terça-feira, 19 de abril de 2011

Os Retratos da Aba Film


Na década de 1950, a Aba Film era o maior estabelecimento fotográfico da América do Sul. Era sinal de status e de muito bom gosto ter retrato feito na Aba Film, estrategicamente colocado numa parede da residência. As moças de famílias mais abastadas escolhiam um vestido de gala, faziam o melhor penteado e caprichavam na maquiagem. As poses eram feitas no grande e moderno estúdio de fotografia. 

foto debutante (arquivo Marciano Lopes)

Toda celebridade que vinha a Fortaleza, desejava ter seu retrato da Aba Film: atores e atrizes de teatro, do cinema e do rádio, cantores, cientistas, músicos e maestros, poetas, cadetes em suas belas fardas de gala, bispos, frades, misses. 
Essas mereciam tratamento especial, tinham direito a vitrine promocional com encantadores fotos realizada nas praias, no Náutico, nos estúdios. Juntava gente em frente à loja, para conferir as beldades, escolher uma favorita, identificar falhas no conjunto.

Desfile de candidatas ao titulo de Miss-Elegante Bangu do Ceará, no Ideal Clube (arquivo Marciano Lopes)

A vitrine das misses era ansiosamente aguardada desde quando começavam a aparecer as primeiras candidatas, que eram apresentadas nas páginas dos jornais Unitário e Correio do Ceará.Após o concurso, no elegante Baile das Misses nos salões do Náutico, a vencedora ganhava espaço privilegiado no salão principal do conceituado estabelecimento fotográfico, com pose e roupas de majestade da beleza, ostentando manto, cetro, coroa  e um ar de felicidade, além do retrato colorido, com moldura barroca em folha de ouro ou prata. 
Mas, não foi o retrato de nenhuma beldade nacional, não foi a fotografia de nenhum pop-star dos palcos nem da tela, que alavancou o prestígio da Aba Film. 
O grande trunfo da famosa casa de fotografia foi o retrato de uma estátua, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, quando de sua visita a Fortaleza, em 1952.

foto da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima - 1952 (arquivo Marciano Lopes)

As fotos realizadas pelo estabelecimento fundado por Ademar Albuquerque, eram um primor de técnica fotográfica. Utilizando incomparáveis efeitos de luz, essas fotografias com suaves coloridos em tons pastel eram vendidas para todas as partes do país, nos mais diversos tamanhos, do postal ao natural.
Outra particularidade da Aba Film eram suas reportagens, dos maiores eventos daqueles tempos: os grandes bailes dos clubes elegantes, os casamentos das famílias tradicionais, os desfiles de modas, os desfiles cívicos, os espetáculos teatrais, os balés, os eventos culturais, e claro, os concursos de misses. 

Posse de Dom Antonio Almeida Lustosa, 4° bispo do Ceará, 2° Arcebispo de Fortaleza - 1941 (arquivo Nirez)

   A Aba Film foi também a autora do único registro fotográfico e cinematográfico sobre o cangaço, realizado pelo turco Benjamin Abrahão Botto .

o bando de lampião em companhia de Benjamin Abrahão. 

As fotos feitas nos  grandes eventos eram expostas nas vitrines laterais – todas numeradas, e as pessoas interessadas faziam suas encomendas no balcão especializado, bastando dizer o número da foto escolhida. Dependendo do evento, uma pequena multidão  se acotovelava tanto em frente aos mostruários quanto nos balcões de encomenda.

Igreja Nossa Senhora das Dores, no Otávio Bonfim (arquivo Nirez)

A Aba Film marcou toda uma época, atravessou décadas, documentando episódios importantes da cidade, decorando paredes aristocráticas, embalando sonhos, registrando emoções, guardando saudades de um passado fascinante e glamoroso.
Já nos anos 2000, encerrou suas atividades de forma inesperada, deixando várias pendências tanto com clientes quanto funcionários. 

Fonte:
Lopes, Marciano. Os Anos Dourados. 

2 comentários:

Ana Luz disse...

Conhecemos a igreja Nossa Senhora das Dores assim,sem as grades que a cercam e as portas fechadas ppor causa dos ladrões.

Fátima Garcia disse...

Se até os quartéis estão usando grades, imagine as igrejas. Tem algumas que passam o dia inteiro fechadas, só abrem nos horários dos cultos. Foi-se o tempo que os ladrões se impunham algum limite e respeitavam os templos e outros locais de meditação. Estamos na era do vale tudo. Salve-se quem puder.
abs