sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Povo nas Ruas

A segunda guerra estourou a 1° de setembro de 1939, quando as tropas de Hitler invadiram a Polônia, rompendo os acordos pacifistas celebrados entre os governos da Alemanha nazista e os da Inglaterra e França, através dos  quais um pedaço do território tcheco foi sacrificado em favor das pretensões expansionistas da Alemanha.
Era um quadro que exigia definições políticas dos demais países. A Itália fascista, ideologicamente identificada com o nazismo, tomou posição ao lado de Hitler. O Japão, onde o militarismo controlava o poder simbolicamente exercido pelo imperador Hiroito, fez o mesmo.  Em sentido oposto, Inglaterra e Franca deram por encerrado o período de concessões e tolerância para com a disposição alemã de expandir suas fronteiras e dominar mercados.

Além de Estados Unidos e Canadá, o Brasil foi o único país das Américas a entrar na Segunda Guerra Mundial

No Brasil, dois anos antes de começar o conflito, Getúlio Vargas implantara o Estado Novo, apoiado pelo esquema militar direitista que prevalecia no organismo interno oficial, a tal ponto que o general Góes Monteiro, Ministro da Guerra (comandante das forças armadas do país) recebera um convite do Governo alemão, através do seu embaixador no Brasil, para participar de manobras do exército nazista.
O grande complexo industrial germânico, liderado pela Krupp, que conseguira transformar a máquina bélica de seu país e na maior e mais poderosa do mundo, enviava propostas tentadoras ao governo brasileiro, com vistas a construção de uma siderúrgica, sonho acalentado por Vargas.


Em 1943, o Presidente norte- americano Roosvelt visita a Base de Natal 

Já em 1940, num encontro com altos comandantes militares, a bordo do encouraçado Minas Gerais, Getúlio pronunciou um discurso francamente simpático à causa hitlerista, o que levou o escritor cearense Gustavo Barroso, pertencente às fileiras do Integralismo, a elogia-lo publicamente.  
O navio brasileiro Siqueira Campos, abarrotado de armas alemãs para o exército brasileiro, foi aprisionado pela marinha inglesa, gerando um incidente diplomático de grande repercussão, o que levou o general Eurico Dutra a sugerir a declaração de guerra à Grã-Bretanha, o que se tivesse se consumado, significaria o engajamento oficial do Brasil ao Eixo, integrado por Alemanha, Itália e Japão.


O Navio Baependi, afundado na noite do dia 15 de agosto de 1942, por um  submarino alemão que resultou na morte de 270 pessoas.

Pressentindo o perigoso rumo tomado pelo governo brasileiro, os Estados Unidos, ainda neutros , mas já colaborando com a Inglaterra, ofereceram um empréstimo de 20 milhões de dólares para Getúlio montar sua siderúrgica. A Usina de Volta Redonda começou a ser  construída em 1941.
O ano de 1941 reservaria dois eventos decisivos para os caminhos da guerra: a invasão da União Soviética pelo exército alemão, e o ataque japonês à base americana de Pearl Harbour, destruindo grande parte da esquadra dos Estados Unidos.
No âmbito do Governo Vargas começa um processo de desagregação por conta do posicionamento nacional face ao conflito. O grupo democrático, cujo principal destaque era o Ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha, conseguiu se sobrepor aos simpatizantes do nazismo, resultando disso a demissão de Felinto Muller, Chefe de Polícia do Distrito Federal, do advogado Francisco Campos, responsável pela elaboração da Constituição do Estado Novo, e Lourival Fontes, o "Dr. Goebels" tupiniquim.


Navio brasileiro Alcântara, afundado na Baía de Guanabara pelos alemães 

Enquanto isso tinha inicio as manifestações populares contra a Alemanha, e a favor da entrada do Brasil na guerra ao lado das nações democráticas. Os protestos se acirraram a partir de 1942, quando submarinos alemães afundam o cargueiro Cabedelo, o primeiro de 36 navios nacionais destruídos pelos submarinos nazistas no Atlântico Sul.
A cada afundamento de nossos barcos - entre os quais alguns de passageiros como o transatlântico Buarque, o Baependi, o Siqueira Campos - crescia a fúria popular.


A Praça do Ferreira sempre foi o espaço das grandes manifestações populares (foto da década de 1960, antes da reforma. Arquivo Nirez) 

A Praça do Ferreira, era o espaço das grandes manifestações antifascistas. O clímax desse estado de ânimo das massas brasileiras ocorreu no dia 18 de agosto de 1942, quando manifestações violentas deixaram o campo dos discursos e slogans, para descambar numa incontrolável desordem da massa encolerizada, que investiu contra tudo o que tivesse alguma vinculação com os países do Eixo.


A multidão toma o centro de Fortaleza em agosto de 1942, e promove uma violenta manifestação contra os países do Eixo e a indefinição do governo brasileiro diante do conflito. 

Centenas de estabelecimentos, pertencentes a alemães, italianos e japoneses foram invadidos, depredados e incendiados em todas as grandes cidades brasileiras, inclusive Fortaleza.  A cidade naquela época não passava de um burgo de pequeno a médio porte, com seus 200 mil habitantes, concentrando o grosso de sua movimentação urbana no centro.


As Lojas Pernambucanas, da firma Lundgren Tecidos, foi uma das atingidas pelo quebra-quebra (foto Ah, Fortaleza!)

A polícia do Estado Novo,  com destaque para um grupo de quepes vermelhos, a temível Polícia Especial, foi impotente para conter a multidão revoltada. Uma a uma, as lojas de alemães e italianos – Sapataria Veneza, Laboratório Bayer, As Pernambucanas (cujos proprietários nem eram alemães, mas foi confundida como tal, por conta de um dirigente que se expressava em língua alemã) – foram destruídas em poucas horas de turbulência.


A Casa Veneza, localizada na esquina das Ruas Liberato Barroso e Major Facundo, foi destruída durante a manifestação, fechou e tornou a abrir na década de 1980. Tempos depois, fechou em definitivo. O prédio encontra-se desocupado e até hoje ostenta o nome do estabelecimento. (foto de 1983 de Nelson Bezerra). 

Naquela ocasião apareceram os aproveitadores que promoveram um saque jamais visto em Fortaleza. Caminhões e outros veículos encostavam às portas dos estabelecimentos atingidos e carregavam montanhas de artigos, peças de tecidos, sapatos, caixas de medicamentos.
Treze dias depois das manifestações – que em Fortaleza chamaram de quebra-quebra – o governo Getúlio Vargas declarava oficialmente guerra aos países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão.  A segunda Guerra Mundial terminou no dia 2 de setembro de 1945.


manchete do Jornal O Povo anunciando o fim da guerra na Europa

Fonte:
O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza – Província, 
de Blanchard Girão

2 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

O que mais lembro, da 2ª guerra mundial, é que "aprendi" a falar "black aut" naquela época de tanto a mamãe falar " vai haver blecaute"...
Outra coisa, eram os dirigíveis(no modelo zepelim) que eu via passar e ficava com medo...

Fortaleza sentiu, os efeitos da guerra...
Gostei da matéria!

Fátima Garcia disse...

Lúcia,
dizem que a cidade não sofreu nenhum bombardeio, mas todos os dias se preparava p/isso. Deve ter sido um tempo bem dificil.