quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cenas da Cidade Antiga

Fortaleza - 285 anos 

Forno crematório da municipalidade, no local onde hoje fica a SER I, onde funcionou a Sumov, entre a estação de trem do Otávio Bonfim e a Praça dos Libertadores. Ao fundo, o matadouro Público - 1910 (Arquivo Nirez). 

A carne verde chegava à tarde, vinda do matadouro e transportada em carroças. Em abril de 1880, a modernização: os bondes de tração animal da Companhia Ferro Carril do Ceará. A população de Fortaleza cabia em 25 bondes que transportavam até 28 passageiros por veículo. O ponto era na Praça da Carolina. 
Por 100 Reis rodava-se a capital. Ia-se do centro à estação, ou ao matadouro, admirando paisagens das Ruas da Alegria, da Amélia, da estrada de Messejana. 
Caprichosa, a companhia reservava os bondes João cotoco – sem coberta – para as noites de lua cheia. Dois burros puxavam o veículo, atendendo ao chicote e aos nomes próprios, das 6 às 21 horas. 
Fiéis à amizade, os animais só faziam força quando emparelhados com o companheiro de todos os dias.

 Avenida Tristão Gonçalves, década de 1980 (Nirez)

A Avenida Tristão Gonçalves, destoando das travessas e becos contemporâneos, era bem mais larga. 
Motivo: era a Rua do Trilho, lá correu o primeiro trem, em agosto de 1837. O feito da locomotiva Fortaleza juntou praticamente a população inteira da cidade – cerca de 8.000 pessoas. 
Diante da multidão estupefata, o pequenino trem rodou, cinco vezes seguidas, entre a Estação Central (Praça Castro Carreira) e a parada do Xico Manuel (Rua Liberato Barroso). A velocidade máxima da locomotiva era de 32 km/h.
 
 Vista da Praça do Ferreira a partir da Rua da Palma (Major Facundo). 
Ao fundo o Palacete Ceará (Rotisserie), à esquerda o Sobrado do Pastor e a Intendência Municipal. O coreto e a profusão de lampiões a gás ajudam a compor o belo cenário.
 (Arquivo Marciano Lopes) 

Era um suplicio adivinhar a cidade à noite, contando apenas com as lâmpadas de azeite em suas esquinas. Era preciso trazer um ou mais escravos, com uma lamparina clareando a rua. A iluminação pública foi iniciada em março de 1848, trocando-se a luz de velas pelo óleo de peixe. 
E assinando contrato com a lua: os 44 lampiões eram acesos das 6 da tarde até que amanhecesse o outro dia ou até que visse a lua. 
Na hora da ave-maria, Chico Lampião aparecia com uma escada nos ombros, fósforo à boca, ziguezagueando pela cidade, acendendo os lampiões. Assim foi até setembro de 1866 (ou 67 conforme alguns autores), quando descobriram a qualidade da iluminação a gás carbônico, que equivalia a luz de 10 velas. 
O contrato com a lua foi renovado até 1934/35, data da chegada luz elétrica.

 O Estoril na época em que funcionou como cassino dos soldados americanos (Arquivo Nirez)

O Estoril nasceu Vila Morena, em 1915. 
De residência virou cassino. Coisa dos americanos, que durante a 2ª. Guerra improvisaram diversão com jogos, coca-cola e mulheres alheias. 
Nessa época apareciam zepelins no  céu de Fortaleza que patrulhavam a costa cearense procurando submarinos alemães. 
O escritor Moreira Campos foi nomeado inspetor do quarteirão que ele residia: tomava conta, tinha responsabilidade, instruções e orientações para os demais moradores. A qualquer bombardeio, fugir para a primeira casa que encontrasse aberta.

 Avenida Caio Prado, a mais elegante do Passeio Público, no belvedere, de frente para o mar. Era frequentada pelas familias aristocráticas. Os extensos bancos anatômicos eram subdivididos e formavam cadeiras com braços. Era costume familias se encontrarem no Passeio Público.
 (arquivo Marciano Lopes) 

O hábito de tomar uma fresca, cadeiras na calçada, remonta ao tempo em que as casas eram conjugadas, como no interior, uma escorando a outra. Pequenas e quentes, sem espaço interno disponível, os moradores iam para a calçada, onde passeava o vento que vinha do mar. 
O comércio era do tipo misto: era também moradia. A sala se adaptava em venda, bodega, armazém. Então, calçadas e ruas ampliavam a casa; as visitas eram recebidas, primeiro na praça. Quando as residências passaram para a periferia, o Passeio Público deixou de servir às famílias.

 Rua Major Facundo, década de 1970, trecho Praça do Ferreira (Arquivo Nirez)

Na década de 1950, a loja Rouvanni Roupas, localizada na antiga esquina da Broadway, esquina das Ruas Major Facundo com a Guilherme Rocha, na Praça do Ferreira, promoveu um dos maiores escândalos em Fortaleza.
 Expôs em uma de suas vitrines uma camisa vermelha, o que causou ajuntamento de pessoas que entre incrédulas e horrorizadas, paravam para ver a peça. 
Era uma camisa de modelo convencional em tecido de algodão, a polêmica toda era devido a cor vermelha. Homem usando camisa vermelha, em Fortaleza, década de 50? 
Nem pensar.




Anúncios de estabelecimentos comerciais em funcionamento em Fortaaleza na década de 1950. Quem conhecer uma camisa trubenizada - do primeiro anúncio, da A Cruzeiro  - favor informar aqui. 
os anúncios são do livro Os Anos Dourados, de Marciano Lopes.
fontes:
Revista Fortaleza, fascículo 9
Os Anos Dourados, de Marciano Lopes 

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