Domingo era o dia da missa e do programa em família: circo,
teatro, cinema, passeio em casa de parentes nos arrabaldes da cidade. Para os
espetáculos, muitas vezes era necessário levar o assento. E não era raro os jornais publicarem anúncios
de cadeiras perdidas, como esse de 1872: “quem hontem, por engano, levou do
Circo Olympio, cinco cadeiras americanas, com o nome do abaixo assignado
escripto em um pedaço de papel pregado no espaldar das mesmas, queira por
bondade manda-lo avisar, para mandar ver”.
O Clube Cearense foi, concretamente, a primeira grande agremiação mundana da cidade, inclusive com sede própria e sócios. (foto do livro Ah, Fortaleza!)
Ainda no século XIX, surgia outra opção de divertimento: o
Clube Cearense – em frente ao sítio que se tornaria o Passeio Público – palco de
animadas matinês; o Clube Iracema, de
1884, formado pelos jovens barrados no Clube Cearense, e a Fênix Caixeiral, em
1905, na Praça José de Alencar, que além dos bailes oferecia um pátio para
ginástica.
O Clube Cearense foi de fato a primeira grande agremiação
mundana da cidade, inclusive com sede própria e sócios, mas um pouco antes, em
1851, já houvera um primeiro esboço nesse sentido: uma organização chamada “
Recreação Familiar Cearense”, fundada
pelo engenheiro Caetano de Gouveia.
O Passeio Público era o local preferido para os passeios dominicais das famílias cearenses. Foto de 1908, do Arquivo Nirez
Acompanhando os clubes elegantes, espaços privados de lazer
burguês, vieram as recreações esportivas, recomendadas pelo saber médico: o skating-rink
(1877), patinação no Passeio Público; o byciclette sportif (1900) ciclismo nas
praças, e o turf (1895) corrida de cavalos no Campo do Prado no Benfica.
Mas foi na década de 50 que a cidade viveu os tempos áureos
dos clubes sociais, redutos das classes mais abastadas, dos novos ricos e dos
deslumbrados da época. Tudo de repente, como um surto. Os velhos e tradicionais
clubes se instalaram em novas e confortáveis sedes, e uma infinidade de novas
agremiações foram criadas, com festas suntuosas, animados bailes de carnaval, piscinas
de águas esverdeadas, quadras de esportes, bares e restaurantes. Uma moderna e
diferente forma de viver, com mais alegria, mais descontração, mais charme.
O Náutico Atlético Cearense e o Ideal Clube em fotos dos anos 50 (fotos da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros)
Com o advento dos clubes elegantes, as famílias de Fortaleza
mudaram seus hábitos e passaram a encontrar nas agremiações a continuação do
seu próprio lar, com a vantagem dos banhos de piscina, das práticas esportivas,
do conforto dos bares e restaurantes.
Dentro de pouco tempo o Brasil inteiro comentava o gritante
contraste entre a conhecida pobreza do Estado e a suntuosidade dos seus clubes,
onde a elite risonha e franca nem via o tempo passar.
Fontes:
Os Dourados Anos, de Marciano Lopes
Revista
Fortaleza, Fascículo 9, de 04 de junho
de 2006
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