domingo, 13 de novembro de 2011

As Quermesses de São Benedito

Nos idos dos anos 1950 a Avenida do Imperador abrigava, em centenas de casas quase todas geminadas, inúmeras famílias de classe média que, pela proximidade da moradia, viviam de maneira quase fraternal. Daquele tipo de relacionamento que permitia as visitas constantes, a troca de favores, os pedidos de empréstimos, coisas assim, que faziam de um lar o prolongamento do outro, salvo algumas exceções.

Avenida do Imperador, década de 1950 (arquivo Marciano Lopes)

E no meio dessas famílias, fortalecendo laços, estava a Igreja de São Benedito, localizada entre as transversais das ruas Clarindo de Queiroz e Meton de Alencar. Nas atividades típicas da época, a Igreja de São Benedito, sob a responsabilidade dos padres Sacramentinos, além das obrigações religiosas, fazia constantes festas e quermesses. 


Antiga Igreja de São Benedito, (inaugurada no ano de 1885) ficava na Avenida do Imperador. Quando o novo templo foi construído, no mesmo quarteirão, uma livraria católica passou a funcionar no local. A antiga igreja foi demolida na década de 1990. (arquivo Nirez)
   
No Natal, na Páscoa, nas festas juninas de Santo Antônio, São João e São Pedro, os padres não deixavam por menos: organizavam quermesses aproveitando os generosos espaços em frente e o lado da igreja, decorando-os com bandeirolas coloridas, mesinhas para jogos de prendas e outros atrativos, onde o ponto alto era um animado e barulhento leilão.

As novenas e quermesses de São Benedito integravam o calendário festivo não apenas dos moradores da Imperador e adjacências – Tristão Gonçalves, 24 de Maio, Princesa Isabel, Meton de Alencar, Praça São Sebastião – mas de pessoas de outros bairros mais distantes, todos atraídos pela animação características dos eventos.


A Atual Igreja de São Benedito 

Entre os coordenadores destas festas estava a figura carismática de José Limaverde, locutor pioneiro do rádio cearense, apresentador de dois dos mais famosos programas da antiga PRE-9 – primeira e, por muito tempo única, estação de rádio da cidade: Coisas que o Tempo Levou nas noites de 6ª feira, e Bazar de Música, nas noites de domingo. Limaverde e esposa, junto com outros casais, cuidavam da organização das quermesses de São Benedito com carinho e desvelo. 




Os frequentadores eram praticamente os mesmos que iam à igreja: adolescentes, crianças, senhoras e cidadãos respeitáveis, se divertiam num ambiente tranquilo, que favorecia a aproximação e inicios de novas amizades. 


Foi neste cenário harmônico que, certa noite, no auge da movimentação das quermesses, aportou uma turma de rabos-de-burro – denominação pelo qual era conhecido um grupo de desordeiros que agia em diversos pontos da cidade. O chefe da súcia era um elemento dado a arruaças, valentão e perigoso, mas que exercia indiscutível liderança entre os que, como ele, se dedicavam a desordens e confusões. Tratava-se de um jovem de classe média alta, filho de um empresário, que comandava um grupo de outros jovens grã-finos, motorizados e violentos.

À chegada deles se instalou o caos. Praticaram toda sorte de desmandos. Quebraram mesas e cadeiras, agrediram rapazes, desrespeitaram mulheres e crianças e os que tentavam contê-los em sua fúria. Como sempre acontecia quando eles chegavam, a festa. acabava.

O fato teve enorme repercussão na imprensa. O bando começou a ser fustigado, denunciadas suas arruaças, deste e de vários outros bandos de malfeitores que infestavam a cidade, todos, como se sabia, vindos das famílias mais ricas, sentindo-se por isso, imunes a qualquer punição.


Na redação do Jornal Correio do Ceará, o secretário Orlando Mota discutia com repórteres uma maneira mais enérgica de abordar os episódios envolvendo os repulsivos filhinhos de papai. Nesse encontro, por sugestão do redator Luiz Edgar de Andrade, foi cunhada a expressão que identificou os malfadados indivíduos que ficaram para todo o sempre como rabos-de-burros.


Fonte:
Blanchard Girão

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