sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sobre Sete Colinas


Vista aérea do Outeiro da Prainha em 1900

À semelhança de Roma, Fortaleza cresceu entre sete colinas. Aproximando-se da cidade pelo mar avistava-se a primeira dessas elevações, ao nascente e fronteiro a praia: O Outeiro da Prainha. Despontando de seu barranco, no alto de suas ladeiras que já serviram de arraial de índios, o par das afuniladas torres da Igreja de N.S. da Conceição, dava o rumo aos navegantes. A origem dessa igreja deveu-se a secular veneração em Lisboa pela confraria da Imaculada Conceição. 


Escolheram para sua construção um local distante da cidade, quase deserto, com noites estreladas e dias luzidos pela belíssima paisagem de coqueirais, que se perdia lá em baixo, ao longo da costa verdejante, vivamente movimentado pela brisa vinda do mar.
Houve um tempo em que os muros da igreja eram pintados de preto. Ressaltava-se assim, o sentimento grave e místico daquele sítio perdido no areal, rodeado por um respeitoso silêncio, só quebrado pelas constantes peregrinações de seus fiéis, clareando o morro com seus círios luminosos.
Quando o casario começou a ladear a igreja, alguns membros da família Borges foram morar ali em graciosas mansões, e doaram ao templo preciosos objetos de arte e devoção: o primogênito Antônio doou uma imagem de Santo Antônio, vinda de Portugal que media sete palmos de altura. Também deixou ali uma grande cruz de madeira prateada. Outro membro da família ornou o altar mor com a imagem da padroeira Nossa Senhora da Conceição, com seu hábito de cetim branco, manto azul e coroa de prata, que ainda se encontra no templo.
Atrás do Outeiro da Prainha situava-se a Elevação da Aldeota, no sítio em que mais tarde findaria a linha de bondes da Cia. Ferro-Carril, organizada e dirigida por Tomás Pompeu de Sousa Brasil. Nesse elevado em tempos remotos, os índios vindos da Vila Velha erigiram ali uma aldeia, de onde vem a denominação Aldeota.


 antigo Quartel de 1ª Linha, atual 10ª Região Militar 

No lado oposto do Outeiro da Prainha, na margem esquerda do regato Pajeú e estendendo-se até a praia, estava a Colina da Misericórdia. Nesse local se levantou o Forte de N.S. de assunção, o Quartel de Primeira Linha, hoje ocupado pela 10º região Militar, o Passeio Público, a Santa Casa de Misericórdia – o primeiro hospital da cidade – e a Casa de Detenção, hoje ocupada pela EMCETUR,  centro de turismo e artesanato.
A Oeste da Misericórdia subia o Morro do Croatá e com ele se formou o antigo Campo da Amélia, atual Praça Castro Carreira. Neste local foi instalado o observatório construído pela Comissão Científica de Exploração, uma iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico, executada por iniciativa do Imperador Pedro II, cujo objetivo era estudar os locais menos conhecidos do Brasil.


Praça Castro Carreira fins do século XIX 

No lado poente desse largo, em terreno pertencente a sesmaria de Jacarecanga e doado pela família Braga Torres, criou-se, em 1848, o primeiro cemitério da cidade, o São Casemiro que não demorou muito a ser desativado, por conta das areias que o vento trazia das dunas vizinhas, soterrando aquele campo santo. Antes da existência desse cemitério os sepultamentos da cidade eram feitos sob os pisos ou nas paredes das igrejas ou em seus arredores. Somente em 1865 seria inaugurado o Cemitério São João Batista.
Na parte setentrional do Campo da Amélia, do alto de seus 15 metros, inaugurou-se em 1880  Estação central da Estrada de Ferro Baturité. A obra iniciada em 1879, segundo o plano do austríaco Henrique Foglare, foi elogiada por todo o império, pela solidez e beleza de seu traçado dórico-romano. 


Estação central da Estrada de Ferro Baturité em 1926

Por trás do atual Parque da Liberdade e à margem direita do riacho Garrote situava-se o Alto da Pimenta. Em seu declive o Boticário Ferreira construiu uma igrejinha sob a invocação de N.S. das Dores, sem, contudo, poder concluí-la. Mais tarde seria construída neste local, pela família Albano, a Igreja do Coração de Jesus, sobre um morro de dois metros de altura e curiosamente chamado de Morro do Pecado.


Igreja do Coração de Jesus, construída em 1848 no alto do Morro do Pecado. 


A colina do Taliense  apresentava seu ponto mais alto no sobrado do Conselheiro Rodrigues Junior, onde hoje está o Edifício Diogo. Recebeu esse nome por estar nela localizado o Teatro Taliense, originado do teatrinho particular Concórdia, que já exibia seus espetáculos em 1824, ao lado da Igreja do Rosário. Com o nome de Teatro Taliense, foi o Concórdia em 1842, para a Rua Formosa, atual Barão do Rio Branco. O Teatro Taliense funcionava num sobradão, então número 112, servindo além de teatro, de salão de bailes de máscaras. Ao ser demolido em seu lugar se instalou a Casa Singer, na Rua Barão do Rio Branco. 
A Colina do Taliense e a colina ao sul do córrego do Garrote, onde começava o sítio do Benfica, serviam de referência as estradas que por ali passavam a estrada de Jacarecanga e a de Arronches.


Rua Guilherme Rocha, antigas estrada de Jacarecanga e Travessa Municipal
  
A estrada de Jacarecanga era continuamente molhada pelas águas que escoavam da baixada da Lagoinha. Essa estrada, mais tarde chamada de Travessa Municipal, nascia na Rua do Rosário, passando em frente ao prédio da Intendência Municipal, formando assim a face setentrional da Praça do Ferreira. Atravessando todo o centro da cidade, esta estrada se dirigia ao poente, entrando no bairro do Jacarecanga.


Extraído do livro Ideal Clube – História de uma sociedade
De Vânius Meton Gadelha Vieira
fotos do Arquivo Nirez
  

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