domingo, 1 de setembro de 2013

Fortaleza e a Disciplina Urbanística


Era Fortaleza uma vila muito acanhada, quando acompanhando o governador Manuel Inácio de Sampaio, aqui chegou o Tenente Coronel de Engenheiros,  Antônio José da Silva Paulet.  Chegaram ambos no dia 19 de março de 1812, Paulet como Ajudante de Ordens do governador.  Tomaram posse no dia 19 de março e formaram uma dupla de peso para a disciplinarização da cidade. 

Primeira planta da Vila de Fortaleza, de 1730, feita pelo capitão-mor Manuel Francês. O traço forte do Pajeú divide em duas a futura cidade. 



 Vista aérea, final dos anos 60

O modelo seguido é o das cidades ortogonais, ou mais particularmente, em retângulo ou xadrez, com as ruas cortando-se em ângulo de 90°, na época, quando não havia a ciência urbanística,  o modelo dominante – como as cidades hispano-americanas.
Ideias desta ordem dominaram o século XIX, porque os alinhamentos e os ângulos retos eram os mais convenientes para o traçado das ruas e construção dos prédios, sobretudo se levado em conta a pouca importância que o tráfego urbano representava para a cidade. 

 Rua Floriano Peixoto, antiga Rua da Boa Vista, quase no cruzamento com a Senador Alencar. à esquerda, estão as duas estruturas metálicas que compunham o Mercado de ferro, inaugurado em 1897, na Praça Carolina. 

A primeira rua em linha reta, baliza das futuras que se desdobrassem de norte a sul, do mar para o sertão, fez-se a partir da fortaleza, tomando-se como referência a Praça Carolina (atual Praça Waldemar Falcão) e aproveitando-se os arruados conhecidos como Rua das Belas, Rua da Pitombeira e Rua da Alegria, correspondendo os três à Rua da Boa Vista, atual Floriano Peixoto, compreendidos, respectivamente, o primeiro entre a fortaleza e a Rua São Paulo, o outro daí até o lado sul da Praça do Ferreira, e o terceiro deste ponto até o final.

 Praça Carolina, atual Praça Waldemar Falcão

A Praça Carolina fora o resultado do reajuste e alinhamento do pátio ou campo situado ao norte e ao poente da casa que serviu de morada aos governadores e onde, após 1809, por troca com o Palácio da Luz, teve sede a Câmara Municipal, que a vendeu a Vitoriano Augusto Borges. Ai funcionou a Comissão Militar presidida pelo Coronel Conrado Jacó de Niemeyer.  Também ali esteve a Junta da Fazenda, um edifício construído com a frente para a Rua da Matriz, Rua de Baixo ou Conde D’Eu , em nível bem acima da grade da rua. O aproveitamento daquela espaçosa área se dez de modo a deixar-se por trás da casa da Câmara um vasto pátio ou terreno, cercado até a Rua das Belas. Com o tempo, nele foi construído o Mercado Público, e toda sua extensão se acha hoje tomada pelos edifícios dos Correios e do Banco do Brasil.
O Boticário Antônio Rodrigues Ferreira seria o maior entusiasta do plano urbanístico de Silva Paulet. Assim como o Governador Sampaio, Ferreira teria também o seu grande auxiliar – o Engenheiro Adolfo Herbster, cuja ação diretiva e técnica iria constituir o melhor instrumento de disciplinação no crescimento de Fortaleza.  


planta do Porto e Villa da Fortaleza, elaborada por Silva Paulet, em 1813

Na planta de Paulet, não se nomeiam as edificações, a cidade aparece dividida em blocos, como o primeiro indício do traçado xadrez que a capital viria a ganhar – e até hoje marca a configuração de sua malha urbana. Nas plantas que desenhou Paulet traçou ainda que vagamente, o futuro axadrezado do desenho da vila.  Desde Paulet, o risco de ruas paralelas passou a ser uma constante na cidade, de modo que os primeiros sobrados fortalezenses, erguidos a partir daquela época, observaram o alinhamento em ângulo reto.  

fontes:
Geografia Estética de Fortaleza, de Raimundo Girão
Fortaleza Belle Epoque - Reformas urbanas e controle social - 1860-1930, de Sebastião Rogério Ponte
fotos Arquivo Nirez

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