quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fortaleza anos 40 – A Cidade se Diverte


Embora houvesse poucas opções, viver em Fortaleza representava dispor de um espaço que oferecia lazer e diversão. Nos anos 1930/40 o banho de mar começou a ser apreciado e difundido largamente, embora o uso de calções e maiôs fosse desaprovado e sofresse sérias restrições por parte da igreja.

O cinema era outra atração, havendo várias salas de projeção nos bairros mais longes do centro. Os mais famosos eram o Majestic e o Diogo. Na década de 1950, surgiu o maior e mais luxuoso, o São Luís. Para se ter acesso a estes cinemas, era preciso estar bem trajado, os homens de paletó, as mulheres com vestidos finos, luvas e chapéus. 

Cine Joaquim Távora, um dos "poeiras", como eram chamados os cinemas de bairro. Ficava na Avenida Visconde do Rio Branco, 2406 (arquivo Nirez)  

Conta-se que o famoso cineasta Orson Welles, quando de sua passagem por Fortaleza, foi barrado no Diogo, por não estar convenientemente vestido de paletó. Na famosa sessão das quatro, no Diogo, aos Domingos, estava a "nata" da juventude. Os filmes, na maioria de origem americana, continuavam a influenciar o comportamento das pessoas e a difundir o american way life.

Fundado em 30 de novembro de 1932 com o nome de Liga Massapeense, depois denominado Centro Massapeense. Estava localizado na esquina da Avenida Aquidaban (hoje Historiador Raimundo Girão) com a Rua Barão de Aracati, na Praia de Iracema (arquivo Nirez) 
  
A cidade contava com  clubes refinados para as classes abastadas, como o Náutico, o Ideal (o único com piscina) o Líbano, os Diários e outros, onde ocorriam suntuosas festas, tertúlias e bailes carnavalescos com orquestra. Os clubes favoreciam a transmissão de valores e o relacionamento social, namoros e casamentos entre as classes alta e média.

Olhar vitrines tornou-se um lazer para as elites, o consumismo era cada vez maior, as pessoas estavam sempre procurando adquirir as novidades, que mostravam seu poder econômico e o ingresso na modernidade. 

Anúncio da Loja Irmãos Pinto, que funcionava na Rua Major Facundo, publicado no jornal Correio do Ceará

Os jornais anunciavam os últimos modelos de eletrodomésticos, que ajudavam as donas de casas nos afazeres domésticos. Ser feliz, era consumir e ostentar.  Considerava-se um glamour aparecer nas colunas sociais dos jornais, a ponto dos colunistas ganharem uma importância equivalente a de uma autoridade, além de prestígio político.

Estádio Presidente Vargas quando existiam apenas duas cabines de rádio, a Ceará Rádio Clube e a Rádio Iracema - final da década de 1940 (arquivo Nirez)

O futebol atraía multidões masculinas para o Estádio Presidente Vargas, onde eram disputadas animadas partidas. Além do futebol o povo sentia-se atraído por festas religiosas e procissões. O carnaval era severamente vigiado e controlado pelas autoridades, tornando-o ainda mais minguado. Apenas nos clubes havia bailes carnavalescos mais animados e menos vigiados. 

Cronista Social Robert de Singerie (foto do livro Os Anos Dourados, de Marciano Lopes)

Os moradores ainda se reuniam em rodas de cadeiras nas calçadas nos finais de tarde, mas o costume já começava a rarear. Condenavam-se os namoros obscenos, o vício do álcool, a leitura de revistas e livros indecentes. A vigilância conservadora atingia igualmente os concorridos programas de auditório nas emissoras de rádio – em 1948 surgiu a Rádio Iracema, concorrente da até então única emissora, a PRE-9. O rádio reinava como meio de comunicação e lazer – as radionovelas faziam enorme sucesso.  Frequentemente passavam por aqui artistas do Centro-Sul, para shows que atraiam multidões.

Inspirando-se nos ídolos de Hollywood, os jovens da elite tinham como objeto de consumo a lambreta – um elemento de diferenciação e autoafirmação para aqueles rapazes, símbolo de boa condição financeira, poder, velocidade e arma de sedução.

Extraído do livro
História do Ceará, de Airton de Farias

2 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Em 1958, ainda existia o "poeira" Cine Joaquim Távora. Morei na rua de trás, a Rua Lauro Maia...era um pulo mas as vesperais dos domingos...

Adorei tudo! Só Saudade! Mas eu gosto...

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

...lei-se:...era um pulo, para as vesperais dos domingos...(faltou lente rsrs)..