sexta-feira, 6 de março de 2015

A Hora do Comerciário - O Programa do Horário do Almoço

Naquele tempo, início dos anos 40,  com a cidade ainda muito provinciana, o comércio abria às 7:30 da manhã, fechava para o almoço às 11:00, reabria às 13:00 e encerrava o expediente às 17:30. É difícil acreditar que num tempo que nem é assim tão distante, as lojas fechavam para o almoço, ficando o centro semelhante aos domingos e feriados, quando o movimento era quase nenhum, pois não haviam os camelôs que hoje ocupam todos os espaços. Também não existiam as movimentadas lanchonetes, os cinemas só iniciavam suas sessões a partir das 15 horas, com exceção do Majestic que abria ao meio dia, com uma programação popular de seriados e “westerns”.

Centro - Praça do Ferreira

A cidade pequena, o comércio fechado entre onze e treze horas, era dos mais insignificantes o movimento de pessoas e de veículos. Como os bairros eram muito próximos do centro, os comerciários iam almoçar em casa, e logo estavam de volta, permanecendo defronte aos estabelecimentos onde trabalhavam, aguardando a reabertura para o 2° expediente.

Edifício Diogo

Foi por causa disso que a Ceará Rádio Clube descobriu que podia atenuar esse tempo de espera e criou o programa “A Hora do Comerciário”, que na verdade era um pequeno show ao vivo, que não era levado ao ar. Uma forma que a emissora encontrou para movimentar o centro naquela hora.

“A Hora do Comerciário” era um programa descontraído, simples e sem maiores preocupações de produção, mas impecável na sua simplicidade, o incomparável padrão de qualidade, característica da emissora Associada.

discoteca da Ceará Rádio Clube no Edifício Diogo. Milhares de discos de cera cuidadosamente guardados em estantes envidraçadas
O auditório da Ceará Rádio Clube era de proporções mínimas e ficava localizado no oitavo andar do Edifício Diogo. O palco não passava de um estrado de madeira envernizada onde ficavam os animadores, os músicos e os cantores. Ao fundo, uma bonita e pesada cortina azul tirava a visão da grande parede de vidro. O micro auditório, porém, era bastante confortável, com poltronas anatômicas e janelas basculantes no lado nascente, garantindo ventilação contínua.

O apresentador galã João Ramos, era o animador de “A Hora do Comerciário” e apesar do fato de não estar no ar, era honesto e fazia tudo com muita alegria e animação. A simplicidade do programa não exigia a presença da orquestra que era composta em parte por velhos professores, apenas o chamado “Regional” acompanhava os cantores. 


Os cantores que se apresentavam na “A Hora do Comerciário” eram a estrelíssima Tânia Maria, Gilberto Milfont, Otávio Santiago, Mário Alves, Epaminondas e Evaldo Gouveia. Os três últimos viriam a formar o Trio Nagô, que fez enorme sucesso.

Trio Nagô
Do horário que antecedia o programa e até o seu término, era dos mais intensos o movimento dos dois elevadores e na escada do edifício Diogo, com o público naquele frenético sobe e desce, entra e sai, como se o fato de chegar e logo sair já valesse como presença ao espetáculo. O auditório era dos mais animados, moças e rapazes em seus uniformes de trabalho, que não economizavam aplausos às atrações que desfilavam sob o comando do carismático João Ramos.

Era assim o rádio naquele tempo, quando o Ceará contava com uma única estação com o requinte só comparável às grandes redes de televisão dos nossos dias.

extraído do livro Coisas que o tempo levou - A Era do Rádio no Ceará 
de Marciano Lopes

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