sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O Controle sobre a Mendicância

Em 1946 começou uma campanha de combate a mendicância pelas autoridades policiais. Prometia-se que os reais necessitados teriam assistência por parte do governo, e o combate seria contra os oportunistas, que ganhavam dinheiro sem trabalhar. As promessas governamentais difundiam-se no período eleitoral, expostas de modo genérico, sem apresentar uma medida concreta de assistência à pobreza. 

Faustino de Albuquerque, de paletó escuro, no lançamento de um loteamento na Praia do Futuro (foto Nirez)

O Desembargador Faustino de Albuquerque, em sua campanha ao governo do Estado,  garantia a eliminação da mendicância de rua, pela hospitalização dos mendigos doentes; ampliação do Asilo de mendicidade na capital, e criação de instituições semelhantes em algumas cidades do interior para recolhimento dos inválidos; encaminhamento ao trabalho útil e remunerado dos mendigos aptos ao trabalho.  Apesar das medidas adotadas visando os menos afortunados,  diariamente a imprensa reclamava contra o aumento do número de pedintes nas ruas centrais. 
O Asilo de Mendicidade localizava-se no bairro do Jacarecanga, tendo sido inaugurado em 1945 com o apoio das lojas maçônicas “Igualmente, Fraternidade Cearense” e “Amor e Caridade III”. A princípio funcionou no Benfica. Era dirigido por um Conselho Administrativo e outro Fiscal, contando com 158 internos, sendo 100 homens e 58 mulheres, que a partir das 18h30min não podiam mais circular pelos corredores, sendo recolhidos aos dormitórios. A faixa etária dos internos, mantidos com recursos públicos e do comércio local variava entre  76 e 81 anos.

O Asilo de Mendicidade do Ceará, foi inaugurado em 10 de setembro de 1905, fundado por esforços das lojas maçônicas Fraternidade, Igualdade e Amor e Caridade III, na Chácara Amaral, na Avenida Visconde de Cauípe (hoje Avenida da Universidade), depois transferido para a Chácara Virgínia Salgado (Praça Gustavo Barroso), no bairro do Jacarecanga, com frente para a Rua Júlio Pinto nº 1.832. Hoje no local funciona o Lar Torres de Melo.


Alguns residentes se tornaram conhecidos na cidade, como a “Noiva do Tempo” que durante muitos anos andou pelas ruas de Fortaleza com um véu cobrindo cabeça.  Também existiu a “Mimosa” que falecera pobre a lamentar os imaginários caixões de ouro que ganhara do imperador da Alemanha, e supunha roubados pelas autoridades brasileiras. Outros eram lembrados como o “Siri”, o “Cego Cabral”, que esmolava em diversos pontos, tocando seu realejo, além do sempre embriagado “treme-treme”. 

O Alberque Noturno Menezes Pimentel estava localizado no antigo Beco do Pajeú atual Rua 25 de março esquina com a Rua Pinto Madeira, nas imediações de onde hoje se encontra a sede do CDL. 

Ainda em 1945, a secretaria de segurança anunciava a inauguração no Beco do Pajeú, do Albergue Noturno, com três dormitórios e capacidade para 90 pessoas.  Um dos dormitórios era destinado a mulheres e crianças. O edifício seria administrado por uma organização religiosa e se divulgava que seria um dos melhores no gênero em todo o Brasil.

Rua 25 de Março (arquivo Nirez)

Alguns postos de assistência à pobreza se mantinham com o auxilio de paróquias, como os situados nos bairros do Mucuripe, Antônio Bezerra, Porangabuçu, Tauape, Francisco Sá e Bezerra de Menezes.  Essa ajuda representava uma muito pouco em relação ao número de desassistidos, mas aumentava o número dos que dormiam ao relento, nas praças ou nas portas de casas comerciais.

Após assumir o governo do Estado, Faustino de Albuquerque entusiasmou-se com um plano para extinguir a mendicância em Fortaleza:  a Hospedaria Getúlio Vargas, mantida pelo Ministério do Trabalho, fora construída para abrigar os soldados da borracha, nordestinos que durante a 2ª. Guerra foram encaminhados aos seringais do Amazonas. A hospedaria tinha capacidade de abrigar 1.200 pessoas.

Hospedaria Getúlio Vargas (foto O Povo)

A escolha da Hospedaria Getúlio Vargas como solução para a pobreza se chocava com a precária situação do lugar. Em 1949, diversas famílias passaram por grandes dificuldades ali, pois a comida distribuída não correspondia ao número de pessoas assistidas. Contudo, a iniciativa estatal de combater a mendicância continuava a vigorar, mantendo-se presa ao imediatismo desejado. O Asilo de mendicidade e a Santa Casa de Misericórdia, dependiam do apoio de setores administrativos do Estado para sanar o dilema dos indigentes.
Passados tantos anos de providências, abrigos, asilos e albergues, eis o estágio atual de mendigos e maiores abandonados, moradores das ruas de Fortaleza.





 extraído do livro de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza (1945-1960)
sites consultados:
portal.ceara.pro.br


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