domingo, 29 de setembro de 2013

Rua 15 de Novembro

A 15 de Novembro é o nome de uma rua no Montese que, a exemplo da velha Estrada do Gado, é uma parte integrante da história do bairro. Quando o bairro ainda era chamado de Pirocaia, a rua era apenas uma estrada margeada de cerca de arame farpado, desde a Avenida João Pessoa ate um sítio de propriedade da família Monteiro.



Com a construção do campo de pouso do Cocorote em 1942, ampliado no ano seguinte, aquela propriedade foi cedida, inclusive aos americanos aquartelados em Fortaleza.  Uma capelinha dedicada a Nossa Senhora Aparecida, existente ali, foi demolida.  Naquela época, a antiga estrada foi pavimentada em pedra tosca revestida de cimento, passando a servir de único acesso ao aeroporto, durante e após a guerra até a construção da Avenida Luciano Carneiro no começo da década de 60. Com um quilometro de extensão, começando na Avenida João Pessoa, ali onde se localiza o Bar Avião, terminava no portão que dava acesso também à Base Aérea de Fortaleza. Atualmente ela termina na Avenida Carlos Jereissati.



Além do seu passado histórico, a Rua 15 de Novembro teve também o seu lado pitoresco. Por ela passaram importantes personalidades, não só nacionais, mas também muitos estrangeiros que visitavam o Ceará e desembarcavam no Aeroporto do Cocorote. Foram chefes de Estado, ministros, embaixadores artistas e muitas outras figuras importantes, inclusive oficiais e praças norte-americanos, sempre em carro aberto, expostos à curiosidade dos moradores. Esses carros, modelo Ford, Hudson e Mercury eram de propriedade do Sr. Altenor Ribeiro Câmara, que morava nas proximidades do portão da base  - e eram alugados à Panair do Brasil, para transporte dos passageiros que desembarcavam no Cocorote.  Com a pavimentação da via, os sítios e mansões deram lugar a novas construções e ao casario de hoje.


O antigo terminal do Aeroporto Pinto Martins - O aeroporto teve suas origens na pista do Alto da Balança, construída na década de 1930 e utilizada até 2000 pelo Aeroclube do Ceará. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu de base de apoio às Forças Aliadas, época em que foi construída a segunda pista de pousos e decolagens (Base do Cocorote), que é a atual pista principal do Aeroporto de Fortaleza. Em 13 de maio de 1952, o aeroporto ganhou o nome de Pinto Martins. (foto O Povo)

Fachada atual do Aeroporto Pinto Martins

Não se sabe exatamente o ano, mas presume-se que tenha sido no período da guerra, por ocasião da transferência do campo de pouso do Pici para o Cocorote que, Antônio de Paulo Lemos, inspirado pela presença constante de aeronaves entre a Base do Pici e do Cocorote, teve a ideia de construir, em frente ao Asilo (Hospital São Vicente de Paulo), início da Rua 15 de Novembro, uma caixa d’água no formato de um avião bimotor, o que deu origem ao famoso Bar Avião, que foi ponto de encontros e hoje é referência entre Montese e Parangaba. 

Bar Avião à época da inauguração, na década de 1940 (arquivo Nirez) 
  
Bar Avião atualmente, em reforma (foto de set/2013)

A notoriedade da Rua 15 de novembro deveu-se também ao fato de que durante a guerra, com a presença de oficiais e praças norte-americanos, tornou-se um dos lugares onde as garotas da alta sociedade fortalezense passeavam com seus namorados louros e de olhos azuis, quando saíam dos ambientes sociais no centro em cidade, em direção aos aposentos da tropa na Base do Cocorote. As moças, consideradas avançadas para a época receberam o apelido jocoso de Coca-Colas, uma analogia ao refrigerante um tanto desconhecido por aqui, mas largamente consumido pelos americanos. 


Estoril, na época em que funcionava como cassino dos oficiais americanos (USO) Foto Nirez

Os pontos preferidos pelos gringos para as suas diversões eram a Praça do Ferreira, o Bar Jangadeiro ou a Praia de Iracema, onde o Estoril servia de cassino para os americanos com as jovens cearenses. Foi também nessa época que a lagosta começou a ser valorizada, uma descoberta dos americanos na Praça do Ferreira, onde o produto era oferecido na calçada da Floriano Peixoto a preços baixíssimos. Nas bancas a lagosta era oferecida para cozida, pronta para ser consumida. E foi pela 15 de Novembro que saíram as primeiras remessas do produto, rumo ao Exterior. Era ali também que ficava a Fábrica Santa Cecília, que tanto contribuiu para a geração de emprego e para o desenvolvimento da indústria têxtil do Estado, e que lamentavelmente está há anos desativada. Longe vai o tempo em que se ouvia, às quatro e meia da manhã, o apito da fábrica chamando os empregados para mais um dia de trabalho, a maioria, humildes operários moradores nas redondezas.


Atualmente há um projeto de alargamento de 14 metros que, se executado, a Rua 15 de Novembro voltará a categoria de avenida, título que perdeu com a evolução do bairro. 


extraído do livro de Raimundo Nonato Ximenes
de Pirocaia a Montese


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