domingo, 3 de abril de 2011

O Café do Pedro Eugenio

Fortaleza - 285 anos

Avenida Visconde de Cauípe, atual Avenida da Universidade (Arquivo Ah, Fortaleza!)

O antigo Café do Pedro Eugênio ficava na segunda seção da linha do Benfica, ao lado dos números pares. Tendo ao lado frondosas mangueiras, eram colocados bancas de mármore e cadeiras desmontáveis, com assentos e encostos de madeira envernizada. 

Era semelhante ao Café Java, na Praça do ferreira. Era feito de taliscas de madeira pintada de verde, com detalhes brancos. O proprietário morava vizinho e quando, quando apareciam altas horas da noite um bando de seresteiros notívagos, Pedro Eugênio levantava-se e ia abrir o estabelecimento a fim de servi-los com a melhor cachaça de Aracati.

Em 1906, ao se deitar certa noite, ouviu que estavam cantando em frente ao seu quiosque, mas o cansaço e o sono eram tão grandes que não teve coragem de se levantar para abrir o estabelecimento.
Pela manhã, quando foi abrir o café, percebeu assombrado que a porta havia sido aberta á força. Constatou surpreso que, sobre uma das mesas de mármore, havia um livro de poesias e muitas quadras escritas à lápis no mármore, todas assinadas pelos respectivos autores: Raimundo Ramos, Fernando Weyne, Quintino Cunha, Virgilio Brandão, Amadeu de Castro, Carlos severo, Carlos Gondim e os músicos Mamede Cirino, Elesbão, Abel Canuto e Pompílio. O livro de poesias era Cantares Boêmio, de Raimundo Ramos, conhecido como Ramos Cotoco.

O episódio  chamou a atenção de todos e um jornal da época escreveu uma reportagem sobre o fato, que saiu publicada na Revista O Malho, de grande circulação em todo o país. 
A pedra na qual foram escritas as trovas foi conservada durante vários anos, coberta com vidro e enviada para o Rio de janeiro, em 1915, quando Pedro Eugênio faleceu. 

No Café do Pedro Eugênio iam centenas de pessoas, de sábado a domingo, de todos os bairros de Fortaleza, saborear o delicioso cardápio, cantar, recitar, discutir política.
Atendendo ao pedido de sua mulher que se achava cansada de tanto trabalho, Pedro Eugênio vendeu o café,  muito contra a vontade, e mudou-se para um local distante. 
Com sua saída, o café começou a decair e a freguesia a procurar outros locais. Um dia, Tomé Mota, proprietário da Empresa Ferro Carril – de bondes puxados a burro – descobriu que a linha do Benfica não estava dando lucro, o que se devia ao fraco movimento do café. O empresário procurou o velho Eugênio e propôs recomprar o estabelecimento e entregá-lo novamente ao antigo dono. Pedro Eugênio não hesitou, e voltou alegre e feliz ao antigo local de trabalho. 

bonde elétrico da linha do Benfica (arquivo Cepimar)

Logo depois da instalação da nova Companhia de Bondes Elétricos, estabeleceu-se uma parada em frente ao café. Pedro Eugênio residia no casarão vizinho onde funcionou o Dispensário dos Pobres. 

Extraído do livro
Fortaleza Descalça, de Otacílio de Azevedo.

3 comentários:

Ana Luz disse...

Observe as calçadas da antiga avenida,atual avenida da Universidade,veja o cuidado com a arborização,o que não existe hoje.Nossa consciência ecológica regrediu?

Fátima Garcia disse...

O sumiço da cobertura vegetal é fruto da especulação imobiliária, as áreas verdes foram substituidas por construções. No caso daquele trecho do Benfica, começou com a UFC (quem diria), e o pouco que tinha sobrado foi detonado pelo metrofor. Quanto as calçadas, a muito tempo deixaram de ser lugar de pedestres. Tem diversas formas, alturas e larguras e diversos usos: estacionamento, oficina, banca de frutas, pizzaria, etc. etc. Cidade sem lei, Ana Luz.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Ver matéria sobre o Benfica é sempre um grande prazer, quanta diferença, de ontem pra hoje.
Não conhecia sobre o Pedro Eugênio, muito menos do seu café do seu retorno. Isso é que é um "causo" gostoso de se saber.
Gostei, viu?
Beijos!