domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Eclosão de Movimentos Intelectuais e o Sopro do Progresso em Fortaleza


Armazenamento de víveres na Estação central da Estrada de Ferro Baturité, na Rua General Sampaio, final do século XIX (arquivo Nirez)

Foi de grande relevância a segunda metade do século XIX em nossa cidade, frutos das ideias liberais da frustrada Confederação do Equador, em 1824, manifestadas no Diário do Ceará; da fundação, em 1845, do Liceu do Ceará, em cujo corpo docente se agrupavam as figuras mais representativas das atividades culturais da então província, tendo como figura de proa o respeitável Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, futuro senador do Império.


Estátua do General Tibúrcio no então Largo do Palácio - foto de 1908 (álbum de vistas do Ceará) 

Da publicação, a partir de 1846, do Jornal Cearense, órgão do Partido Liberal, que abrigava em suas colunas não apenas matéria política, mas literária e científica;  da vinda ao Ceará, em 1860, da expedição científica , integrada por altas figuras da cultura nacional – eclodiram, a partir dessa época, vários movimentos intelectuais, que deixaram marcas na vida da cidade.
Alcançado o sucesso de 25 de março de 1884, quando todo território cearense se livrou do trabalho escravo, a criatividade do nosso povo se manifestou através do Clube Literário e de seu porta-voz  A Quinzena, com Farias Brito, Oliveira Paiva, Juvenal Galeno, dentre outros,  e do mais interessante grupo literário organizado em nossa cidade, a Padaria Espiritual, em 1892. Do desentendimento quanto aos processos da Padaria, surgiu a dissidência  do Centro Literário, com sua revista Iracema, onde escreveram Ulisses Sarmento, R de Carvalho, Álvaro Martins, etc. 


Palacete na Rua Barão do Rio Branco, que abrigou a Secretaria de segurança, a Prefeitura Municipal e o Ginásio Municipal. Hoje é a sede do Instituto do Ceará - foto de 1934 (Ah, Fortaleza!)

Os mais velhos agruparam-se em 1887, em torno da mais antiga instituição cultural do nosso Estado, o Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), de cuja fundação participaram figuras exponenciais como o futuro Barão de Studart, o Des. Paulino Nogueira e outros, assim como, em 1994, em torno da Academia Cearense a mais antiga do Brasil, por cuja fundação muito trabalharam Pompeu (filho) e Studart.


Reunião da Academia Cearense de Letras, no salão principal do Clube Iracema, no Palacete Ceará - foto de 1922 (Ah, Fortaleza!)

Foi em meio a esse ambiente de ebulição intelectual criadora que, em 1882, se deu a inauguração do Cabo Submarino, e no ano, seguinte, o início do funcionamento do Serviço Telefônico, com aparelhos de manivela. Em 1884, instalou-se a Escola Normal, num imóvel especialmente construído para esse fim, na Praça do Patrocínio (atual José de Alencar).   Entre esse prédio, construído com pretensões de integrar uma cidade em crescimento, e o Quartel do Batalhão de Segurança, depois demolido para ser levantado na década de 1930 o Centro de Saúde, também demolido, não havia ainda o teatro José de Alencar, inaugurado no século XX.
Ainda naquela época o Clube Iracema, abriu os seus salões em 1884, passando depois para sua nova sede, prédio que depois abrigou a então Faculdade de Farmácia e Odontologia e mais tarde o Curso de Jornalismo. 
prédio onde funcionou a Faculdade de Farmácia e Odontologia na Rua Formosa.  Antes, abrigou o Reform Club e o Clube Iracema, depois foi sede da Escola de Jornalismo. Ficou um tempo desocupado, depois foi demolido para a construção de outro edifício. (arquivo Nirez) 

Em 1886 foi dado início à construção de outro porto para Fortaleza, de que resultou, na Praia do Peixe, a chamada Ponte Metálica. Em 1888 foi exposta à reverência  do povo a primeira estátua do Ceará, em homenagem ao General Tibúrcio, no Largo do Palácio, hoje rebatizada com o nome do herói da Guerra do Paraguai.
Na década de 1890, Antônio Bezerra descreve a cidade de então, onde registra que Fortaleza dispunha de três boulevards, designação que bem demonstra a então vigente influência francesa, aludindo às atuais Avenidas do Imperador, Duque de Caxias e Dom Manuel.
A capital cearense possuía ainda, 34 ruas de norte a sul, 27 de leste a oeste, 14 praças, 1607 combustores a gás na iluminação pública. Do ponto de vista religioso, Fortaleza contava com duas freguesias:  a da Sé e a do Patrocínio, com a Rua Formosa servindo de limite para as duas paróquias. 


Jardins do palácio da Luz, sede do Governo do Estado em foto da década de 1940 (Ah, Fortaleza!)

Os principais edifícios eram o Palácio do Governo, a Assembleia Legislativa,  a sede do Liceu do Ceará,  a Intendência Municipal, a Estação Central da Estrada de Ferro, a antiga Secretaria da Fazenda, a Santa Casa, a Cadeia, o Palácio do Bispo, o Colégio da Imaculada Conceição, o Seminário, a Tesouraria da Fazenda, o Asilo de Mendicidade, a Sé e as igrejas do Patrocínio, do Coração de jesus, da Conceição da Prainha, do Rosário, de São Benedito, os Correios,  o Reform Club (lindo palacete situado na Rua Formosa, entre os n°s 166 e 187, mandado edificar por doze rapazes empregados no comércio para servir de recreio e lugar de estudo, depois ali se instalou o Clube Iracema), o teatrinho então existente na esquina sudoeste das atuais Ruas João Moreira e Barão do Rio Branco, o Quartel do 11° Batalhão de Engenharia (atual 10ª Região Militar), o Mercado Público, o Cemitério São João Batista, o Posto Policial da esquina sudeste das Ruas Guilherme Rocha e Floriano Peixoto, onde depois se levantou o prédio que atualmente abriga uma agência da Caixa econômica Federal.


Estação Central da Estrada de Ferro Baturité, na Praça Castro Carreira em 1918. (Ah, Fortaleza)

E finalmente registra a existência de 23 médicos, 17 advogados, 9 professores de piano, 6 tipografias, 1 litografia, 2 bancos, 2 hotéis, 3 restaurantes, 8 cafés, 6 hospedarias, 14 quiosques, 2 casas de joias,  3 bilhares, 4 livrarias, 2 casas de pasto, 14 açougues, 14 padarias  e 9 farmácias na cidade.  O autor descrevendo a cidade, ressalta o grande número de prédios de madeira, inclusive quatro cafés que existiam nos cantos da Praça do Ferreira, não nos terrenos arruados, mas no próprio logradouro.

Fontes
História de Fortaleza e Crônicas sobre a cidade amada, de Mozart Soriano Aderaldo
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antônio Bezerra de Menezes – introdução e notas de Raimundo Girão 

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