Fortaleza 285 anos
No mês em a cidade completa 285 anos, O Fortaleza em Fotos & Fatos foi à praça, perguntar aos transeuntes, aos frequentadores, aos vendedores que ali fazem ponto, o que eles sabem a respeito da praça mais famosa de Fortaleza, a do Ferreira.
As praças de Fortaleza estão sendo invadidas e tendo seus espaços tomados por usos e funcionalidades estranhas a esses logradouros, tornando um espaço que era para ser de cidadania, de sociabilidade e de encontro, em verdadeiras feiras livres, onde cada um comercializa o que melhor lhe convém.
O comércio informal subverteu a ordem no centro: ofuscou o comércio lojista, ocupou calçadas, passeios, praças; não há preocupação com a estética, com a qualidade ou a procedência dos produtos, nem com a higiene. A aparência é horrível, o ambiente é imundo. A poluição sonora e visual agride olhos e ouvidos.
Nesse caos instalado no centro de Fortaleza, sob o olhar indiferente e permissivo da prefeitura e suas instâncias, a Praça do Ferreira, por enquanto, ainda está imune.
O rolo compressor da informalidade, ainda não chegou ali, pelo menos durante o dia.
Entre bancos mal cuidados e quebrados, piso esburacado, fonte quase em ruínas, uma multidão de fortalezenses de todo o país – circula no espaço conhecido, no coração da cidade amada, abandonado e esquecido pelo poder público.
Se fosse extirpada do organismo urbano, este não mais se alimentaria, parava de respirar. Esclarece que, quando os moradores diziam vou à Praça ou venho da Praça, já ficava subentendido que era da Praça do Ferreira que se ia ou era de lá que se vinha.
Para Lopes (1996) a Praça do Ferreira foi projetada para aglomeração de grandes massas humanas, por ser o ponto nevrálgico da cidade. "Nos idos de 1945, era o Coração da Cidade. Por se tratar de uma praça que era uma síntese da cidade, logradouro que homenageava o Boticário Ferreira, grande benfeitor da nossa capital, ostentava uma seleção do que o comércio local tinha de mais representativo".
Não foram localizados dados recentes acerca do número de pessoas que transitam diariamente pela Praça, mas podemos deduzir que o número é significativo.
Metodologia
Sendo a Praça do Ferreira espaço afetivo, eleito pela população como coração de Fortaleza, o objetivo geral da pesquisa é determinar o grau de conhecimento que essa mesma população detém sobre o espaço.
O trabalho foi realizado com a aplicação de questionários estruturados – aquele onde as perguntas são previamente formuladas e tem se o cuidado de não fugir a elas.
O principal motivo deste zelo é a possibilidade de comparação com o mesmo conjunto de perguntas, e que as diferenças devem refletir as diferenças entre os entrevistados e não diferença nas perguntas (LODI, 1974 apud LAKATOS, 1996).
Participaram 51 pessoas, todas maiores de 18 anos de idade, sendo 24 mulheres e 27 homens.
Desse universo de 51 entrevistados 18 pessoas exercem funções de vendedores/comerciantes ou prestadores de serviço que atuam na própria Praça do Ferreira (engraxates, proprietários de bancas de jornal, vendedores de refrigerantes, cafezinho e água de côco, distribuidores de panfletos e funcionários de operadoras de cartões de crédito).
Os demais – 33 pessoas – são transeuntes ou freqüentadores habituais do logradouro.
Foram considerados freqüentadores habituais os que declararam que comparecem à Praça do Ferreira, pelo menos uma vez por semana, sem qualquer outra finalidade que não seja a de estar na praça.
Foram formuladas questões em torno das seguintes variáveis:
O nome do logradouro e a profissão do Ferreira que dá o nome à praça, a função da praça, o tempo de existência do logradouro, a quem compete zelar pela mesma e aspectos ligados a segurança.
Resultados e Discussões
1 - Quanto ao personagem histórico que deu o nome à Praça
Apesar de todos os entrevistados (100%) conhecerem o nome da Praça do Ferreira,
43 pessoas não têm nenhuma informação a respeito do Ferreira;
8 pessoas responderam sim, sabiam quem era o personagem da praça. Desses, 6 entrevistados disseram que o Ferreira era boticário ou farmacêutico, enquanto 2 responderam que o Ferreira era ferreiro.
não sabem quem é: 43 (84%)
sabem: 8 (16%)
Junto a fonte, onde a velha cacimba foi restaurada na gestão do prefeito Juraci Magalhães, existe uma placa, com a efígie do boticário e seu nome no verso. Nenhuma placa, que esclareça o porquê da homenagem. O resultado da pesquisa deixa evidente que os entrevistados não associam aquela imagem ao nome da praça.
Daí o grande número de pessoas que desconhecem por completo, porque o local se chama Praça do Ferreira.
Para saber mais sobre o Boticário Ferreira ver postagem de 12 de abril deste blog.
2 - Pra que servem as praças
26 pessoas (51%) disseram que servem para o lazer da população;
12 pessoas (23%) responderam que servem para ponto de encontro;
5 pessoas (10%) acham que serve para realização de eventos ;
4 entrevistados (8%) responderam para manifestações culturais; e
4 pessoas (%) não sabem ou citaram outras finalidades.
Antes do modernismo as praças tinham uma função endógena e estavam submetidas a um edifício como uma igreja, um edifício público, um palácio.
Favole (1995) vê a praça contemporânea como um espaço que não tem uma função específica, nem depende de um edifício ou de um monumento. Sua finalidade é a de se
constituir em um lugar atrativo de encontro e reunião.
Nessa perspectiva, a Praça do Ferreira cumpre plenamente suas funções no tecido urbano, visto que é reconhecida pelos freqüentadores como um espaço que oferece várias possibilidades, para lazer, para manifestações culturais, políticas, artísticas e realização de eventos.
3 – Quem deve cuidar da praça?
22 pessoas (43%) acham que quem deve cuidar da praça é a prefeitura
17 pessoas (33%) acreditam que seja a prefeitura junto com a população
11 pessoas acham que é obrigação da população
1 pessoa (2%) é de opinião que a prefeitura deveria formar parceria com a iniciativa privada para essa finalidade.
Cabe ao poder público cuidar dos espaços públicos, é uma tarefa elementar do executivo. E pelo resultado da pesquisa, pode-se concluir que o público tem essa noção de responsabilidade.
Mas apontam a população como a maior responsável pelo mau uso e pela depredação dos equipamentos da Praça do Ferreira, tanto que 33% afirma que esta deveria zelar pelo equipamento junto com a prefeitura.
A Praça do Ferreira passou por obras de manutenção e pequenos reparos no ano passado. Foram reparados o piso de pedra portuguesa, os bancos, recuperação da base da coluna da hora e da fonte, segundo foi noticiado nos meios de comunicação.
Mas exibe uma aparência degradada e mal cuidada.
Mas exibe uma aparência degradada e mal cuidada.
4 - Há quanto tempo existe a Praça do Ferreira
20 pessoas (39%) acreditam que o tempo de existência da praça está entre 60 e 100 anos
13 pessoas (25%) acham que a praça existe há mais de 100 anos
12 entrevistados (24%) afirmaram que a praça tem no máximo 50 anos
4 pessoas (8%) acham que a Praça do Ferreira tem mais de 200 anos
2 pessoas (4%) não sabem.
De acordo com os pesquisadores das coisas cearenses, a história do logradouro começa em 1842, quando a lei n° 264, autoriza a Câmara a reformar o plano da cidade de Fortaleza.
No local, existia o Beco do Cotovelo, que foi demolido por iniciativa do Boticário Ferreira, para construção da Praça Pedro II, que ficou conhecida como Feira Nova. (Nirez, 2001; Girão, 1959).
No ano de 1871, decorridos mais de onze anos da morte do boticário, a Praça, que atendia pelo nome de Praça Municipal, tomou a denominação de Praça do Ferreira.
O ano de 1842, quando ocorreu a demolição das casas do beco do Cotovelo – teria sido o marco inicial da Praça do Ferreira.
Tem, portanto, 169 anos. Algumas publicações afirmam que a praça é mais antiga e teria em média entre 180 e 190 anos.
5 - Você se sente seguro na Praça do Ferreira?
39 pessoas (76%) disseram que não
12 pessoas (24%) responderam Sim
A questão da insegurança atinge toda a cidade, e o centro da cidade é um dos mais afetados. Existe uma cabine da PM num setor da praça, mas que - segundo os entrevistados - fica vazia a maior parte do tempo.
O policiamento só é ostensivo quando há eventos na praça, geralmente nos que são patrocinados pela prefeitura. À noite, o espaço é invadido por moradores de rua, assaltantes e pessoas drogadas, que ameaçam os passantes, cobram valores a título de pedágio, além de satisfazerem suas necessidades fisiológicas à vista de todos.
Bibliografia
Azevedo, Miguel Ângelo de. Cronologia Ilustrada de Fortaleza.roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: BNB, 2001.
Boff, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano-compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
Favole, P. La plaza en la arquitectura contemporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 1995.
Girão Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza; Imprensa Universitária do Ceará, 1959.
LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de pesquisa. 3a
edição. São Paulo: Editora Atlas, 1996.
Lopes, Marciano. Royal Briar: a Fortaleza dos anos 40 – Marciano – 4 ed. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996.
2 comentários:
Excelente, a ideia e a arealização da pesquisa.Seria interessante, e importante, fazer, nos mesmos moldes, com outros logradouros famosos da cidade. Imagino, que essa seja a sua intenção.
Lembrei-me, de quando a gente falava, "vou à praça"...hoje, se fala vou ao centro.
Nunca mais fui ao Leão do Sul, agora, bateu a vontade...rsrs
Valeu!
Beijos...
Realmente a praça do Ferreira é um dos raríssimos lugares do centro que não foi ocupado pela onda de ambulantes sob a alegação de que precisam como se todos não precisassem e nem por isso privatizam os espaços públicos.Gostei da idéia da pesquisa.
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