domingo, 27 de novembro de 2011

Feliciano José da Silva Carapinima, Mártir de 1824

O ideal de liberdade e independência da Confederação do Equador, movimento republicado ocorrido em 1824, motivou várias famílias cearenses a adotarem sobrenomes identificados com temas brasileiros. Feliciano José da Silva, por exemplo, ficou conhecido na história por Carapinima, assim como seus companheiros revolucionários Anta, Mororó, Ibiapina. 

Os confederados queriam implantar uma república no Nordeste e separar-se do Brasil de D. Pedro I

Nascido em Minas Gerais onde trabalhou em órgãos públicos, Carapinima radicou-se no Ceará, a partir de 1820, exercendo cargo de secretário do governante Francisco Alberto Robin (13 de junho de 1820-3 de novembro de 1821).

Na época, a província vivia um clima de revolta pela atitude arbitrária de D. Pedro I, que dissolveu a Assembleia Geral Constituinte instalada no Rio de Janeiro. Alguns deputados mais exaltados foram presos na ocasião, entre os quais o representante do Ceará, Padre José Martiniano de Alencar, libertado alguns dias depois. 

Para o Imperador, a Constituinte havia perjurado ao solene juramento que prestou à Nação, de defender a integridade do Império, sua independência e a dinastia. O ato, no entanto, provocou indignação no Nordeste. Pernambuco, então como centro de polarização cultural de todo o Nordeste, toma a frente da sublevação nacionalista, irradiando para as demais províncias, as diretrizes básicas que serviriam de aval político e que em breve transformarão os protestos em ação física e materialmente decisiva.

Cais de desembarque no Recife situado na atual Avenida Martins de Barros. Cartão postal editado por volta de 1910.

Em 2 de julho de 1824, instala-se em Recife, a Confederação das Províncias Unidas do Equador, que reúne inicialmente Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em Fortaleza, graças ao trabalho de conscientização de Tristão Gonçalves, o Ceará também adere ao movimento republicano. No dia 26 de agosto do mesmo ano, realiza-se uma reunião do Grande Conselho, com 455 participantes. 

A fala do presidente Tristão Gonçalves, mostrou a perigosa situação em que se achava a Pátria brasileira, fazendo-se necessário salvá-la do cativeiro, apesar de todos os sacrifícios da parte de seus filhos.  Tristão apresentou em seguida um plano que contemplava uma nova forma de governo, para ser discutido livremente, e ser ou não aprovado  pelo Congresso. 

Depois da unânime aprovação da proposta, que importava na anexação do Ceará à Confederação do Equador, procedeu-se à eleição de presidente e secretário do Grande Conselho, recaindo a escolha, respectivamente em Tristão e no padre Mororó.

Tristão Gonçalves

Carapinima, favorável aos ideais republicanos, é nomeado secretário de Pereira Filgueiras, comandante das armas. Tristão Gonçalves, entusiasta e crente na vitória da causa que abraçara, partiu para Aracati, para dar combate aos adversários. Ficara a substituí-lo no comando,  José Félix de Azevedo e Sá, que escravo do medo, sob as ameaças de Lord Cochrane, que se apresentara na cidade a 17 de outubro, entregou-se sem um protesto e fez a contra revolta.  

Padre Mororó

Por toda a parte reergue-se agora a bandeira imperial, a população tenta se acalmar um pouco com a segurança da anistia garantida pelo almirante mesmo aos chefes, aos mais implicados no movimento, excetuando Tristão Gonçalves.  O ânimo de Tristão não comporta traições nem pactos com os adversários e tenta ele então a sorte das armas, mas em 31 de outubro em santa Rosa, abandonado, é batido e trucidado. 

José Pereira Filgueiras, que havia seguido com quase toda a tropa para o interior da província, depois de vários encontros com as tropas legais, sobretudo no Rio do Peixe e em Missão Velha. Recebendo a notícia da morte de Tristão Gonçalves, rendeu-se ao capitão Reinaldo de Araújo. Preso, teve de seguir para o Rio de Janeiro, mas faleceu no caminho, vitimado por uma febre típica.

Por decreto de 5 de outubro foi designada uma Comissão Militar destinada a julgar sumariamente no Ceará,  as pessoas implicadas na República do Equador. O tribunal era composto de Conrad Jacob Niemeyer (presidente),  Moraes Mayer (relator), Queiroz Carreira, Cabral de Teive, Sabino Monteiro e João Bloem  (vogais, nomeados em 16 de dezembro).

Entre os réus, estavam o padre Gonçalo Mororó, João de Andrade Pessoa Anta,  Francisco Miguel Pereira Ibiapina, Feliciano José da Silva Carapinima e Luiz Ignácio de Azevedo, vulgo Bolão.

A Comissão Militar condenou os acusados à pena de enforcamento, mudada para fuzilamento porque ninguém quis servir de carrasco dos revolucionários. Carapinima foi o último a morrer, em 28 de maio de 1825, no Passeio Público, sendo considerado por o mais sofrido dos mártires de 1824.

Tendo resistido à primeira descarga, o condenado ergueu-se da cadeira, quebrando as amarras e ficando a rodopiar desnorteado. Volteia a praça em movimentos desconexos e desequilibrados, enquanto da parte dos executores, parecia não haver pressa em por fim ao espetáculo. Sob a alegação de que faltara munição, o presidente da Comissão Militar Conrad Niemeyer ordena o deslocamento de um soldado ao quartel, onde deveria recarregar as carabinas, o que é feito muito lentamente.

A esposa de Carapinima, que ao longo do cerco acompanhava o suplicio do marido, desmaia ao vê-lo naquele estado desesperador. Alguns populares a socorrem, embora naquele momento, manter-se distante dos culpados fosse a postura mais aconselhável.  Chegam novamente as munições e Carapinima recebe nova descarga.

Avenida Carapinima, no Passeio Público (foto Marciano Lopes)

O historiador R. Batista Aragão avalia que não fora o açodamento com que Niemayer condenara e levara à execução os réus, Carapinima teria escapado ao suplício, já que fora beneficiado pelo aviso ministerial que mandava suspender as execuções no Ceará, de 23 de julho de 1825, citando explicitamente os nomes de Carapinima, Antônio Bezerra e frei Alexandre da Purificação. 

A partir da publicação da superior deliberação, somente após o conhecimento pelo Imperador, do processo respectivo, poderia o réu ser executado. Tardia porém necessária medida, visto que muitas cabeças enfileiravam-se à espera do carrasco.

fonte:
A história do Ceará passa por esta rua, de
Rogaciano Leite Filho

5 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Fátima, esse "pedaço" da História me interessa de perto. Meu trisavô, Antônio Bezerra de Souza Menezes, foi vítima, nesse movimento.

Descobri, quando fiz uma matéria em meu blog sobre esse tema, que o presidente da Comissão Militar, Conrad Jacob Niemeyer, foi tetravô do arquiteto de Brasília, Oscar Niemeyer, que se diz, ainda, comunista...

Boa semana!

Fátima Garcia disse...

o seu trisavô é o Antonio Bezerra citado, que foi indultado pelo Imperador? Essa história da Confederação é cheia de novidades, parece que nunca alguém contou tudo, sempre novos detalhes aparecem. Quanto ao Niemeyer, certamente não teria aprovação do atual. Nesse aspecto, estamos no lucro

museumunicipaldearacoiaba disse...

Fátima, também gosto muito da história de nossa gente, de nosso ceará. Suas páginas estão excelentes, parabéns.
*Deixei um comentário com uma solicitação na parte que se refere a Igreja do Rosário, quando puder olhe por favor. Abraço Rose
http://fortalezaemfotos.blogspot.com/2010/03/igreja-do-rosario.html

Majo disse...

Bom dia!Infelizmente,sempre prevalecendo o abuso de alguns seres humanos no poder,sobre outras vidas!

Unknown disse...

Hoje estive na Praça dos Mártires.😢😢😢