Naquele tempo, início dos anos 40, com a cidade ainda muito provinciana,
o comércio abria às 7:30 da manhã, fechava para o almoço às 11:00, reabria às
13:00 e encerrava o expediente às 17:30. É difícil acreditar que num tempo que
nem é assim tão distante, as lojas fechavam para o almoço, ficando o centro
semelhante aos domingos e feriados, quando o movimento era quase nenhum, pois não
haviam os camelôs que hoje ocupam todos os espaços. Também não existiam as
movimentadas lanchonetes, os cinemas só iniciavam suas sessões a partir das 15
horas, com exceção do Majestic que abria ao meio dia, com uma programação
popular de seriados e “westerns”.
Centro - Praça do Ferreira
A cidade pequena, o comércio fechado entre onze e
treze horas, era dos mais insignificantes o movimento de pessoas e de veículos.
Como os bairros eram muito próximos do centro, os comerciários iam almoçar em
casa, e logo estavam de volta, permanecendo defronte aos estabelecimentos onde
trabalhavam, aguardando a reabertura para o 2° expediente.
Edifício Diogo
Foi por causa disso que a Ceará Rádio Clube
descobriu que podia atenuar esse tempo de espera e criou o programa “A Hora do
Comerciário”, que na verdade era um pequeno show ao vivo, que não era levado ao
ar. Uma forma que a emissora encontrou para movimentar o centro naquela hora.
“A Hora do Comerciário” era um programa
descontraído, simples e sem maiores preocupações de produção, mas impecável na
sua simplicidade, o incomparável padrão de qualidade, característica da
emissora Associada.
discoteca da Ceará Rádio Clube no Edifício Diogo. Milhares de discos de cera cuidadosamente guardados em estantes envidraçadas
O auditório da Ceará Rádio Clube era de proporções mínimas e ficava localizado no oitavo andar do Edifício Diogo. O palco não
passava de um estrado de madeira envernizada onde ficavam os animadores, os
músicos e os cantores. Ao fundo, uma bonita e pesada cortina azul tirava a
visão da grande parede de vidro. O micro auditório, porém, era bastante
confortável, com poltronas anatômicas e janelas basculantes no lado nascente,
garantindo ventilação contínua.
O apresentador galã João Ramos, era o animador de “A
Hora do Comerciário” e apesar do fato de não estar no ar, era honesto e fazia
tudo com muita alegria e animação. A simplicidade do programa não exigia a
presença da orquestra que era composta em parte por velhos professores, apenas
o chamado “Regional” acompanhava os cantores.
Os cantores que se apresentavam
na “A Hora do Comerciário” eram a estrelíssima Tânia Maria, Gilberto Milfont,
Otávio Santiago, Mário Alves, Epaminondas e Evaldo Gouveia. Os três últimos
viriam a formar o Trio Nagô, que fez enorme sucesso.
Trio Nagô |
Do horário que antecedia o programa e até o seu
término, era dos mais intensos o movimento dos dois elevadores e na escada do
edifício Diogo, com o público naquele frenético sobe e desce, entra e sai, como
se o fato de chegar e logo sair já valesse como presença ao espetáculo. O auditório era dos mais animados, moças e rapazes em seus uniformes de trabalho, que não
economizavam aplausos às atrações que desfilavam sob o comando do carismático
João Ramos.
Era assim o rádio naquele tempo, quando o Ceará
contava com uma única estação com o requinte só comparável às grandes redes de televisão
dos nossos dias.
extraído do livro Coisas que o tempo levou - A Era do Rádio no Ceará
de Marciano Lopes
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