuidar do asseio interno.

Manezinho não era especialista apenas em frases, às vezes em matérias de versos saíam de sua pena, coisas desta ordem:
Minha pátria, minha pátria,
querida terra brasileira
por ti dou eu
uma grande carreira.

Conta-se que o bispo D. Joaquim, aborrecido com a grande papelada que enchia o quarto do Manezinho, no Palácio Episcopal, chamou-o um dia e disse que queimasse aqueles folhetos. Manezinho saiu para a rua e queimou-os, vendendo pela metade do preço.

Fonte:
Raimundo de Menezes e Otacílio de Azevedo  

2 comentários:

Leila Nobre disse...

O novo templante do blog ficou lindo!
Parabéns!

Fátima Garcia disse...

obrigada Leila.