domingo, 24 de abril de 2011

pesquisa do Blog: Quem é o Ferreira da Praça do Ferreira?

Fortaleza 285 anos



No mês em a cidade completa 285 anos, O Fortaleza em Fotos & Fatos foi à praça, perguntar aos transeuntes, aos frequentadores, aos vendedores que ali fazem ponto, o que eles sabem a respeito da praça mais famosa de Fortaleza, a do Ferreira.

As praças de Fortaleza estão sendo invadidas e tendo seus espaços tomados por usos e funcionalidades estranhas a esses logradouros, tornando um espaço que era para ser de cidadania, de  sociabilidade e de encontro, em verdadeiras feiras livres, onde cada um comercializa o que melhor lhe convém.

O comércio informal subverteu a ordem no centro: ofuscou o comércio lojista, ocupou calçadas, passeios, praças; não há preocupação com a estética, com a qualidade ou a procedência dos produtos, nem com a  higiene. A aparência é horrível, o ambiente é imundo. A poluição sonora e visual agride olhos e ouvidos.



Nesse caos instalado no centro de Fortaleza, sob o olhar indiferente e permissivo da prefeitura e suas instâncias, a Praça do Ferreira, por enquanto, ainda está imune. 
O rolo compressor da informalidade, ainda não chegou ali, pelo menos durante o dia. 

Entre bancos mal cuidados e quebrados, piso esburacado, fonte quase em ruínas, uma multidão de fortalezenses de todo o país –  circula no espaço conhecido, no coração da cidade amada, abandonado e esquecido pelo poder público. 



De acordo com Girão (1959),  a Praça do Ferreira é o Meridiano de Greenwich de Fortaleza, pelo qual se marcam suas horas, vale como um regulador, ao mesmo tempo dos sistemas sensorial, circulatório e vegetativo. 

Se fosse extirpada do organismo urbano, este não mais se alimentaria, parava de respirar. Esclarece que, quando os moradores diziam vou à Praça ou venho da Praça, já ficava subentendido que era da Praça do Ferreira que se ia ou era de lá que se vinha.



Para Lopes (1996) a Praça do Ferreira foi projetada para aglomeração de grandes massas humanas, por ser o ponto nevrálgico da cidade. "Nos idos de 1945, era o Coração da Cidade. Por se tratar de uma praça que era uma síntese da cidade, logradouro que homenageava o Boticário Ferreira, grande benfeitor da nossa capital, ostentava uma seleção do que o comércio local tinha de mais representativo".


O comércio no entorno ainda é representativo, com a presença de grandes estabelecimentos comerciais, alguns bastante tradicionais, como a Farmácia Oswaldo Cruz, a Loja Milano de roupas masculinas e a famosa lanchonete Leão do Sul, na Praça do Ferreira desde tempos imemoriais.
Não foram localizados dados recentes acerca do número de pessoas que transitam diariamente pela Praça, mas podemos deduzir que o número é significativo.

Metodologia

Sendo a Praça do Ferreira espaço afetivo, eleito pela população como coração de Fortaleza, o objetivo geral da pesquisa é determinar o grau de conhecimento que essa mesma população detém sobre o espaço.

O trabalho foi realizado com a aplicação de questionários estruturados – aquele onde as perguntas são previamente formuladas e tem se o cuidado de não fugir a elas. 

O principal motivo deste zelo é a possibilidade de  comparação com o mesmo conjunto de perguntas,  e que as diferenças devem refletir as diferenças entre os entrevistados e não diferença nas perguntas (LODI, 1974 apud LAKATOS, 1996). 

Participaram 51 pessoas, todas maiores de 18 anos de idade, sendo 24 mulheres e 27 homens. 
Desse universo de 51 entrevistados 18 pessoas exercem funções de vendedores/comerciantes ou prestadores de serviço que atuam na própria Praça do Ferreira (engraxates, proprietários de bancas de jornal, vendedores de refrigerantes, cafezinho e água de côco, distribuidores de panfletos e funcionários de operadoras de cartões de crédito).  

Os demais – 33 pessoas – são transeuntes ou freqüentadores habituais do logradouro.  
Foram considerados freqüentadores  habituais os que declararam que comparecem à Praça do Ferreira, pelo menos uma vez por semana, sem qualquer outra finalidade que não seja a de estar na praça.

Foram formuladas questões em torno das seguintes variáveis: 
O nome do logradouro e a profissão do Ferreira que dá o nome à praça, a função da praça, o tempo de existência do logradouro, a quem compete zelar pela mesma e aspectos ligados a segurança.

Resultados e Discussões

1 - Quanto ao personagem histórico que deu o nome à Praça   
Apesar de todos os entrevistados (100%)  conhecerem o nome da Praça do Ferreira,  

43 pessoas não têm nenhuma informação a respeito do Ferreira; 
 8 pessoas responderam sim, sabiam quem era o personagem da praça. Desses, 6 entrevistados disseram que o Ferreira era boticário ou farmacêutico, enquanto 2 responderam que o Ferreira era ferreiro. 
não sabem quem é: 43 (84%)
                       sabem:  8  (16%)




Junto a fonte, onde a velha cacimba foi restaurada na gestão do prefeito Juraci Magalhães, existe uma placa, com a efígie do boticário e seu nome no verso. Nenhuma placa, que esclareça o porquê da homenagem. O resultado da pesquisa deixa evidente que os entrevistados não associam aquela imagem ao nome da praça. 
Daí o grande número de pessoas que desconhecem por completo, porque o local se chama Praça do Ferreira.
Para saber mais sobre o Boticário Ferreira ver postagem de 12 de abril deste blog.      

2 - Pra que servem as praças

26 pessoas  (51%)  disseram que servem para o lazer da população;
    12 pessoas  (23%) responderam que servem para ponto de encontro;  
5 pessoas (10%) acham que serve para realização de eventos ; 
4 entrevistados (8%) responderam para manifestações culturais; e
4 pessoas (%)  não sabem ou citaram outras finalidades.  

Antes do modernismo as praças tinham uma função endógena e estavam submetidas a um edifício como uma igreja, um edifício público, um palácio.  
Favole (1995) vê a praça contemporânea como um espaço que não tem uma função específica, nem depende de um edifício ou  de um monumento. Sua  finalidade é a de se
constituir em um lugar atrativo de encontro e reunião. 
Nessa perspectiva, a Praça do Ferreira cumpre plenamente suas funções no tecido urbano, visto que é reconhecida pelos freqüentadores como um espaço que oferece várias possibilidades, para lazer, para manifestações culturais, políticas, artísticas e realização de eventos.  

3 – Quem deve cuidar da praça?

22 pessoas (43%) acham que quem deve cuidar da praça é a prefeitura 
17 pessoas (33%) acreditam que seja a prefeitura junto com a população 
11 pessoas acham que é obrigação da  população 
1 pessoa (2%) é de opinião que a prefeitura deveria formar parceria com a iniciativa privada para essa finalidade.



Cabe ao poder público cuidar dos espaços públicos, é uma tarefa elementar do executivo. E pelo resultado da pesquisa, pode-se concluir que o público tem essa noção de responsabilidade. 
Mas apontam a população como a maior responsável pelo mau uso e pela depredação dos equipamentos da Praça do Ferreira, tanto que 33% afirma que esta deveria zelar pelo equipamento junto com a prefeitura.  

Mas a proposta mais moderna em termos de gestão participativa é a de formação de parcerias entre a prefeitura e empresários do comércio, que passariam a a cuidar da manutenção da praça. 
A Praça do Ferreira passou por obras de manutenção e pequenos reparos no ano passado. Foram reparados o piso de pedra portuguesa, os bancos, recuperação da base da coluna da hora e da fonte, segundo foi noticiado nos meios de comunicação. 
Mas exibe uma aparência degradada e mal cuidada.  
    
4 - Há quanto tempo existe a Praça do Ferreira 

20 pessoas (39%) acreditam que o tempo de existência da praça está  entre 60 e 100 anos   
13 pessoas (25%) acham que a praça existe há mais de 100 anos
12  entrevistados (24%) afirmaram que a praça tem no máximo 50 anos 
4 pessoas (8%) acham que a Praça do Ferreira tem mais de 200 anos
2 pessoas (4%) não sabem. 

De acordo com os pesquisadores das coisas cearenses, a história do logradouro começa em 1842, quando a lei n° 264, autoriza a Câmara a reformar o plano da cidade de Fortaleza. 
No local, existia o Beco do Cotovelo, que foi demolido por iniciativa do Boticário Ferreira, para construção da Praça Pedro II, que ficou conhecida como Feira Nova. (Nirez, 2001;   Girão, 1959). 
No ano de 1871, decorridos mais de onze anos da morte do boticário, a Praça, que atendia pelo nome de Praça Municipal, tomou a denominação de Praça do Ferreira.
 O ano de 1842, quando ocorreu a demolição  das casas do beco do Cotovelo – teria sido o marco inicial da Praça do Ferreira. 
Tem, portanto, 169 anos. Algumas publicações afirmam que a praça é mais antiga e teria em média entre 180 e 190 anos.       

5 - Você se sente seguro na Praça do Ferreira?

 39 pessoas (76%) disseram que não         
12 pessoas (24%) responderam Sim 

A questão da insegurança atinge toda a cidade, e o centro da cidade é um dos mais afetados. Existe uma cabine da PM num setor da praça, mas que - segundo os entrevistados - fica vazia a maior parte do tempo. 



O policiamento só é ostensivo quando há eventos na praça, geralmente nos que são patrocinados pela prefeitura. À noite, o espaço é invadido por moradores de rua, assaltantes e pessoas drogadas, que ameaçam os passantes, cobram valores a título de pedágio, além de satisfazerem suas necessidades fisiológicas à vista de todos.  


Bibliografia 

Azevedo, Miguel Ângelo de. Cronologia Ilustrada de Fortaleza.roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: BNB, 2001.

Boff, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano-compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
Favole, P. La plaza en la arquitectura contemporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 1995.
Girão Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza; Imprensa Universitária do Ceará, 1959.
LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de pesquisa. 3a
edição. São Paulo: Editora Atlas, 1996. 
Lopes, Marciano. Royal Briar: a Fortaleza dos anos 40 – Marciano – 4 ed. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996.

2 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Excelente, a ideia e a arealização da pesquisa.Seria interessante, e importante, fazer, nos mesmos moldes, com outros logradouros famosos da cidade. Imagino, que essa seja a sua intenção.
Lembrei-me, de quando a gente falava, "vou à praça"...hoje, se fala vou ao centro.
Nunca mais fui ao Leão do Sul, agora, bateu a vontade...rsrs

Valeu!
Beijos...

Ana Luz disse...

Realmente a praça do Ferreira é um dos raríssimos lugares do centro que não foi ocupado pela onda de ambulantes sob a alegação de que precisam como se todos não precisassem e nem por isso privatizam os espaços públicos.Gostei da idéia da pesquisa.