A grande maioria dos terrenos que hoje formam a região hoje conhecida
como Grande Montese pertencia aos
franceses, cuja influência na sociedade fortalezense era notória. Como prova
disso, algumas ruas do bairro receberam nomes de personalidades francesas. A
firma Boris e Frères liderou a venda de terrenos na antiga Pirocaia, no
loteamento Parque Coqueirinho.
Rua Aquiles Boris (imagem google)
No entanto, a ocupação do solo no Montese
apresenta determinadas irregularidades: os chamados “Arigós” ou “paroaras” como
eram conhecidas as pessoas que viajavam para a Amazônia atraídas pelas
promessas de enriquecimento fácil, na extração da borracha e não mais voltaram.
Muitos não tiveram condições financeiras para retornar e outros morreram,
principalmente de malária, enfermidade comum naquela região. Entre esses se
incluem também os “soldados da borracha”.
embarque dos soldados da borracha em Fortaleza (foto gazeta do povo)
O jornalista e escritor Hélio Pinto Vieira conta que passou
por esta experiência. Levado pelo patriotismo, no ardor da juventude, embarcou para a Amazônia, e lá foi abandonado,
na selva, como muitos outros companheiros que jamais voltaram. Ele teve sorte,
conseguiu retornar para contar a trágica história, sofrida por causa de um
acordo celebrado entre o Brasil e os Estados Unidos.
Era o chamado Acordo de
Washington, celebrado entre os dois países durante a 2ª. guerra, que levou mais
de 30 mil cearenses, que formaram o Exército da Borracha, cuja missão era
extrair o látex para a fabricação de pneus, isolantes, calçados e outros
produtos derivados da borracha. O recrutamento era feito através do Serviço
Especial de Mobilização de Trabalhadores (SEMTA), que funcionava no local onde
hoje está a antiga Escola Industrial, atual IFCE, próximo ao quartel do 23° BC.
Para atrair interessados, a Amazônia era apresentada como um verdadeiro paraíso, com o
slogan “A Extração da Borracha da Vitória”.
Antiga Escola Industrial de Fortaleza, na Av. 13 de Maio onde era feito o recrutamento dos soldados da borracha. Hoje no local está o IFCe. (Foto Nirez)
Voltando aos terrenos do Grande Montese, pelo que se sabe muitas dessas pessoas que
seguiram para a Amazônia, haviam adquirido terrenos no loteamento do
Coqueirinho, e esses imóveis ficaram abandonados, sendo ocupados por
terceiros, que ainda continuam com a posse sem a documentação pertinente ou
irregular, à exceção de quem requereu e ganhou na justiça o direito de
usucapião.
Igreja de Nossa Senhora Aparecida (imagem google)
A escritura do terreno da Paróquia de Nossa Senhora
Aparecida, onde foi edificada a matriz, foi feita dentro do mesmo sistema.
Conclui-se que a maioria das terras dessa região era de terras devolutas, isto
é, não cultivadas, e foram adquiridas pelos antigos donos através de contratos
de enfiteuse (um instituto jurídico de transferência de bens, atribuindo a
outrem o domínio útil de um imóvel, reminiscência das chamadas comunidades “mão
morta”, do tempo do Feudalismo), como consta nas escrituras o que gera a
cobrança do laudêmio pela empresa responsável pelo loteamento.
Além dos franceses havia outros proprietários que venderam
terrenos no Montese, como José Chaves, José Monteiro, Manoel Fonseca, Dr. Manoel
Sátiro dentre outros.
Nessa década de 40, a região era uma extensa área verde muito pouco habitada. Os terrenos eram de propriedade de algumas famílias e se constituíam de grandes sítios onde predominavam cajueiros, mangueiras e plantas medicinais como mangirioba-do pará e melão caetano. Alguns sítios tinham nomes que são conhecidos até hoje: Bom Futuro, Mata do Dummar, Mata do Parreão, Pirocaia, Jardim América...
fonte:
De Pirocaia a Montese fragmentos históricos,
de Raimundo Nonato Ximenes
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