quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O Desenvolvimento de Fortaleza na Visão dos seus Cronistas

Antônio Rodrigues Ferreira Filho - O Boticário Ferreira - (1801-1859) presidente da Câmara Municipal; realizou diversas obras públicas e melhoramentos urbanos na capital (retrato do acervo do Museu do Ceará)

Lei Municipal de 6 de dezembro de 1842 autorizava a reforma do plano da cidade de Fortaleza, eliminando-se dele a Rua do Cotovelo, a fim de fazer-se uma praça com o nome de D. Pedro II. E quem iria executá-la seria o chamado Boticário Ferreira – Antônio Rodrigues Ferreira Filho – já eleito presidente da Câmara, em 3 de março do ano seguinte. Nessa qualidade era o executor das decisões do Colegiado e nela permaneceu até falecer, em 29 de abril de 1859, aos 58 anos de idade. 
A história de Fortaleza passa, todo esse tempo pela ação do Boticário, resguardando, tenazmente, a sua boa expansão urbana. Com a eliminação da viela do Cotovelo, estaria preparada a praça, que de fato, recebeu o nome do Imperador. Ai  instalou ele a sua célebre Botica, na Rua da Palma, mais tarde, Major Facundo. Chamaram-lhe também, Praça Municipal, até que foi batizada de Praça do Ferreira, ainda hoje, o coração da urbe.

 Rua Major Facundo já se chamou Rua Nova del Rei por volta de 1828 e em 1856 teve dois nomes: do início até a Praça do Ferreira era a Rua da Palma e da praça até o final, Rua do Fogo. Em 1888 recebeu o nome de Rua do Major Facundo. 

Fortaleza em 1845 tinha uma população não maior de 5.000 habitantes, pequena e atrasada. Nas palavras de uma crônica escrita por um certo autor de codinome Outro Aramac, que se supõe fosse João Brígido – pois o trabalho saiu publicado em edições sucessivas do Jornal Unitário – a cidade “era um areal movendo-se à mercê da ventania, a mudar constantemente de nível nas zonas descobertas, salvo os da depressão do solo”. A rigor, só depois de meados do século XIX, a capital do Ceará experimenta mais alentos na sua vida social, econômica e cultural. Aos poucos, recebe os componentes  de uma infraestrutura mais adequada, capazes de emparelha-la às capitais mais adiantadas do País.

Rua Floriano Peixoto, que já se chamou Rua da Boa Vista, Del Rei, da Alegria. O nome atual é uma homenagem ao 2° presidente republicano, que nunca sequer esteve no Ceará.

Chegam os calçamentos, a iluminação à gás carbônico, o serviço de abastecimento d’água, o transporte coletivo, o telégrafo, o telefone, a via-férrea ligando-a ao sertão, trazendo passageiros e cargas, o que favorece o seu comércio, já impulsionado com o melhor movimento das exportações marítimas, com os navios a vapor, que chegavam regularmente. Primeiro os da Companhia Maranhense, depois os Booth Steam Co. Ltd. E os da Red Cross Line of Mail Steamers, estas duas últimas fazendo o intercâmbio com as praças da Europa.

prédio do Batalhão de Segurança, depois Escola Aprendizes Artífices, na esquina de General Sampaio com Liberato Barroso na Praça Marques de Herval (atual José de Alencar). Hoje no local está o jardim do teatro José de Alencar. Foto de 1867 

Relata o Senador Pompeu, em seu Ensaio Estatístico de 1863, que são oito extensas ruas, muito direitas, espaçosas e calçadas; 960 são as casas de tijolos alinhadas, entre elas estão uns 80 sobrados para uma população de cerca de 16.000 habitantes. Esta no recenseamento de 1872, subirá para 21.372, ocupando 4.380 casas térreas afora 1178 casebres. 
Em 1895, Antônio Bezerra escreveu para a Revista do Instituto do Ceará que, à exceção de pequeno defeito de alinhamento no trecho onde de acha a Rua Sena Madureira, defeito de edificação dos tempos coloniais, a área média da cidade até onde tem chegado a construção alinhada pela Câmara Municipal contém 5 km quadrados e 985.000 metros em 54 ruas, que se dirigem proximamente de norte a sul, e 27 de nascente a poente, todas paralelas, bem alinhadas com 13.33m de largura cada uma, formando quadros, cuja regularidade lhes imprime certo ar de elegância e harmonia. 
 Rua 25 de março, data da libertação total dos escravos no Ceará
  
Além destas, tem ainda 3 boulevards, com a largura de 22,22m, verdadeiros ventiladores da cidade, que a circundam pelo lado leste, sul e oeste e concorrem de modo poderoso para sua reconhecida salubridade. Tem 14 praças, algumas devidamente arborizadas. As casas em grande parte de agradável construção, tem as frentes elevadas sobre as quais coroam elegantes cimalhas, sendo todas bizarramente pintadas de cores alegres que atraem a simpatia dos visitantes, e modificam a intensidade da luz do sol.

Avenida Dom Manuel antigo Boulevard da Conceição, Avenida Nogueira Accioly, Boulevard Dom Manuel e Avenida Dom Luiz. A partir de 1934 passou a se chamar Avenida Dom Manuel em homenagem ao baiano Manuel da Silva Gomes, terceiro bispo do Ceará e primeiro arcebispo metropolitano de Fortaleza.

O cronista não aponta o número de habitantes da urbe, mas esclarece que segundo o último lançamento para a cobrança da décima urbana (imposto predial), conta a cidade com 6.154 prédios de tijolos e entre estes, poucos sobrados, pois que os habitantes preferem as casas assobradadas ou mais vulgarmente as casas de portas altas e rasgadas até o chão, com parapeitos de grade de ferro em vez de janelas pesadas, sem graça, que embaraçavam as correntes do ar e da luz nas habitações. O livro de Antônio Bezerra “Descrição da Cidade de Fortaleza” vale como um desenho fiel da cidade no fim do século XIX, cinco anos antes de abrir-se o século XX.


Extraído do livro de Raimundo Girão 
Fortaleza e a Crônica Histórica
fotos do Arquivo Nirez

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