quarta-feira, 9 de maio de 2012

Tempos de Guerra: Blackout e Racionamento em Fortaleza


O país ingressa nos anos 1940 colhendo os traumas da guerra que devastava a Europa.  Há repercussão interna no campo ideológico e na postura governamental.  Para o Ceará, o impacto da segunda guerra é acentuado por sinais visíveis desse momento na vida nacional. Não é apenas o noticiário dando conta de afundamentos de navios brasileiros por submarinos inimigos: Buarque, Olinda, Cairu, Cabedelo, Parnaíba, Alegrete, Pedrinhas, Tamandaré, Baependi, Aníbal Benévolo, Itagiba, Araraquara, Araras, Lage, Osório, são notícias constantes nos jornais, com narrativas dramáticas dos naufrágios.  
Depois, começaram a chegar a Fortaleza, os próprios náufragos, os americanos sobreviventes recolhidos nas praias de Camocim,  após o torpedeamento do “Eugen”, os noruegueses do “Balkis”, afundado a 63 milhas de Fortaleza, recebidos e abrigados no Astória Hotel. 

 Dirigivel (blimp) da marinha Americana em serviço de patrulhamento na costa cearense

A história da capital ficou marcada por todos esses eventos: manifestações antifascistas, mobilização de reservistas para o serviço ativo do exército, a presença nas ruas das Pirâmides para a Vitória, a intensa movimentação área das bases do Pici e Cocorote, a partida dos pracinhas cearenses para a Itália, a presença dos militares americanos, hostilidades contra súditos do Eixo, o racionamento de combustíveis, os transportes movidos a gasogênio, os dirigíveis nos céus da cidade.

 Bombardeiro B-25 nos céus de Fortaleza

Em 1942 tem início os exercícios de defesa passiva antiaérea, após ampla divulgação para a população e determinações  rígidas para os serviços públicos. O sinal de alarme era dado por meio de sirenes e sinos, com toques repetidos em breves intervalos.  Os pedestres deveriam procurar abrigo nos edifícios mais próximos, casas comerciais, igrejas, etc. e nas áreas descobertas deitar-se de bruços para escapar dos efeitos as explosões.  
Os meios de transporte  deveriam paralisar imediatamente, todos os veículos. Os motorneiros deveriam retirar os bondes de pontos de cruzamento ou curvas e estacioná-los, liberando o trânsito.  Os passageiros deveriam abandonar o veículo e adotar a mesma postura dos pedestres. A decisão mais importante nessa fase foi a decretação de rigoroso blackout  na região costeira do Ceará. A execução dessa medida ocorreu na noite de 15 de dezembro de 1942, quando foram apagadas as luzes internas dos prédios às 19h30min horas e o blackout total da cidade por volta das 20 horas. No primeiro dia, o corte de energia foi feito por desligamento na própria usina, posteriormente a responsabilidade foi transferida para a população. 

 Desfile dos integrantes da Força Expedicionária Brasileira, antes do embarque para a Itália (arquivo Nirez)

Vários ensaios simulando um ataque aéreo foram realizados, as sirenes tocavam e os moradores colocavam em prática as instruções recebidas.  As luzes das casas, das ruas eram apagadas, os automóveis apagavam os faróis, os bondes tinham as lanças desprendidas, enfim, qualquer indicio luminoso que pudesse servir de alvo.
Além disso, as famílias eram orientadas a cobrirem abajures e luminárias, a pintarem de preto as vidraças das janelas e portas, impedindo que à noite a cidade ficasse vulnerável, principalmente as residências mais próximas da orla marítima. 

 Em 1943, dois anos antes do encerramento do conflito, os alunos da Faculdade de Direito ergueram o obelisco da Praça Clóvis Beviláqua em comemoração à (futura) vitória contra os países do Eixo. (arquivo Nirez)

Houve racionamento de comida, combustível e energia, formavam-se grandes filas para adquirir produtos básicos. Por medida de economia,  restringiu-se, depois se proibiu a circulação de carros particulares, que usavam gasogênio  devido a falta de gasolina. Foi decretado toque de recolher às 22 horas, patrulhas do exército vasculhavam as ruas e foi criada a figura do Inspetor de quarteirão, que deveria vigiar o comportamento das demais famílias. O medo e as privações perduraram até maio de 1945, quando o conflito foi encerrado com a vitória dos aliados.

Pesquisa:
Fortaleza uma breve história, de Artur Bruno e Aírton de Farias
História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite

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