terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Começo da Expansão da Vila de Fortaleza


Planta do Porto e Vila de Fortaleza, de autoria de Silva Paulet

Mesmo depois da separação de Pernambuco em 1799 e do desenvolvimento do comércio de exportação do algodão, Fortaleza não reunia condições econômicas e administrativas para iniciar um processo de desenvolvimento capaz de romper a hegemonia até então, de Aracati. De início da permissão para comercializar diretamente com Portugal não livrou a capitania da intermediação de Recife. Muitos comerciantes locais continuaram a negociar por meio de Pernambuco, mesmo porque o Ceará não possuía ancoradouros adequados para  receber novos navios a vapor, de calado maior.

edifício da Alfândega (arquivo Nirez)

Fortaleza teve um crescimento lento. Os relatos que se tem sobre o povoado, fossem de autoridades ou de viajantes estrangeiros, apontavam nas décadas  iniciais do século XX, uma vila pequena, sem despertar atenção. Em um documento elaborado pelo primeiro governador cearense pós-separação de Pernambuco, Bernardo Manuel de Vasconcelos (1799-1802), a vila é descrita como um montão de areia profunda apresentando dos lados pequenas casas térreas, onde existe falta absoluta de todas as coisas de primeira necessidade, estando a riqueza depositadas nas mãos de dois ou três dos seus moradores...
Havia nesse momento um esforço por parte das autoridades coloniais de centralização do poder – o que perduraria por todo o século XIX – de tornar a presença da Coroa mais forte por todo o Brasil e no Ceará, buscando diminuir a autonomia gozada pelos senhores proprietários, que não raras vezes, tomavam decisões que contrariavam os interesses metropolitanos.
Aqueles eram tempos difíceis e conturbados na Europa (Revolução Francesa de 1789, período Napoleônico) e na América (Independência das 13 colônias/Estados Unidos do Haiti). Portugal necessitava estar mais presente no Brasil, sua principal colônia, o que por outro lado, poderia trazer mais rendimentos econômicos para a decadente Coroa Lusitana.
Nessa conjuntura, a capital cearense passou a ser mais valorizada, fosse com benefícios de ordem material e administrativa, ou como centro de poder, de onde saíam decisões e vontades da Coroa para todo o território da capitania.

Trapiche da Prainha (arquivo Nirez)

O fato fica evidente quando se percebe algumas medidas tomadas pelas autoridades cearenses no começo do século XIX. Desse período datam: a instalação de Mesas de Inspeção do Algodão (para garantir maiores vendas por meio do controle de qualidade do produto, uma das exigências dos importadores ingleses), não apenas nos portos de Aracati e de Acaraú (este vinculado a Sobral), até então os dois mais movimentados do Ceará, mas igualmente no precário e pouco dinâmico porto de Fortaleza;  erguimento de um molhe e de um trapiche para embarque e desembarque no litoral de Fortaleza – na Prainha, em frente à vila – cuja precariedade era criticada; a construção de estradas ligando a capital ao interior, para melhor escoar a produção sertaneja e igualmente impor mais autoridade governamental sobre os latifundiários, o que ampliava igualmente o raio de influência de Fortaleza; a decretação, em 1803, de lei determinando a redução de 50% nas tarifas alfandegárias dos produtos exportados por Fortaleza;  instalação da Alfândega, da Junta da fazenda (encarregada da arrecadação de impostos) e dos Correios.

Porto da Prainha (arquivo Nirez)

Outro elemento de ordem material e simbólica, que visava demonstrar o poder da autoridade metropolitana do Ceará  e em Fortaleza, foi a reconstrução em alvenaria, na gestão do governador Inácio de Sampaio (1812-1820) do Forte de N.S. da Assunção, o qual se encontrava em avançado estado de deterioração.
O forte foi reconstruído com base em projeto do arquiteto português Antônio José da Silva Paulet e que contou com inúmeras doações de latifundiários. Em torno do Forte, efetivamente ocorrera a colonização portuguesa na terra e agora, era da Vila do Forte que cada vez mais sairiam as ordens as quais todos deveriam se submeter.

Rua Major Facundo, início do século XX (arquivo Nirez)

Num sinal de crescimento lento de Fortaleza, mas também uma evidência do poder da autoridade colonial foi elaborado o primeiro plano urbanístico da capital cearense em 1818, pelo mesmo Silva Paulet. Adotou-se para o povoado o traçado em xadrez ou retângulo, com as ruas se cortando em ângulo de 90°, o modelo mais aconselhado e dominante então, e que seria mantido em planos futuros.
Desejava-se com a Planta de Paulet, disciplinar o crescimento da vila. Contudo, organizar e aformosear Fortaleza não podem ser dissociados de uma forma de mostrar a força dos governantes, afinal era da capital que emanavam as decisões que deveria controlar a vida da população.

Extraído do livro de Artur Bruno e Aírton de Farias
Fortaleza, uma breve história
   

Um comentário:

Antônio Salles disse...

Acervo maravilhoso. Congratulações aos moderadores e proprietários do Blog.