quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Construção dos Cemitérios

A Igreja do Rosário no centro de Fortaleza, tem inumeros corpos sepultados no seu interior.
Até meados do Século XIX era costume enterrarem-se os mortos nas igrejas.
Para o saber médico-cientifico a decomposição dos cadáveres tornava os templos foco de doenças.
Assim para adequar a cidade às recomendações médicas, em 1848 foi edificado o primeiro cemitério público de Fortaleza, o São Casimiro, (em homenagem ao governador que autorizou a construção, Casimiro José de Morais Sarmento 1847 – 1848)  também chamado de Croatá, localizado no lado leste da atual Praça Castro Carrero.
Houve alguma resistência por parte dos segmentos religiosos em relação a medida, afinal o enterro nas igrejas era símbolo de status – na verdade só eram enterradas nas igrejas as pessoas importantes, pois os humildes eram inumados pelo areal da cidade. 
Isso de certo modo continuou a ocorrer nos cemitérios , pois túmulos e mausoléus grandes e adornados com estátuas e esculturas passaram a ser erguidos, reafirmando o poder político ou econômico do falecido e de sua família.
Mesmo com a construção do cemitério a Igreja Católica conservou sua influência na “hora da morte”.
No São Casimiro havia uma área reservada e marginal para os que não professavam a fé católica ou atentassem contra os princípios desta (judeus, suicidas, etc).
Foi também construído um cemitério dos ingleses (para protestantes) vizinho ao São Casimiro, que era mantido pela firma de importação e exportação Singlehust & Co, de Henrich Brocklehurst.

mausoléus no São João Batista: pompa e ostentatação 
Nos anos 1860 discutiu-se a necessidade de construir um novo cemitério, por diversos motivos: além de pequeno, o São Casimiro estava sendo soterrado pelas areia do Morro Croatá, estava muito próximo do perímetro urbano e por que lá estavam sepultados inúmeros coléricos.
Em 1866, mesmo inacabado, foi inaugurado o Cemitério São João Batista (seria concluído em 1880), para ali sendo lentamente removidos os mortos do Croatá.
O Cemitério dos Ingleses continuou a ser utilizado até ser demolido em 1880, para construção de armazéns e da estação da Estrada de Ferro Baturité. A partir daí foi destinada uma área nos fundos do São João Batista para sepultamento dos protestantes.
O São João Batista é um testemunho de que a divisão entre classes sociais que permeia a relação entre os vivos permanece na morte: da metade para frente estão os jazigos de classes dominantes, com peças sacras como anjos, colunas, crucifixos, além de jarros mausoléus e capelas feitas de mármore e granito importados da Europa;
da metade para trás estão os falecidos de classes médias e populares.



E hoje...

Os cemitérios são empreendimentos capitalistas privados, acessíveis a qualquer um que possa pagar pelo serviço;
não existem restrições quanto à religião, nem à raça, nem à cor. Os jazigos são espaços homogêneos, uniformes, discretos, sem esculturas, nem capelas.
Tampouco tem nome de santo: é jardim, parque, bosque. Oferecem confortos como lanchonetes, restaurantes, sala de estar, espaço para eventos culturais, conexão com a internet, serviço de ambulatório, assistência médica e psicológica, capelas ecumênicas, e outras modernidades.    

Pesquisa:
História do Ceará, de Airton Farias
fotos do S.João Batista: http://www.santacasace.org.br/index

Um comentário:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Até depois da morte, as famílias queriam mostrar o seu "status". O surgimento dos cemitérios parques,veio acabar com a ostentação.

Muito interessante todo esse relato histórico sobre a "última morada"...do surgimento à evolução dos cemitérios de Fortaleza.