O país ingressa nos anos 1940 colhendo os traumas da guerra
que devastava a Europa. Há repercussão
interna no campo ideológico e na postura governamental. Para o Ceará, o impacto da segunda guerra é
acentuado por sinais visíveis desse momento na vida nacional. Não é apenas o noticiário
dando conta de afundamentos de navios brasileiros por submarinos inimigos: Buarque,
Olinda, Cairu, Cabedelo, Parnaíba, Alegrete, Pedrinhas, Tamandaré, Baependi, Aníbal
Benévolo, Itagiba, Araraquara, Araras, Lage, Osório, são notícias constantes
nos jornais, com narrativas dramáticas dos naufrágios.
Depois, começaram a chegar a Fortaleza, os
próprios náufragos, os americanos sobreviventes recolhidos nas praias de Camocim,
após o torpedeamento do “Eugen”, os noruegueses
do “Balkis”, afundado a 63 milhas de Fortaleza, recebidos e abrigados no
Astória Hotel.
Dirigivel (blimp) da marinha Americana em serviço de patrulhamento na costa cearense
A história da capital ficou marcada por todos esses eventos:
manifestações antifascistas, mobilização de reservistas para o serviço ativo do
exército, a presença nas ruas das Pirâmides para a Vitória, a intensa
movimentação área das bases do Pici e Cocorote, a partida dos pracinhas
cearenses para a Itália, a presença dos militares americanos, hostilidades
contra súditos do Eixo, o racionamento de combustíveis, os transportes movidos a
gasogênio, os dirigíveis nos céus da cidade.
Bombardeiro B-25 nos céus de Fortaleza
Em 1942 tem início os exercícios de defesa passiva antiaérea,
após ampla divulgação para a população e determinações rígidas para os serviços públicos. O sinal de
alarme era dado por meio de sirenes e sinos, com toques repetidos em breves
intervalos. Os pedestres deveriam
procurar abrigo nos edifícios mais próximos, casas comerciais, igrejas, etc. e
nas áreas descobertas deitar-se de bruços para escapar dos efeitos as
explosões.
Os meios de transporte deveriam paralisar imediatamente, todos os
veículos. Os motorneiros deveriam retirar os bondes de pontos de cruzamento ou
curvas e estacioná-los, liberando o trânsito. Os passageiros deveriam abandonar o veículo e
adotar a mesma postura dos pedestres. A decisão mais importante nessa fase foi
a decretação de rigoroso blackout na
região costeira do Ceará. A execução dessa medida ocorreu na noite de 15 de
dezembro de 1942, quando foram apagadas as luzes internas dos prédios às 19h30min
horas e o blackout total da cidade por volta das 20 horas. No primeiro dia, o
corte de energia foi feito por desligamento na própria usina, posteriormente a
responsabilidade foi transferida para a população.
Desfile dos integrantes da Força Expedicionária Brasileira, antes do embarque para a Itália (arquivo Nirez)
Vários ensaios simulando um ataque aéreo foram realizados,
as sirenes tocavam e os moradores colocavam em prática as instruções
recebidas. As luzes das casas, das ruas
eram apagadas, os automóveis apagavam os faróis, os bondes tinham as lanças
desprendidas, enfim, qualquer indicio luminoso que pudesse servir de alvo.
Além disso, as famílias eram orientadas a cobrirem abajures e luminárias, a pintarem de preto as vidraças das janelas e
portas, impedindo que à noite a cidade ficasse vulnerável, principalmente as
residências mais próximas da orla marítima.
Em 1943, dois anos antes do encerramento do conflito, os alunos da Faculdade de Direito ergueram o obelisco da Praça Clóvis Beviláqua em comemoração à (futura) vitória contra os países do Eixo. (arquivo Nirez)
Houve racionamento de comida, combustível e energia, formavam-se
grandes filas para adquirir produtos básicos. Por medida de economia, restringiu-se, depois se proibiu a circulação
de carros particulares, que usavam gasogênio devido a falta de gasolina. Foi decretado
toque de recolher às 22 horas, patrulhas do exército vasculhavam as ruas e foi
criada a figura do Inspetor de quarteirão, que deveria vigiar o comportamento
das demais famílias. O medo e as privações perduraram até maio de 1945, quando
o conflito foi encerrado com a vitória dos aliados.
Pesquisa:
Fortaleza
uma breve história, de Artur Bruno e Aírton de Farias
História da
Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite
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