terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Alberto Nepomuceno Criador do Nacionalismo Musical


Na antiga Rua da Amélia, atual Senador Pompeu, lado da sombra, no início do quarteirão entre as ruas Liberato Barroso (antiga das trincheiras) e Pedro Pereira (antiga Rua São Bernardo), existiu até meados da década de 1970, uma casa de porta e janela em varanda, em cuja parede frontal estava uma placa de bronze que dizia que ali havia nascido o compositor e maestro Alberto Nepomuceno. 

 Rua Senador Pompeu, antiga Rua da Amélia na década de 1950 (arquivo Nirez)

Naquela casa relativamente modesta da antiga Rua da Amélia, na cidade de Fortaleza, Alberto Nepomuceno veio ao mundo no dia 6 de julho de 1864, filho do maestro Victor Augusto Nepomuceno e de Dona Maria Virgínia Nepomuceno, também musicista, por influência do marido. Vivendo a infância e a primeira juventude em Recife, para onde a família se mudou logo após o seu nascimento, Alberto Nepomuceno já ali desfrutava de razoável prestigio, tanto que aos 18 anos, tendo morrido seu pai, viu-se guindado à condição de diretor de concertos do Clube Carlos Gomes.


A Avenida Alberto Nepomuceno já foi chamada de “Caminho da Praia”. 
Como existia uma ponte de madeira sobre o Rio Pajeú, a rua passou a se chamar Rua da Ponte, isto em 1856. Depois se chamou Rua Alberto Nepomuceno,  em 1889. No ano seguinte, quando as ruas receberam números ela passou a ser a número 7, voltando depois ao antigo nome.Na gestão do prefeito Ildefonso Albano, entre 1912 e 1914, a avenida foi alargada e pavimentada com calçamento, passando a ser denominada Avenida Alberto Nepomuceno. (arquivo Nirez)

Depois de algum tempo de trabalho na capital de Pernambuco, nem sempre materialmente  compensado, o jovem músico retorna ao Ceará. Encontra Fortaleza vivendo o período inicial de sua vida artístico-social, com a mocidade intelectual estimulada pela cultura e comunicabilidade de Antônio Caio Prado, irmão do escritor Eduardo Prado, que viera de São Paulo para governar a província do Ceará. 
Em Fortaleza entregou-se ao magistério musical, alimentando o desejo de enveredar  por horizontes mais largos. Assim deixou o convívio da mãe e de uma irmã, sem recomendações válidas e com recursos escassos, e partiu para o Rio de Janeiro.  No Rio de Janeiro foi aceito no Clube Beethoven, como virtuoso, participando de concertos o lado de violinistas famosos, como Artur Napoleão.  Com a ajuda financeira de alguns amigos bem situados na vida e donos de prestigio, o compositor viajou para a Europa com o objetivo de estudar e se renovar musicalmente. Antes de embarcar,contudo, Nepomuceno resolve empreender uma série de concertos nas capitais do Norte, a pretexto de acumular recursos, e assim, em 1887, dá vários recitais para a sociedade fortalezense, que então frequentava assiduamente os salões do tradicional Clube Iracema, então agregado a seu quadro social a uma outra entidade – o Clube dos Diários. 

 Um dos salões do Clube Iracema, que funcionava nos altos doPalacete Ceará (foto do livro Ah, Fortaleza!)

Embarcou para a Europa em 1888. Primeiro estágio, Roma, o centro por excelência. Ali recebeu aulas de maestros famosos. Enquanto o maestro estagiava em Roma, depois de  proclamada a República no Brasil, instituiu-se um concurso para o hino comemorativo ao evento. Nepomuceno concorre, mesmo à distância, e fica com sua composição em segundo lugar, o que lhe dá por prêmio uma pensão de 550 francos mensais durante quatro anos. Com o reforço no orçamento de bolsista pela pensão conseguida com o segundo lugar, Nepomuceno passa para Zurique, onde estuda a língua alemã e assiste grandes espetáculos musicais, tendo ali a honra de ver executadas musicas de sua autoria. De Zurique vai para Berlim e entra para a Escola dos Mestres; deixando a Alemanha vai para Paris, por conta do prolongamento por mais dois anos de sua bolsa de estudos. Ali se dedica ao estudo de órgão, instrumento cuja versatilidade muito o impressionava.


Instituto Nacional de Música do RJ (foto revista ponto com) 

Eram passados sete anos quando Alberto Nepomuceno retornou ao Brasil. Chegando ao Rio de Janeiro, em 1895, assume o lugar de professor de órgão do Instituto Nacional de Música. Mas o que predominava em Nepomuceno era o compositor. Assim, ao lado de suas atividades como professor e instrumentalista, tão logo chegou ao Rio de Janeiro, deu início à produção da sua mensagem renovadora. Sua preocupação era conseguir que o público brasileiro, representado vagamente pelo da metrópole, deixasse o exagerado gosto pela música estrangeira, e passasse a sentir, através da música erudita que ele criava. Nepomuceno bem conhecia os maus hábitos e os preconceitos europeus das chamadas elites artísticas, herança da corte portuguesa quando predominava no Rio de Janeiro. Assim, cônscio da batalha que teria pela frente, defende a tese de que os compositores eruditos brasileiros deveriam buscar para suas peças, motivos nacionais, ou seja, irem diretamente às raízes folclóricas brasileiras. 

 foto: http://www.panoramio.com/photo/21116268
entidade formada em 26 de maio de 1938 presidida pelos musicistas Paurillo Barroso e Alberto Klein. Recebeu esse nome em homenagem ao compositor e maestro cearense.

Pelo conjunto da obra Alberto Nepomuceno é considerado o primeiro grande músico brasileiro a explorar e utilizar conscientemente o nosso folclore, não apenas na música instrumental, mas também no tocante à música de canto.


extraído do livro de Otacílio Colares
crônicas da Fortaleza e do Siará Grande

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