terça-feira, 1 de julho de 2014

Os Primórdios da Aviação no Ceará

 primeiro avião que aterrissou nas águas da Barra do Ceará 

As preocupações com a navegação aérea no Ceará surgiu entre fins do século XIX e início do século XX. E começou com um voo de balão, em 1º de janeiro de 1907, quando José Pereira Pinto da Luz (Zé da Luz)  partindo do pátio interno do velho Quartel da Força Pública, atual 10ª. Região Militar sobrevoou o céu de Fortaleza e desceu na Praia do Arpoador. O balão tinha 12 metros de altura e chamava-se Brasil. A experiência foi repetida no dia 6, quando o aeronauta caiu sobre a Santa Casa e quebrou a perna. 
Já em termos internacionais, em 1922 Euclides Pinto Martins, cearense de Camocim, empreendia um ousado raid aéreo Nova York – Rio de Janeiro, junto com outros aviadores.
Porém antes da façanha do cearense, o povo da pequena e pacata Fortaleza de princípio do século, já travara conhecimento com aviões; é que no dia 16 de março de 1912, o aviador francês Jean Felice, que aqui chegara dirigindo um aparelho marca Bieriot, caía com ele, ao tentar a primeira decolagem, fato que ocorreu diante de grande número de curiosos, reunidos no antigo Campo do Prado, no Benfica. Só alguns dias depois, Jean Felice, sempre cercado da curiosidade popular, levantou voo em sua máquina.
Mas o fato mais eloquente como índice de interesse e participação dos cearenses na problemática da aviação em seus primórdios foi a realização de Pinto Martins, do voo de New York ao Rio de Janeiro comandando o hidroavião Sampaio Correia II, inaugurando uma rota que até então não havia sido tentada. 

 chegada em Aracati, do piloto Pinto Martins, com seus companheiros de voo 

Calcule-se então o que terá sido a agitação da população da então próspera e dinâmica cidade de Aracati, no litoral leste do Ceará. No dia 20 de dezembro de 1922, toda ela aglomerada às margens do Porto Monteiro, à espera da amerissagem da estranha ave, quando, da cabine,  surgiu Pinto Martins, caboclo praieiro também,  do lado oeste do mesmo litoral. 
Já em idos de 1922, o Aracati recebia o cearense aviador, que inaugurava um longo e acidentado voo entre New York e o Rio de janeiro, já trazendo consigo – com muito senso de publicidade e sensacionalismo para a época – como companheiros de aventura o norte-americano Walter Hinton, o jornalista George Bye, redator do jornal New York World, o cinegrafista da Pathe J. Thomas Baltzelli e o engenheiro mecânico John Willeyen. Ainda hoje o feito e a figura de Pinto Martins estão envoltos em certo mistério, sabido que, em 12 de abril de 1924, ele era encontrado morto, ao que se diz por suicídio, em seu apartamento no Rio de Janeiro. 

 avião da Latecoera, que aterrissou na Praia de Iracema em 1927. 

No dia 9 de dezembro de 1927, descia nas areias da Praia de Iracema nas proximidades da antiga estação radiotelegráfica, o aparelho biplano de número 118 da companhia francesa Latecoera, pilotado pelo aviador Vachet. Era um voo experimental, na tentativa futura de se estabelecer uma linha aérea postal entre Buenos Aires e Belém do Pará. 

 o Hidroavião Bahia, pousou nas águas do açude do Cedro em 1930

Em 1930, no dia 9 de fevereiro, alguns prósperos comerciantes do Ceará, entre eles Joaquim Markan e Eurico Salgado Duarte, realizavam  um passeio aéreo, de Fortaleza à cidade de Quixadá, a bordo do hidroavião Bahia. O aparelho pousou nas águas do açude do Cedro, pertencente que era à Nyrba Line...
No mesmo ano, os jornais registravam como algo sensacional, o fato do comerciante Fernandes Junior ter saído de Fortaleza, ido e voltado à Belém, depois de pernoite na capital do Pará, em apenas 36 horas!

 Hidroporto Condor, local de pouso e decolagens de aeronaves na Barra do Ceará

Apenas em 1930, no dia 12 de agosto, depois de longa espera por parte de quase toda a população, chegava a esta capital uma esquadrilha de quatro aviões do Exército, os famosos e históricos “Waco-Cabine”, que foram descer nas areias largas e planas da Barra do Ceará.
A partir de 1930, na mesma proporção que crescia no mundo o entusiasmo pela navegação aérea, aqui no Ceará a aviação tornou-se um verdadeiro ideal, quer no campo militar, quer no civil. Daí o entusiasmo do jornalista Assis Chateaubriand, pioneiro da nossa aviação civil. A partir daí surgiram os aeroclubes, que dariam à aviação comercial, inúmeros e excelentes pilotos.
Corria o ano de 1923. Um ano depois da passagem do Sampaio Correia II, pilotado por Pinto Martins, Aracati recebia a visita de um hidroavião. Desta vez tratava-se de uma aeronave estrangeira, de procedência germânica. Era integrante de pequena frota pioneira da aviação comercial, que visava à costa brasileira para integra-la num complexo de comunicações comerciais regulares, de postais e de passageiros, embrião  do futuro Sindicato Condor, que por muitos anos dominou os céus do Brasil, até o advento da segunda guerra mundial.

  Hidroavião Junkers 218, que explodiu em Aracati e matou os dois pilotos alemães

O avião vinha pilotado por dois jovens louros que foram recebidos com entusiasmo pelos moradores de Aracati. Os pilotos eram filhos do proprietário da fábrica alemã de cujas oficinas saíram os aviões. Na partida, ao arremeter pelas águas da barra do Rio Jaguaribe, não sustentou o voo e caiu em seguida, explodindo e carbonizando os dois jovens pilotos.

 monumento aos aviadores alemães em Aracati

O pai dos rapazes mandou lá da Alemanha, algum tempo depois, as peças de um monumento, em mármore de Carrara, que foi erguido nas proximidades do local do sinistro, encimado por uma placa de bronze.
Em 1945, quando a alma brasileira protestava contra os torpedeamentos de barcos nacionais pelos submarinos alemães, o povo de Aracati destruiu o monumento.

Extraído do livro
Crônica da fortaleza e do siará grande, de Otacílio Colares 

  

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