quarta-feira, 11 de setembro de 2013

De Flores e Guerras

Era o dia 18 de agosto de 1942. Tudo começou tão de repente que nunca se soube ao certo como teve início, e quem liderou. A turba furiosa avançou sobre todos os estabelecimentos, escritórios e até residências de cidadãos das chamadas nações integrantes do Eixo. Alemães, italianos e japoneses, e seus descendentes, foram alvo de incontrolável manifestação de ódio por parte da massa insatisfeita, com a posição dúbia do governo brasileiro em relação ao conflito.  O povo não admitia a posição oficial brasileira, refletindo a ideologia fascistoide do Estado Novo de Getúlio Vargas. 

Jantar do Rotary Club no Palace Hotel, em 1936, onde estão as bandeiras da Alemanha e da Suástica. As boas relações entre os dois países, fez com que o Governo de Vargas demorasse a assumir uma postura frente ao conflito mundial. (foto Nirez) 

Durante a manifestação de 18 de gosto, a turba desenfreada buscou além dos estabelecimentos dos súditos do Eixo, também as casas comerciais cujos proprietários teriam tido ou ainda tinham ligação com o Integralismo. No meio da multidão, alguém gritava o nome de uma loja qualquer como de propriedade de um integralista. E logo a violência se voltava contra ela. Assim aconteceu com “ O Gabriel”, veterano estabelecimento comercial de miudezas, localizado à Rua Floriano Peixoto, em frente à sede dos Correios. Seu proprietário, Gabriel Jardim, era uma figura conhecida por na cidade. Sua loja era a maior venda de imagens de anjos e santos, ramo em  que também se especializou outro comerciante muito católico, “O Epitácio”. 


Como a Igreja católica tinha naquela fase histórica, profunda inclinação direitista, com numerosos membros militando no Integralismo. Gabriel, por certo sem nenhum embasamento ideológico, aproximou-se dos “camisas verdes”.
Outros estabelecimentos atingidos pelas mesmas razões, foram a loja “A Cruzeiro”, que por essa época funcionava nos baixos do Excelsior Hotel e o armarinho “Ubirajara”, na Major Facundo quase esquina com a Guilherme Rocha.

A loja Pernambucanas foi incendiada e saqueada. (foto do Livro Ah, Fortaleza!)

Outro alvo das manifestações de ódio foi o japonês Guilherme Fujita  (nascido Jusaku Fujita) que cultivava um jardim e fornecia flores para as cerimônias festivas ou tristes da Fortaleza provinciana daquela primeira metade do século.
Com o fruto do seu trabalho árduo, o imigrante japonês mantinha com desvelo e carinho a numerosa prole nascida no Estado do Ceará. Ignorando esse fato, na irracionalidade das atitudes das massas descontroladas, os manifestantes invadiram o bucólico Jardim Japonês, no Otávio Bonfim, destruindo tudo e ameaçando a própria vida da família oriental.
Vizinhos que presenciaram o drama protegeu a família da ameaçadora agressão. Durante vários dias os Fujitas tiveram o abrigo de pessoas amigas, numa prova de que em momentos de insanidade coletiva, muitos conseguem manterem-se serenos e lúcidos, para impedir as consequências mais graves do desvario geral.
Terminada a guerra, superadas as desavenças, o japonês Fujita conseguiu se recuperar voltou a trabalhar com suas rosas e flores no Jardim Japonês, que funcionou no seu antigo local, na atual Avenida Bezerra de Menezes, onde hoje se encontra um supermercado,  até a década de 60.

fontes:
Blanchard Girão em O Liceu e o Bonde
Jornal O Povo

Um comentário:

erica disse...

adoro essa página. Muito obrigada por suas pesquisas sobre a nossa querida Fortaleza.