terça-feira, 24 de junho de 2014

O Progresso no Século XIX

Fachada do Colégio da Imaculada Conceição em 1905

O Colégio Ateneu cearense foi instalado em 8 de janeiro de 1863 e marcou o início de uma era de educandários bem organizados que não mais deixariam de oferecer aos estudantes as facilidades exigidas para sua educação intelectual, moral e artística. Da mesma década são o Seminário Episcopal de Fortaleza (10 de setembro de 1864) e o Colégio da Imaculada Conceição, dirigido pelas Irmãs de São Vicente (15 de agosto do mesmo ano). Desse mesmo decênio é a abertura da Biblioteca Pública, em 25 de março de 1867, pelo Presidente João de Sousa Melo e Alvim. Contava com 1730 volumes  e acomodava-se em edifício na Praça do Patrocínio, no qual depois esteve o Quartel do Batalhão de Segurança e, em 1933 passou a funcionar o Departamento de Saúde Pública.

 Prédio do Batalhão de Segurança, onde antes funcionara a Biblioteca Pública

No plano material, a cidade também prosperava, recebendo no governo do Presidente José Bento da Cunha Figueiredo Junior, grande incremento a pavimentação das ruas e iluminação a gás carbônico.  Até então a iluminação era a base de azeite de peixe, serviço inaugurado em 1 de março de 1848 pelo contratante Vitoriano Augusto Borges. Compunha-se de 44 lampiões de quatro faces, mais largos em cima que embaixo, com fundo e tampa de metal. Eram pendurados em suporte de ferro cravados nas esquinas para que pudessem distribuir a luz em ambas as ruas. Uma corda, passando por duas roldanas elevava-os até o suporte, depois de convenientemente acesos, e uma caixa de azeite, com um pavio de algodão, completava o primitivo sistema de iluminação. 

 Passeio Público, equipado de combustores e iluminação a gás carbônico 

Esses mortiços focos, foram substituídos em 1866 por combustores artísticos, colocados nos passeios, de cada lado da rua, alternadamente. A altura de 2,40 metros, e a boa qualidade da luz proporcionava uma iluminação muitas vezes melhor que a de azeite. A base é o gás carbônico, extraído do carvão de pedra. A empresa que explorou o serviço público e para as residências – a Ceará Gas Co. Ltd – durou até outubro de 1935, quando foi rescindido o seu contrato.
Outra melhoria de nota foi a canalização da água potável destinada a abastecer a Capital. Acanhado e precário, era, entretanto, de enorme utilidade. Contratou-o em 27 de maio de 1863, a firma de Londres – Ceará Water Works Co. Ltd – que o inaugurou em 26 de março de 1867. A despeito de gozar do privilégio por 50 anos, viu-se a empresa obrigada a suspender definitivamente o abastecimento em virtude da seca de 1877, que secou as fontes de água. Nem ao menos confiou a outros os seus interesses, posto que os seus ativos foram vendidos em hasta pública para pagamento de dívidas. O abastecimento era feito por chafarizes espalhados em vários locais públicos. 

 Estação de Arronches, atual Parangaba da Estrada de Ferro Baturité, inaugurada em 1873

Todavia, foi a inauguração da estrada de ferro o fato mais importante dessa época. Contrataram sua construção, em 25 de junho de 1870, o Senador Pompeu, Joaquim Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), Gonçalo Baptista Vieira (Barão de Aquiraz), o engenheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcante e o inglês Henry Brockhurst. A ferrovia teria como terminal a cidade de Baturité e essa a razão do nome – Estrada de Ferro de Baturité. Começou o tráfego inaugurando-se a estação da Parangaba, em 30 de novembro de 1873. Em junho de 1878, já falecido o Senador Pompeu, a propriedade da estrada de ferro foi transferido ao governo imperial, resgatadas as respectivas ações, trocadas por apólices do tesouro. 

 Parada dos bondes na Praça do Ferreira


Não menos valioso, o surgimento da Companhia Ferro-Carril, com os bondes de tração animal. Organizada em 3 de fevereiro de 1877, pôs em trilhos os primeiros veículos no dia 25 de abril de 1880. Começou com 25 bondes. Cada bonde podia conduzir 25 passageiros, distribuídos em cinco bancos. Pequeninos, modestos, dirigidos por um boleeiro quase sempre vestido de fraque, os primitivos bondes pareciam caixas de fósforos, tendo umas cortinas que corriam balaústres abaixo, em defesa do calor do sol ou da chuva. Trafegavam o dia inteiro, das 6 da manhã às 9 da noite, puxados por dois burros usando uns óculos de couro, tendo como ponto de partida de todas as  linhas, a Praça do Ferreira. O último deixava a praça ao tocar da corneta dos quartéis, anunciando o recolher, sendo que o do Alagadiço saía às 8 horas. A passagem custava cem réis.
Completando a rede das comunicações, em 23 de fevereiro de 1881, foi inaugurado o telégrafo, ligando Fortaleza ao Rio de Janeiro. Aos demais estados do Sudeste, ao Maranhão e à Europa, no ano seguinte, pelo cabo submarino lançado pela American Telegraph and Cable Company.

 Construído em 1825, o sobrado do Comendador Machado, na esquina das Ruas da Palma e Municipal (Major Facundo com Guilherme Rocha), no local onde hoje está o prédio do Excelsior, foi um dos imóveis registrados pelo censo de 1872.  

Os telefones datam de 11 de fevereiro de 1883, iniciativa de Confúcio Pamplona, homem de larga visão empreendedora. A sua Casa Confúcio, na Rua Major Facundo, foi o maior empório comercial daqueles tempos.
O recenseamento de 1872, atesta que Fortaleza contava com 21.372 habitantes; em  1877, o número saltou para 26.943 habitantes. Havia 72 sobrados, quase todos de um só andar, 4.380 casas térreas e 1178 choupanas. Quarenta e cinco ruas, 4 boulevards, 16 praças, 10 templos católicos e 25 edifícios públicos.

Extraído do livro Geografia Estética de Fortaleza
De Raimundo Girão
fotos do Arquivo Nirez

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