sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Da Salina Diogo ao Parque do Cocó


Salina Diogo (foto Arquivo Nirez)

Nos anos 1960 aquela região onde hoje se encontra o Parque do Cocó, era uma área de muitos sítios, entre eles o Sítio Diogo, que ia desde os trilhos até a foz do Rio Cocó. A ocupação era rarefeita, baixíssima densidade demográfica.   No sitio, funcionava a Salina Diogo. Não existia nada além da exploração do sal.  

Salina Diogo (foto de Elian Machado)

A produção era artesanal, as condições de trabalho bastante desfavoráveis. Os salineiros exerciam seu ofício debaixo do sol forte, expostos ao vento e a água salgada, sofriam queimaduras, insolação, cegueira,  envelhecimento precoce ou morte prematura.  
A partir dos anos 70 é que começa o ocupação da área, Fortaleza ultrapassa o trilho, com a construção do Hospital Geral. A abertura da avenida Santos Dumont liga o Centro da cidade à praia. Mas é com a construção da UNIFOR - Universidade de Fortaleza, no início da década de 70 e o Shopping Iguatemi, quase 10 anos depois,  que a ocupação cresce aceleradamente, tornando-se polo de serviços, comércio e lazer.

 Primeiros registros de urbanização da zona leste - 1981  (foto de Gentil Barreira do Livro Viva Fortaleza)

Enquanto a cidade chega à região, a Salina Diogo passa por momentos difíceisA Região Oeste litorânea do vizinho Estado do Rio Grande do Norte, que hoje  concentra  95% da produção e distribuição de sal no país, passa por um processo de industrialização da produção do sal, substituindo o salineiro por máquinas. 
As salinas urbanas de outras regiões, não somente do Ceará, cederam lugar às condições históricas e ao crescimento da produção industrial do sal no Rio Grande do Norte. Nelas o homem foi substituído pelo trator, esteira, colheitadeira, navio. 
A produção da Salina Diogo entra em declínio e encerra as atividades em definitivo no ano de 1980. Toda a produção artesanal de sal do Ceará, inclusive do interior, foi abandonada em virtude desse processo de industrialização do sal que se iniciava e expandia no Rio Grande do Norte, com maior produtividade a preços menores

 A área já com o Iguatemi, construído em 1982. Nota-se que a vegetação está em pleno processo de regeneração. A foto deve ser da segunda metade dos anos 80 (arquivo Nirez)

Com o fim da salina, o mangue começa a se regenerar, alimentado pelos esgotos que eram lançados diretamente no rio Cocó. Não existiam estações de tratamento na região, o que favoreceu a fertilização do mangue e a recuperação daquele ecossistema costeiro, que recebe, também, muita influência da maré. 
O shopping foi construído em 1982, após parte dos terrenos que compunham o Sítio Diogo, terem sido vendidos pela familia Diogo ao Grupo Jereissati. Apesar da regeneração da área, da presença do rio Cocó e seus ecossistemas associados, o Parque do Cocó só foi criado em 5 de setembro de 1989. 

 área assinalada dentro do Parque do Cocó: ruínas da Salina Diogo (foto do acervo do blog) 
  
Atualmente na área que abrigava a antiga salina, encontra-se o Parque do Cocó, cujos limites nunca foram demarcados, o que enseja a ocupação da área por empreendimentos privados e condomínios de luxo. Apesar dos decretos de desapropriação dos terrenos terem sido emitidos ainda em 1989, a área continua sendo objeto de disputa e de controvérsias: em 2007, a prefeitura autorizou a construção do Iguatemi Empresarial, uma torre de 15 andares ao lado do Shopping, localizada próximo às margens do rio Cocó.   

... e a luta continua ...

Fontes:
Jornal Diário do Nordeste
SEMACE
Wikipédia
O Nordeste 
 

5 comentários:

Liberdade disse...

Ola! Seus comentários sobre a região do Cocó são boas. Mas infelizmente há grave erro quanto ao Manguezal.
o mangue é uma vegetação que precisa de sedimento do mar... SAL principalmente. Esgoto e água doce é altamente prejudicial ao mesmo... te pergunto: você já viu algum bananeira nas margens de uma foz de um rio.
O rio Cocó hoje é um rio morto... o desenvolvimento do plator da cidade o transformou num esgoto a céu aberto. Hoje o que temos é pantano e enfim
Mangue o útero do mar... precisa de água salgada.

Nil disse...

Quer dizer que o motivo do florestamento não foi pelo motivo do esgoto?

Anônimo disse...

A Prefeitura não autorizou a construção do Iguatemi Empresarial! Na verdade ela tentou, por diversas vezes, embargar a obra. Nessa briga venceu o poder ecônomico.

Atthos disse...

Sou de Santa Quitéria CE, criado na rua Bárbara de Alencar, próximo ao antigo Roncy na Av Antonio Sales e nas férias era o passatempo favorito, pescar no mangue, ainda existia as salinas, praia do futuro, era só o futuro, sempre ia, mas era uma aventura, barracas nem existia, quando menino peguei muito caranguejo é peixe no Cocó, hoje é só poluição.

Anônimo disse...

Infelizmente o rio cocó hoje é apenas um esgoto a céu aberto