sexta-feira, 8 de março de 2013

Cidade da Fortaleza da Nova Bragança

Dom Pedro I, pela Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, elevou a Villa de Fortaleza à categoria de Cidade, em 1823, com a denominação de Cidade da Fortaleza da Nova Bragança

Nas três primeiras décadas do século XIX, enquanto Fortaleza caminhava para se tornar o principal centro urbano do Ceará, a agitação política tomava conta do Brasil, tendo reflexos no Estado. Em 1817 os liberais cearenses comandados pela família Alencar do Crato, aderiram à revolução Pernambucana, na esperança de obter a independência de Portugal e criar uma República.  
Em 1822, o Ceará foi alvo de disputas armadas entre os favoráveis à independência brasileira e dos defensores da permanência dos laços com Portugal – os primeiros, vencedores, chegaram a mandar tropas para ajudar a causa emancipacionista no Maranhão e Piauí.


Rua 24 de Maio esquina com a Praça José de Alencar em 1910

O apoio cearense ao Grito do Ipiranga levou o imperador D. Pedro I, a decretar em 1823, Ato Régio elevando Fortaleza à categoria de cidade com o nome de Fortaleza de Nova Bragança, numa “modesta” homenagem a família do imperador. O nome não durou muito. A elevação do status da capital não pode deixar de ser vista como um reconhecimento ao crescimento da cidade, e à sua crescente importância política.
Em 1824, atracou em Fortaleza, a esquadra do mercenário inglês Lord Cochrane para intensificar  a repressão à Confederação do Equador , movimento separatista que visava criar no que hoje chamamos Nordeste, uma República independente.  Vale lembrar que à época não havia uma identidade nacional ou um Estado nacional brasileiro consolidado, sendo perfeitamente compreensível que várias revoltas tivessem caráter separatista. O movimento foi brutalmente sufocado em um banho de sangue. A unidade territorial brasileira, imposta a partir do atual Sudeste, foi implantada com enorme truculência.


Rua Major Facundo no início do século XX

Não se pode exagerar acerca da prosperidade material da cidade. Historiadores apontam a pobreza, as grandes deficiências estruturais da cidade, e os problemas enfrentados pelos fortalezenses na primeira metade do século XIX.  Podem-se notar as próprias demandas por mais estruturas urbanas como um sinal da lenta expansão da capital, evidenciando também o descompasso entre o crescimento econômico, a administração pública e o aumento da população. Embora imprecisos, estima-se o número de habitantes em 1808 era de 9.624 pessoas; em 1816, cerca de 12 mil e em 1863, mais de 16 mil moradores.


Rua Barão do Rio Branco, antiga Rua Formosa (anos 20)

Em relatório do presidente da Província, de 1839, o porto de Fortaleza apresentava-se extremamente precário; e sabe-se pelos relatos de viajantes estrangeiros que o embarque e desembarque de mercadorias constituía-se quase uma aventura, havendo vez por outra acidentes e mortes. 
O acesso ao denominado Porto da Prainha era complicado, pelo número de áreas pantanosas nas proximidades, e pela má conservação desse trapiche, as estradas, embora algumas delas tenham sido abertas nesse período, eram ainda em número insuficiente para escoar a produção sertaneja, sem falar que a conservação dessas estradas, igualmente deixavam a desejar. 
As ruas da cidade não tinham pavimentação e eram constantes as reclamações acerca do areal frouxo no qual atolavam os carros de bois e das rajadas de vento que atingiam os transeuntes.


Porto de Fortaleza ainda em construção na Praia do Peixe em 1889 (atual Praia de Iracema). Nesse dia desembarcou em Fortaleza o Conde D'Eu. 

A capital apresentava várias áreas pantanosas (como as da Prainha e as margens do Rio Cocó) verdadeiras ameaças à saúde pública e escasseava os recursos para aterrá-las. As pontes eram poucas e também se achavam em péssimo estado de conservação, o que dificultava a passagem de cavaleiros, pedestres e carroças com produtos.
O relatório de 1850, do presidente Fausto Aguiar falava do problema e solicitava parte do orçamento provincial para contorna-lo. 

Praça General Tibúrcio (antigo largo do Palácio) em 1856

Havia reclamações sobre a escuridão das ruas e sobre a necessidade da iluminação artificial, concebida não apenas como sinal de progresso, mas, sobretudo, por questão de segurança, visto que os gatunos agiam com frequência. Com muito esforço o governo provincial comprou, em 1838, cinquenta lampiões, os quais, porém, ficaram anos sem funcionar porque a Câmara dos Vereadores não tinha recursos para comprar azeite. A população que procurasse solução com suas lamparinas, velas toscas e mal cheirosas e tratasse de se recolher cedo às suas casas, fechando bem portas e janelas.
O comércio continuava frágil, e apesar do crescimento dos negócios envolvendo a lavoura algodoeira de exportação, até fins da década de 1840 a maior parte da renda da província vinha das negociações internas envolvendo a pecuária.


fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro de Artur Bruno e Aírton de Farias
Fortaleza, uma breve história

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