Em 1946 começou uma campanha de combate a mendicância pelas
autoridades policiais. Prometia-se que os reais necessitados teriam assistência
por parte do governo, e o combate seria contra os oportunistas, que ganhavam
dinheiro sem trabalhar. As promessas governamentais difundiam-se no período
eleitoral, expostas de modo genérico, sem apresentar uma medida concreta de
assistência à pobreza.
Faustino de Albuquerque, de paletó escuro, no lançamento de um loteamento na Praia do Futuro (foto Nirez)
O Desembargador
Faustino de Albuquerque, em sua campanha ao governo do Estado, garantia a eliminação da mendicância de rua,
pela hospitalização dos mendigos doentes; ampliação do Asilo de mendicidade na
capital, e criação de instituições semelhantes em algumas cidades do interior
para recolhimento dos inválidos; encaminhamento ao trabalho útil e remunerado dos
mendigos aptos ao trabalho. Apesar das
medidas adotadas visando os menos afortunados,
diariamente a imprensa reclamava contra o aumento do número de pedintes
nas ruas centrais.
O Asilo de Mendicidade localizava-se no bairro do
Jacarecanga, tendo sido inaugurado em 1945 com o apoio das lojas maçônicas
“Igualmente, Fraternidade Cearense” e “Amor e Caridade III”. A princípio
funcionou no Benfica. Era dirigido por um Conselho Administrativo e outro
Fiscal, contando com 158 internos, sendo 100 homens e 58 mulheres, que a partir
das 18h30min não podiam mais circular pelos corredores, sendo recolhidos aos
dormitórios. A faixa etária dos internos, mantidos com recursos públicos e do
comércio local variava entre 76 e 81
anos.
O Asilo de Mendicidade do Ceará, foi inaugurado em 10 de setembro de 1905, fundado por esforços das lojas maçônicas Fraternidade, Igualdade e Amor e Caridade III, na Chácara Amaral, na Avenida Visconde de Cauípe (hoje Avenida da Universidade), depois transferido para a Chácara Virgínia Salgado (Praça Gustavo Barroso), no bairro do Jacarecanga, com frente para a Rua Júlio Pinto nº 1.832. Hoje no local funciona o Lar Torres de Melo.
crédito da foto: http://eeepjuliagiffoni.blogspot.com.br
Alguns residentes se tornaram conhecidos na cidade, como a
“Noiva do Tempo” que durante muitos anos andou pelas ruas de Fortaleza com um
véu cobrindo cabeça. Também existiu a
“Mimosa” que falecera pobre a lamentar os imaginários caixões de ouro que
ganhara do imperador da Alemanha, e supunha roubados pelas autoridades
brasileiras. Outros eram lembrados como o “Siri”, o “Cego Cabral”, que esmolava
em diversos pontos, tocando seu realejo, além do sempre embriagado
“treme-treme”.
O Alberque Noturno Menezes Pimentel estava localizado no antigo Beco do Pajeú atual Rua 25 de março esquina com a Rua Pinto Madeira, nas imediações de onde hoje se encontra a sede do CDL.
Ainda em 1945, a secretaria de segurança anunciava a inauguração
no Beco do Pajeú, do Albergue Noturno, com três dormitórios e capacidade para
90 pessoas. Um dos dormitórios era
destinado a mulheres e crianças. O edifício seria administrado por uma
organização religiosa e se divulgava que seria um dos melhores no gênero em
todo o Brasil.
Rua 25 de Março (arquivo Nirez)
Alguns postos de assistência à pobreza se mantinham com o
auxilio de paróquias, como os situados nos bairros do Mucuripe, Antônio
Bezerra, Porangabuçu, Tauape, Francisco Sá e Bezerra de Menezes. Essa ajuda representava uma muito pouco em
relação ao número de desassistidos, mas aumentava o número dos que dormiam ao
relento, nas praças ou nas portas de casas comerciais.
Após assumir o governo do Estado, Faustino de Albuquerque
entusiasmou-se com um plano para extinguir a mendicância em Fortaleza: a Hospedaria Getúlio Vargas, mantida pelo
Ministério do Trabalho, fora construída para abrigar os soldados da borracha,
nordestinos que durante a 2ª. Guerra foram encaminhados aos seringais do
Amazonas. A hospedaria tinha capacidade de abrigar 1.200 pessoas.
Hospedaria Getúlio Vargas (foto O Povo)
A escolha da Hospedaria Getúlio Vargas como solução
para a pobreza se chocava com a precária situação do lugar. Em 1949, diversas famílias
passaram por grandes dificuldades ali, pois a comida distribuída não
correspondia ao número de pessoas assistidas. Contudo, a iniciativa estatal de
combater a mendicância continuava a vigorar, mantendo-se presa ao imediatismo
desejado. O Asilo de mendicidade e a Santa Casa de Misericórdia, dependiam do
apoio de setores administrativos do Estado para sanar o dilema dos indigentes.
Passados tantos anos de providências, abrigos, asilos e albergues, eis o estágio atual de mendigos e maiores abandonados, moradores das ruas de Fortaleza.
extraído do livro de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza (1945-1960)
sites consultados:
portal.ceara.pro.br
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