quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O antigo Bairro da Prainha

Vista do Porto de Fortaleza a partir da torre da Igreja da Conceição da Prainha (foto MIS)

Na outrora pacata capital do Ceará, se desfrutava de tranquilidade nos bairros, onde conviviam pacificamente famílias abastadas e carentes. As Cambirimbas e a Tijubana eram aglomerados da classe pobre, existentes respectivamente ao lado das espaçosas residências do velho Alagadiço e de Jacarecanga. A Cachorra Magra se agregava ao Benfica, bairro descoberto pelas famílias ricas da cidade. E, ao então simplório bairro do Outeiro, trecho de Fortaleza situado a Leste do riacho Pajeú, alcançado por caminhos diversos como o Corredor do Bispo (atual Rua Rufino de Alencar), o Beco do Pocinho e o início da futura Rua Pinto Madeira, se agregava a Prainha, alcançada também pela antiga Rua da Praia (atual Pessoa Anta) e habitada por pessoas de posses.

Inauguração de trecho da Avenida Leste Oeste em 1974. A inauguração da avenida determinou o desaparecimento da Rua Franco Rabelo

O bairro da Prainha compreendia não somente a parte  que fica abaixo da colina onde nossa cidade se assenta, mas se estendia à porção de cima, que dava frente para o areal hoje correspondente à Praça Cristo Redentor e ao início da Rua do Seminário, atualmente Avenida Monsenhor Tabosa.




A ladeira da Prainha em dois tempos, na primeira foto ainda existia a casa com a torre vigia onde morou o Mister Hull e na segunda foto, com o imóvel já demolido.

A Casa Boris, aqui estabelecida no século XIX e de grande importância social e econômica para a então provinciana cidade de Fortaleza 

Em sua parte mais elevada, na esquina noroeste da Rua Boris, hoje reduzida em sua extensão em decorrência da demolição da face norte da desaparecida Rua Franco Rabelo, e a atual Avenida Castelo Branco,  chamada popularmente de Leste Oeste, existia um velho solar pertencente ao coronel Solon da Costa e Silva, proprietário da Empresa Ferro-Carril – que explorava o serviço de bondes de tração animal, sucedida em 1914 pela Ceará Light concessionária do serviço de bondes elétricos.  O prédio foi demolido para o alargamento da Avenida Leste Oeste.

Neste local, onde havia inúmeros imóveis, está hoje o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

Neste prédio, onde funcionou até uma repartição do Estado, foi demolido e, no local, está a rampa de acesso ao centro Dragão do Mar. 

Ao lado do belo prédio em que se abriga a Biblioteca Pública, havia a casa n° 317 da desaparecida Rua Franco Rabelo, no início da avenida leste Oeste. Foi o primeiro bangalô construído em Fortaleza, iniciativa de Manuel Pio. Vizinho a esse prédio, existia outro na esquina com a atual Rua Almirante Jaceguai , que integra a Ladeira da Prainha, onde os bondes estacavam pela impossibilidade de subi-la. Nele residiu José Pio, irmão do proprietário do bangalô vizinho, e sua estampa consta do Álbum de Vistas do Ceará, editado em 1908. Depois foi residência de Francis Hull, cônsul inglês em nossa terra e gerente da Ceará Light, e autor de estudos sobre a problemática das secas. Também esse imóvel foi demolido e o terreno correspondente serve de estacionamento de automóveis ou atividade similar.


Olhando em diagonal, para a Praça Cristo Redentor e de frente para a Igreja da Conceição da Prainha, localiza-se o prédio outrora residência do Barão de São Leonardo, que correspondia aos n°s 5, 15 e 23 da Avenida Monsenhor Tabosa, antiga Rua do Seminário.
Vizinha a casa do barão, situava-se outra que hoje tem o número 39, onde residia no início do século passado grande poeta cearense que batizou rua da cidade, e foi preterido por um vereador qualquer, que renomeou a rua com o nome do pai, dono de um posto de gasolina ali situado. José Albano, poeta dos maiores, membro da família chefiada pelo Barão de Aratanha, morava na Prainha. Costumava descer a ladeira do bonde para banhar-se nas ondas que quebravam nas areia da então Praia do Peixe.


antiga Rua do Seminário, hoje Avenida Monsenhor Tabosa

No primeiro quarteirão, face sul da Avenida Monsenhor Tabosa, foi construído o prédio do Seminário Diocesano, e completando a quadra, com oitão para a Praça cristo Redentor, foi levantada a Igreja da Conceição.
Com referência à praça, antes de 1915, sua face oeste praticamente não existia, ocupada por casebres, motivo pelo qual foi fácil levantar o suntuoso prédio do Círculo Operário São José, uma das primeiras iniciativas do 3° bispo do Ceará, Dom Manuel da Silva Gomes. No centro da praça foi erguida, em 1922, uma coluna com a imagem do Cristo Redentor no seu topo, abençoando a cidade.  



Essa coluna foi construída em comemoração ao centenário da independência do Brasil, por inspiração de Raimundo Frota, grande benfeitor do Círculo Operário, tendo sido inaugurada em 7 de setembro de 1922. Enquanto os foguetes subiam ao céu, os quatro novos sinos da Igreja da Prainha badalavam, dentre os quais o Centenário. Na ocasião pôs-se em funcionamento o relógio de quatro faces, depois retirado por inativo, em consequência da oscilação da coluna, e vendido à Igreja dos Remédios, no Benfica. A coluna teve seus dias de glória, quando em dias especiais, Dom Manuel celebrava na capelinha que lhe servia de base, enquanto a imagem era iluminada à noite, até que, durante a 2ª  Guerra Mundial, as autoridades impuseram a retirada da iluminação por questões de segurança. Aos domingos e dias festivos era franqueada a subida até o topo da coluna, através de uma escada interna em espiral, de onde se descortinava todo o belo panorama da cidade e do mar.

fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro
História Abreviada de Fortaleza e crônicas  sobre a cidade amada,
de Mozart Soriano Aderaldo           

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