quinta-feira, 12 de março de 2015

Os Riscos de Incêndio nos Antigos Cinemas

A maior preocupação dos pioneiros exibidores de filmes era com o risco de incêndio nos equipamentos. Razões de sobra existiam para isso, porque nos primeiros tempos, utilizando películas altamente inflamáveis, improvisando seus salões em locais sem infraestrutura adequada, a qualquer descuido poderia haver um acidente e destruir o empreendimento, causando prejuízos materiais e, pior podendo chegar a uma catástrofe, com a perda de vida de seus frequentadores e funcionários.

O primeiro incêndio registrado em cinema de Fortaleza ocorreu no dia 29 de setembro de 1902, com prejuízos para o empresário exibidor Arlindo Affonso da Costa, ex-sócio da Casa Bordallo em Fortaleza, que retornara do Rio de janeiro com um Cinematógrafo em julho daquele ano.


Arlindo Costa instalara inicialmente seu aparelho à Rua Major Facundo, 83, com estreia no dia 9 de junho e exibições contínuas até o mês de agosto. Verificando que a cidade comportava um espaço de lazer mais diversificado, nesse mesmo local inaugura o Recreio Cearense, no dia 9 de setembro, com a festa animada pela banda de música do Batalhão de Segurança, sorteio de flores entre as senhoras presentes e apresentação do seu “belo cynematographo”.

O empreendimento de Arlindo Costa foi interrompido com o incêndio da noite de 29 de setembro de 1902, quando realizava testes com o aparelho, resultando em prejuízos materiais avaliados em 2 contos de reis. A imprensa noticiou o sinistro. 

A ameaça de incêndio perseguia os primitivos cinematógrafos, e o fogo apareceu na origem dos espetáculos de Cinema, em Paris, onde se registrou a ocorrência mais devastadora, um episódio que quase comprometeu irremediavelmente a nova descoberta tecnológica.

Em 1897, ano em que o cinema chegou a Fortaleza, uma grande tragédia abala Paris e ameaça o futuro do cinema. Na festa beneficente anual, denominada Bazar da Caridade, patrocinada pela aristocracia francesa, a grande atração seria o Cinematógrafo. Foi construído para esse fim um pavilhão de madeira, em área privilegiada dos Champs-Elysées, defronte às propriedades do Barão de Rothschild. E, extrema imprevidência, dotada de apenas uma porta de dois metros de largura, abrindo-se para a parte interna. 

Na tarde de 4 de maio de 1897, encontravam-se no recinto cerca de 1.500 pessoas. Às 16 horas, após a explosão de uma lâmpada de éter do cinematógrafo, as chamas se propagaram rapidamente, provocando pânico entre os presentes. O resultado da tragédia foi a total destruição das instalações e dezenas de corpos carbonizados. No incêndio morreram personalidades ilustres da sociedade parisiense. 

No final da trágica noite foram recolhidos cento e onze cadáveres, seus corpos levados para a Catedral de Notre Dame. Toda a cidade de luto, os teatros fechados, por fim, o comovente funeral assistido pelo Presidente da França.

Foi o primeiro grande desastre do Cinema que praticamente viu-se transformado em espetáculo marginalizado e restrito aos espaços circenses. Mas outros viriam a ocorrer, com a imprensa alertando para os perigos do cinematógrafo, prejudicando a confiabilidade dessa forma de diversão.

 O Cine Merceeiros sofreu um incêndio no dia 1° de novembro de 1935, na sessão comemorativa do 5° aniversário. Depois do sinistro, o cinema encerrou as atividades em definitivo.  

Em Fortaleza, além do sinistro no Cinematógrafo de Arlindo Costa, houve décadas mais tarde, a destruição pelo fogo de dois dos seus cinemas fixos. No dia 1° de novembro de 1935, na sessão comemorativa do 5° aniversário, incendiou-se o Cine Merceeiros. O incêndio teve início de uma faísca desprendida da chave de ligação, em curto-circuito, atingindo os rolos de fita. Embora o projecionista tenha procurado restringir o fogo, jogando o material incendiado no chão, as chamas se propagaram. O sinistro determinou o fechamento definitivo do cinema, mas não fez vitimas entre os espectadores. 

Praça do Ferreira com o prédio do Cine teatro  Majestic Palace - anos 30

O imponente Cine-teatro Majestic-Palace foi destruído pela ação de dois devastadores incêndios. Ocupando o terreno aos fundos do edifício de cinco andares, construído por Plácido de Carvalho, na Praça do Ferreira, perdeu a sua entrada e a ampla sala de espera com seus espelhos e cartazes, que ficavam no térreo do edifício, incendiado em 4 de abril de 1955. Uma catástrofe que consumiu também as Lojas Brasileiras 4.400 e atraiu a atenção da cidade. Sobreviveu o salão do Cine Teatro, em estrutura metálica, que ganhou uma nova entrada, mais acanhada, pelos fundos do prédio, à Rua Barão do Rio Branco. 



Incêndio do Cine-teatro Majestic-Palace em 1955 e o que restou do prédio, em fotos da ABA Film 

No segundo incêndio, no início do dia 1° de janeiro de 1968, o fogo devorou por completo o tradicional cinema, que já completara 50 anos de atividades. O incêndio foi percebido as 2 horas da madrugada do dia 1° de janeiro, pelas poucas pessoas que transitavam pela Praça do Ferreira, que notaram  que havia fumaça no interior do Cine Majestic. Apesar da ação pronta dos 70 bombeiros e 8 carros comandados pelo tenente Moacir de Sousa, três horas depois do início do incêndio, só restaram a sala de espera, a entrada e os dois projetores, encerrados em cabines de cimento armado. O teto desabou, as cadeiras foram destruídas, assim como os cartazes.

Com a impossibilidade de debelar as chamas e salvar o que tinha no interior do cinema, os bombeiros trataram de isolar a Farmácia Pasteur e a Loja Ocapana  matriz, que estavam ameaçadas pelo fogo. Às 7:30 horas, depois que o fogo estava completamente debelado, a guarnição do Corpo de Bombeiros regressou ao quartel.

extraído do livro A Tela Prateada, 
de Ary Bezerra Leite
fotos do livro Tela Prateada e do Arquivo Nirez

    

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