Mucuripe nos anos 50, região onde foi construída a Usina do Serviluz (foto Arquivo Nirez)
Enquanto as eleições a nível estadual aconteciam numa
espécie de prévia, onde os partidos determinavam os nomes dos que deveriam ser
ungidos pela população para o governo do Estado, em Fortaleza ninguém conseguia
controlar o espírito libertário de sua gente. Dizia-se que o eleitorado da
capital não possuía cabresto. Livre, imprevisível, agindo sempre ao sabor de
suas emoções, embora sem nenhum embasamento político ou ideológico.
prefeito Acrísio Moreira da Rocha quando assinava a doação do terreno para construção da Casa do Jornalista (foto do site da ACI)
Fortaleza levou á prefeitura, por duas vezes, a figura
populista e carismática de Acrísio Moreira da Rocha, após a redemocratização
acontecida em 1945. (Acrísio Moreira da Rocha foi prefeito de Fortaleza de 1948 a 1951 no primeiro mandato, e de 1955 a 1959 no segundo mandato).
Os grandes partidos bem que tentaram, sem êxito, dominar a
cena, com nomes credenciados, inclusive pela posição econômica. O banqueiro
Antônio da Frota Gentil, por exemplo, numa época em que a base de sustentação
financeira de Fortaleza e do Estado, tinha no Banco Frota Gentil uma de suas
vigas de sustentação, buscou o apoio popular através da poderosa sigla do PSD
(Partido Social Democrático), sem nenhum sucesso. Diversos outros candidatos, de igual
envergadura, amargaram o peso da derrota adiante desse descompromisso eleitoral
dos moradores de Fortaleza.
Havia sim os xodós, aquelas paixões tempestuosas, que quase
sempre, se esvaneciam após a lua de mel. Acrísio resistiu mais com seus descamisados ou
o pessoal do tamanco (carroceiros, camelôs, operários) visando sua ida à
Prefeitura.
Paulo Cabral de Araujo, prefeito de Fortaleza de 1951 a 1955 (foto do livro A Era do Rádio no Ceará)
Outro nome de grande popularidade, conseguida por seu prestígio
pessoal adquirido ao longo de brilhante
carreira no rádio (PRE-9) foi Paulo Cabral de Araújo, a quem a cidade escolheu
para dirigi-la, para a seguir, elege-lo deputado estadual.
O fenômeno Paulo Cabral revelou pela primeira vez, a
importância do instrumento que, mais tarde, seria peça essencial a qualquer esquema
político-eleitoral: a mídia. Orador influente,
inflamado no comando de campanhas de benemerência, ora em favor da Santa
Casa, ora em prol dos lázaros ou das
vítimas das secas, Paulo Cabral tornou-se
em pouco tempo uma personalidade profundamente identificada com a
cidade. E daí redundou a escolha de seu nome, acima das injunções partidárias
para concorrer ao cargo, derrotando outros de mais tradição na vida política.
Usina Serviluz - Serviço de Luz e Força de Fortaleza, criada pela Lei Municipal n° 803, de 20 de maio de 1954 (foto IBGE)
Em sua administração criou a Usina Serviluz, amenizando a
rumorosa questão da falta de energia na cidade através de uma usina
termoelétrica. Foi também Paulo Cabral que pensou em realizar um plano urbanístico
para Fortaleza, com o renomado Sabóia Ribeiro.
Se o microfone elegera Paulo Cabral, seu substituto o
general Manuel Cordeiro Neto fez-se prefeito graças ao símbolo de sua campanha:
uma lata. Na sua juventude, Cordeiro Neto fora Chefe de Polícia (cargo equivalente
ao atual Secretário de Segurança), oportunidade em que instituiu o “regime da
lata”. Vadios, vagabundos, presos por desordens ou sentenciados pela Justiça,
eram utilizados em obras públicas como pedreiros, ajudantes, serventes e outros
trabalhos relativos a construção ou em serviços de limpeza. Recebiam para
tanto, uma diária. Ocupavam-se e, no trabalho, longe dos rigores do
encarceramento, muitos ganharam a recuperação pretendida pela sociedade. Junto à população, essa imagem encontrou
repercussão positiva, afinal a população sempre aplaudiu atitudes rígidas
contra marginais, especialmente ladrões.
Costa Leste de Fortaleza antes da construção da Avenida Beira mar anos 50 (Arquivo Nirez)
Naquela época, aconteciam
costumeiramente, arrombamentos de residências, quando não apenas invasão de
quintais, com roubo de galinhas. Esse tipo de delinquente, que governos
anteriores encurralavam num depósito degradante, localizado na Praça da escola
Normal, foi de que se valeu Cordeiro Neto para implantar o regime da lata. Como
"o homem da lata", Cordeiro Neto encontrou respaldo em todas as classes sociais,
e contrariando as previsões das lideranças partidárias, elegeu-se prefeito de
Fortaleza por larga maioria.
Avenida Beira-Mar durante sua construção nos anos 60
e alguns anos depois, na década de 1970
Em sua administração, Fortaleza ganhou uma avenida de
contorno – Avenida Perimetral – que alargou
suas fronteiras, permitindo-lhe extraordinário desenvolvimento metropolitano
atingido nas décadas subsequentes.
Cordeiro Neto administrou Fortaleza entre março de 1959 e março de 1963,
deixando, dentre muitas outras importantes realizações, a Avenida Beira Mar.
extraído do livro de Blanchard Girão
Sessão das Quatro cenas e atores de um tempo mais feliz
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