terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Chegada dos Automotores e a Concorrência com os Bondes

Rua Guilherme Rocha nos anos 40, quando bondes e ônibus disputavam passageiros 

O final da década de 20 é o período da descoberta dos veículos automotores, despertando na população um interesse generalizado por automóveis, caminhões e ônibus, que pouco a pouco começam a transitam pelas ruas de Fortaleza, disputando espaço com burros de carga, carroças, charretes e bondes.Na visão histórica, esse é o momento da ruptura do tranquilo predomínio dos tramways , que os brasileiros chamaram de bondes. Por essa época, verifica-se na capital cearense, o crescimento na revenda de veículos americanos e europeus, com largo espectro para escolha. Lançamentos de novos tipos e modelos de veículos transformam-se em grandes eventos promocionais.

Bondes puxados a tração animal em 1904 

A Agência Ford, em 1928, dispunha para venda imediata na Casa Mundlos, do automóvel Double Phaeton a “barata” – modelo duas portas e o novo caminhão Ford, viabilizando por encomenda todos os outros modelos lançados pelo fabricante americano.  E o mercado era bastante diversificado, com a Chevrolet oferecendo do Dodge Brothers, modelo Victory Six de seis cilindros, aos caminhões Graham Brothers e Fiat. 
Desde 1925, de forma marcante, a cultura dos veículos automotores se introduz, daí a criação da Associação dos Chauffeurs do Ceará, a forte presença da Inspetoria Geral de Veículos do Estado do Ceará – que publica nos jornais a lista dos multados por excesso de velocidade  (a máxima permitida no centro da cidade era de 10km/h), falta de faróis e até por uso de chapéu, e a realização de concursos sobre o automóvel preferido.


ônibus da linha Praia de Iracema, marca Chevrolet, ano 1950, com carroceria artesanal 

Para o transporte coletivo, aparecem os veículos que os brasileiros denominaram auto-ônibus, da palavra latina “omnibus”, que significa “para todos”. A presença desses novos veículos em 1927 investe contra o domínio absolutos dos bondes e provoca uma reação da concessionária The Ceara Light and Power Co. Ltd., quando percebeu a queda progressiva no número de  usuários.   
De início, via judiciário, a Ceará Light tentou proibir o tráfego de auto-ônibus da empresa Ribeiro e Pedreira Ltda., nos rails ou trilhos da companhia inglesa, prática comum por oferecer melhor condição de circulação dos ônibus.  Em 1928, por decisão da justiça, a Light teve ganho de causa e os ônibus foram obrigados a circular fora dos trilhos. Isso foi motivo de um protesto, organizado pelos empresários derrotados, que transportam os manifestantes gratuitamente ao Passeio Público, local em que o diretor do Centro dos Importadores, clamou que a decisão judicial "feria os interesses da população". 
A concentração transforma-se em violenta ação na Praça do Ferreira, onde os bondes foram vaiados e um deles depredado, até que tudo fosse controlado pela polícia.


Rua Major Facundo, trecho Praça do Ferreira: bondes, ônibus e carros de aluguel 

Ficava evidente no episódio, que surgira no novo meio de transporte coletivo um concorrente aos bondes elétricos capaz de disputar a preferência da população, fato reconhecido até pelos empreendedores ingleses. A direção da Light decide então adquirir veículos automotores para atender a usuários de suas linhas. 
O histórico ingresso da Light no serviço de transporte urbano por ônibus, por um período que se estende do final da década de 20 até o início dos anos 30, está praticamente apagado da memória da idade. Há indícios que os primeiros veículos foram importados da Inglaterra, ou montados aqui mesmo, sobre chassis de caminhão Graham Brothers. A essa época a cidade possuía uma fábrica de carrocerias  para auto-omnibus e auto-bonde, à Rua Floriano Peixoto, 264, propriedade de José M. Ferreira, que as produzia para veículos com lotação de 17 e 34 passageiros.


veículos da Ceará Tramway para conserto das linhas elétricas dos bondes

Os primeiros ônibus, alguns curiosamente dotados de três eixos, possuíam assentos em palhinha e eram muito bem aceitos pela população que os chamava de “Ramona”, nome inspirado na valsa Ramona, considerada a primeira canção-tema da história do cinema. Na crença popular, toda vez que a melodia era apresentada, ocorria uma tragédia. A Ceará Light contratou para sua frota de ônibus, 20 choferes e 20 condutores e fiscais.


Os bondes circularam até 1947, quando foram desativados em caráter definitivo.


Os bondes da Light sobreviveram até 1947, quando por falta de manutenção e de interesse, foram sendo gradualmente desativados, até uma paralisação total, de caráter provisório no dia 19 de maio. Desapareceram em definitivo por ordem da interventoria federal na empresa, no dia 17 de agosto de 1947, quando foram desmanchados. Tornaram-se sucatas da qual tinham sido retirados todos os componentes de bronze que, vendidos em São Paulo, transformaram-se em recursos de caixa para a administração transitória da empresa sob intervenção.


trolebus na Praça do Carmo. Os ônibus elétricos rodaram pouco tempo em Fortaleza 

Fortaleza só voltaria a ter transporte urbano de tração elétrica, a partir de 25 de fevereiro de 1967, com a aquisição de dez ônibus elétricos fabricados pela Massari, na gestão do prefeito Murilo Borges. O projeto original previa 100 troleibus para uso exclusivo nas grandes radiais. Na implantação, o reduzido número de veículos foi restringido a duas linhas: Parangaba e Bezerra de Menezes, trafegando até sua extinção em 1971, no governo de Vicente Fialho.


fotos do Arquivo Nirez, Cepimar e Fortalbus
Extraído do livro de Ary Bezerra leite
História da Energia no Ceará  


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