A segunda guerra estourou a 1° de setembro de 1939, quando
as tropas de Hitler invadiram a Polônia, rompendo os acordos pacifistas
celebrados entre os governos da Alemanha nazista e os da Inglaterra e França,
através dos quais um pedaço do
território tcheco foi sacrificado em favor das pretensões expansionistas da
Alemanha.
Era um quadro que exigia definições políticas dos demais
países. A Itália fascista, ideologicamente identificada com o nazismo, tomou
posição ao lado de Hitler. O Japão, onde o militarismo controlava o poder
simbolicamente exercido pelo imperador Hiroito, fez o mesmo. Em sentido oposto, Inglaterra e Franca deram
por encerrado o período de concessões e tolerância para com a disposição alemã
de expandir suas fronteiras e dominar mercados.
Além de Estados Unidos e Canadá, o Brasil foi o único país das Américas a entrar na Segunda Guerra Mundial
No Brasil, dois anos antes de começar o conflito, Getúlio
Vargas implantara o Estado Novo, apoiado pelo esquema militar direitista que
prevalecia no organismo interno oficial, a tal ponto que o general Góes
Monteiro, Ministro da Guerra (comandante das forças armadas do país) recebera
um convite do Governo alemão, através do seu embaixador no Brasil, para
participar de manobras do exército nazista.
O grande complexo industrial germânico, liderado pela Krupp,
que conseguira transformar a máquina bélica de seu país e na maior e mais
poderosa do mundo, enviava propostas tentadoras ao governo brasileiro, com
vistas a construção de uma siderúrgica, sonho acalentado por Vargas.
Em 1943, o Presidente norte- americano Roosvelt visita a Base de Natal
Já em 1940, num encontro com altos comandantes militares, a
bordo do encouraçado Minas Gerais, Getúlio pronunciou um discurso francamente
simpático à causa hitlerista, o que levou o escritor cearense Gustavo Barroso,
pertencente às fileiras do Integralismo, a elogia-lo publicamente.
O navio brasileiro Siqueira Campos, abarrotado de armas
alemãs para o exército brasileiro, foi aprisionado pela marinha inglesa,
gerando um incidente diplomático de grande repercussão, o que levou o general
Eurico Dutra a sugerir a declaração de guerra à Grã-Bretanha, o que se tivesse
se consumado, significaria o engajamento oficial do Brasil ao Eixo, integrado
por Alemanha, Itália e Japão.
O Navio Baependi, afundado na noite do dia 15 de agosto de 1942, por um submarino alemão que resultou na morte de 270 pessoas.
Pressentindo o
perigoso rumo tomado pelo governo brasileiro, os Estados Unidos, ainda neutros
, mas já colaborando com a Inglaterra, ofereceram um empréstimo de 20 milhões
de dólares para Getúlio montar sua siderúrgica. A Usina de Volta Redonda começou a
ser construída em 1941.
O ano de 1941 reservaria dois eventos decisivos para os
caminhos da guerra: a invasão da União Soviética pelo exército alemão, e o
ataque japonês à base americana de Pearl Harbour, destruindo grande parte da
esquadra dos Estados Unidos.
No âmbito do Governo Vargas começa um processo de
desagregação por conta do posicionamento nacional face ao conflito. O grupo
democrático, cujo principal destaque era o Ministro das Relações Exteriores Oswaldo
Aranha, conseguiu se sobrepor aos simpatizantes do nazismo, resultando disso a
demissão de Felinto Muller, Chefe de Polícia do Distrito Federal, do advogado
Francisco Campos, responsável pela elaboração da Constituição do Estado Novo, e
Lourival Fontes, o "Dr. Goebels" tupiniquim.
Navio brasileiro Alcântara, afundado na Baía de Guanabara pelos alemães
Enquanto isso tinha inicio as manifestações populares contra
a Alemanha, e a favor da entrada do Brasil na guerra ao lado das nações
democráticas. Os protestos se acirraram a partir de 1942, quando
submarinos alemães afundam o cargueiro Cabedelo, o primeiro de 36 navios
nacionais destruídos pelos submarinos nazistas no Atlântico Sul.
A cada afundamento de nossos barcos - entre os quais alguns
de passageiros como o transatlântico Buarque, o Baependi, o Siqueira Campos - crescia a fúria popular.
A Praça do Ferreira, era o espaço das
grandes manifestações antifascistas. O clímax desse estado de ânimo das massas
brasileiras ocorreu no dia 18 de agosto de 1942, quando manifestações violentas
deixaram o campo dos discursos e slogans, para descambar numa incontrolável
desordem da massa encolerizada, que investiu contra tudo o que tivesse alguma
vinculação com os países do Eixo.
A Praça do Ferreira sempre foi o espaço das grandes manifestações populares (foto da década de 1960, antes da reforma. Arquivo Nirez)
A multidão toma o centro de Fortaleza em agosto de 1942, e promove uma violenta manifestação contra os países do Eixo e a indefinição do governo brasileiro diante do conflito.
Centenas de estabelecimentos, pertencentes a alemães,
italianos e japoneses foram invadidos, depredados e incendiados em todas as
grandes cidades brasileiras, inclusive Fortaleza. A cidade naquela época não passava de um burgo
de pequeno a médio porte, com seus 200 mil habitantes, concentrando o grosso de
sua movimentação urbana no centro.
As Lojas Pernambucanas, da firma Lundgren Tecidos, foi uma das atingidas pelo quebra-quebra (foto Ah, Fortaleza!)
A polícia do Estado Novo, com destaque para um grupo de quepes
vermelhos, a temível Polícia Especial, foi impotente para conter a multidão
revoltada. Uma a uma, as lojas de alemães e italianos – Sapataria Veneza,
Laboratório Bayer, As Pernambucanas (cujos proprietários nem eram alemães, mas
foi confundida como tal, por conta de um dirigente que se expressava em língua alemã)
– foram destruídas em poucas horas de turbulência.
A Casa Veneza, localizada na esquina das Ruas Liberato Barroso e Major Facundo, foi destruída durante a manifestação, fechou e tornou a abrir na década de 1980. Tempos depois, fechou em definitivo. O prédio encontra-se desocupado e até hoje ostenta o nome do estabelecimento. (foto de 1983 de Nelson Bezerra).
Naquela ocasião apareceram os aproveitadores
que promoveram um saque jamais visto em Fortaleza. Caminhões e outros veículos
encostavam às portas dos estabelecimentos atingidos e carregavam montanhas de
artigos, peças de tecidos, sapatos, caixas de medicamentos.
Treze dias depois das manifestações – que em Fortaleza
chamaram de quebra-quebra – o governo Getúlio Vargas declarava oficialmente
guerra aos países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. A segunda Guerra Mundial terminou no dia 2 de
setembro de 1945.
manchete do Jornal O Povo anunciando o fim da guerra na Europa
Fonte:
O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza –
Província,
de Blanchard Girão
2 comentários:
O que mais lembro, da 2ª guerra mundial, é que "aprendi" a falar "black aut" naquela época de tanto a mamãe falar " vai haver blecaute"...
Outra coisa, eram os dirigíveis(no modelo zepelim) que eu via passar e ficava com medo...
Fortaleza sentiu, os efeitos da guerra...
Gostei da matéria!
Lúcia,
dizem que a cidade não sofreu nenhum bombardeio, mas todos os dias se preparava p/isso. Deve ter sido um tempo bem dificil.
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