A Praça do Ferreira, oficialmente declarada em 2001 “Patrimônio Histórico e Patrimonial de
Fortaleza”, está visivelmente abandonada pelo poder público: bancos quebrados, arborização
mal cuidada, fonte desligada e sem manutenção, invadida por moradores de rua, que ali dormem,
fazem suas necessidades, jogam restos de alimentos. Sob o olhar complacente dos
gestores, a Praça do Ferreira, o coração de Fortaleza, amarga a perda de sua importância
histórica e agoniza diante de olhos desatentos e indiferentes.
Abandonado pelas
camadas de alta renda e esvaziado no que se refere a atividades de lazer,
cultura e administração, o Centro de Fortaleza foi apropriado pelas camadas
populares. Nos anos 1980/90, tornou-se uma área tipicamente comercial e de
serviços, direcionada à população de menor poder aquisitivo. Suas praças, antes
voltadas para o lazer dos segmentos mais abastados, foram sendo convertidos em
terminais de ônibus – Praça José de Alencar, Praça Castro Carreira, Praça do
Coração de Jesus – ou em mercados informais (Praça da Lagoinha, Praça José de
Alencar, Cidade da Criança).
A consolidação da
Aldeota a partir da década de 1980, como local de lazer e comércio e a
construção dos shoppings centers na Aldeota e no Cocó contribuíram para a
decadência do centro.
Um dos indícios mais claros de como os shoppings ajudaram a esvaziar o centro de Fortaleza foi o fechamento dos cinemas da região: o Cine Diogo encerrou as atividades em 1997; o Jangada em 1996; o Fortaleza, em 1999. 0 São Luiz, depois de alguns anos inativo, foi reaberto recentemente.
Um dos indícios mais claros de como os shoppings ajudaram a esvaziar o centro de Fortaleza foi o fechamento dos cinemas da região: o Cine Diogo encerrou as atividades em 1997; o Jangada em 1996; o Fortaleza, em 1999. 0 São Luiz, depois de alguns anos inativo, foi reaberto recentemente.
Para desgosto dos
setores dominantes, as ruas do centro foram invadidas por milhares de camelôs,
com suas barraquinhas onde são vendidos inúmeros produtos populares, vários
deles de procedência duvidosa.A questão da ocupação
do Centro pelos camelôs não é nova nem inédita. Em trecho do romance “A
Normalista” Adolfo Caminha descreve o comércio ambulante nas ruas de Fortaleza
em torno de 1870.
A principio, as
autoridades enfrentaram o problema do comércio informal como uma questão afeta
à área da saúde. Somente após 1970, o poder público passou a ar atenção ao
comércio ambulante através de adoção de medidas repressivas e disciplinadoras
baseadas em questões relativas à higiene e ao trânsito. No final dos anos 70
foram adotadas políticas de urbanização relacionadas ao uso do espaço público,
visando implementar medidas que promovessem o controle e o ordenamento daquelas
práticas comerciais populares.
Assim, por diversas
vezes, a Prefeitura Municipal procurou controlar esse processo de apropriação
do espaço público, através do cadastramento dos comerciantes ambulantes, restrições de áreas que podem ser ocupadas e
mesmo o deslocamento para outras áreas, o que porém, nunca resolveu nem acabou
com o problema – ao contrário, a quantidade de ambulantes só aumentava. As
tentativas de transferências são sempre fortemente recusadas pelos vendedores,
num sinal claro da importância do Centro para esse tipo de comércio popular, em
razão da grande concentração de consumidores de baixa renda. Além da
resistência dos camelôs em abandonarem a área, acrescenta-se ainda a
transformação de praças e ruas em pontos terminais de ônibus, o que leva a
concentração de muitos eventuais consumidores.
Sem a presença das classes dominantes, a área central da cidade foi negligenciada pelo Estado, se deteriorando: calçadas estreitas, totalmente ocupadas pelos comércios, intensa poluição visual e sonora, falta de higiene, de segurança, pobreza das fachadas dos imóveis, ausência de limpeza pública. Muitos dos antigos casarões desmoronaram e foram transformados em estacionamentos para veículos. Criou-se um ciclo vicioso de segregação espacial e deterioração: ao consolidar-se como área de comércio para pobres, o Centro teve suas possibilidades reduzidas com relação a uma possível melhoria na qualidade espacial, visto que as camadas populares não exercem pressão nesse sentido.
Sem a presença das classes dominantes, a área central da cidade foi negligenciada pelo Estado, se deteriorando: calçadas estreitas, totalmente ocupadas pelos comércios, intensa poluição visual e sonora, falta de higiene, de segurança, pobreza das fachadas dos imóveis, ausência de limpeza pública. Muitos dos antigos casarões desmoronaram e foram transformados em estacionamentos para veículos. Criou-se um ciclo vicioso de segregação espacial e deterioração: ao consolidar-se como área de comércio para pobres, o Centro teve suas possibilidades reduzidas com relação a uma possível melhoria na qualidade espacial, visto que as camadas populares não exercem pressão nesse sentido.
Nas fotos, moradores
de rua na Praça do Ferreira, e o comércio ambulante na Praça José de Alencar, na
calçada do teatro.
Urbanistas defendem
que, a valorização do Centro de Fortaleza, passa por uma reocupação dos
espaços, (re)atribuindo-lhe funções administrativas, artísticas, culturais, lazer
e habitacional, o que é pouco provável, pois grandes setores econômicos privados
não têm interesse na região. Atualmente é relativamente pequena a quantidade de
imóveis residenciais efetivamente ocupados.
extraído do livro: Fortaleza: uma breve história
de Artur Bruno e Airton de Farias
fotos do acervo do blog
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