quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vila Morena -- Estoril


Vindo de Pernambuco em 1915, José Magalhães Porto construiu entre 1920 e 1924 um palacete estilo bangalô, de taipa, e ricamente ornamentado, sobre a areia da então Praia do Peixe, entre as casas simples dos pescadores. 
A residência recebeu o nome de Vila Morena – uma homenagem à esposa Dona Francisca Frota Porto, tratada carinhosamente por Dona Moreninha. Todo o material de acabamento e adorno veio da Europa. A Vila Morena foi a primeira moradia a se destacar na orla marítima e a primeira a ter piscina em Fortaleza.

A Vila Morena com a placa do U.S.O na epoca em que funcionou como cassino dos oficiais norte-americanos quando aqui estiveram durante a 2a. Guerra Mundial (foto do Arquivo Nirez) 
  
Em 1942 foi requisitada pelos oficiais norte-americanos, que montaram duas bases em Fortaleza, para servir de cassino, onde se divertiam com shows, música, bebida, acompanhados das moças da sociedade local, que foram apelidadas pelos nativos de Coca-Colas. Homens não eram convidados. A presença dos gringos na cidade provocou mudanças no comportamento das moças, que até então não saíam desacompanhadas dos pais. Surgiu também entre os jovens o hábito de tomar cachaça com Coca-Cola – costume iniciado também pelos americanos, que costumavam frequentar o bar O Jangadeiro, na Praça do Ferreira.

 uma característica de muitas construções daquela época, em que a orla marítima não era valorizada: a casa foi construída de costas para o mar. (arquivo Nirez)

Na segunda metade da década de 40, após a 2ª. Guerra a Vila Morena foi alugada a João Freire de Almeida e Antônio Português. Em 1948 teve o nome mudado para Estoril, nome de um famoso cassino de Portugal. Até a década de 50 continuou recebendo plateias masculinas para seus variados programas.  Nessa época, já ostentando sinais de decadência física, passa a receber boêmios, intelectuais artistas e poetas da cidade, que ali discutiam diversos assuntos, regados a muita bebida e música. Em 1951 foi arrendado por José Alves Arruda, vulgo Zé Pequeno, que não cuidou do imóvel acelerando sua deterioração.
Em 1992 o prédio foi desapropriado pela prefeitura de Fortaleza, que pagou à família Porto, o valor de US$ 250 mil. Em seguida foi movida uma ação de despejo das famílias que residiam no prédio para início da reforma e recuperação do imóvel, que ameaçava ruir. 

 prédio do Estoril em 1988, com aspecto de abandono (Jornal o Povo)

Em 1994 ocorreu o desabamento da torre e parte da fachada. No imóvel moravam sete famílias – Zé Pequeno e seus dependentes. Para desocupar o local exigiam uma indenização de US$ 70 mil dólares, sob alegação de que havia pago 300 contos pelo ponto do restaurante em 1951, quando negociou o arrendamento com José Freire de Almeida. Mesmo após o desabamento, o restaurante continuou funcionando com mesas no calçadão. 

 Aparência atual do Estoril, depois da reforma de 2010 
(foto Fátima Garcia)
 
Após a desocupação, a prefeitura mandou construir outro prédio no mesmo estilo usando desta feita materiais modernos, como alvenaria e cimento armado, transformando- o em  Centro Cultural da Praia de Iracema. Foi inaugurado em 31 de maio de 1995, com bar, restaurante, sala de exposição e espaço para ministrar cursos ligados a arte e a cultura. 

foto Fátima Garcia
O prédio passou por uma nova reforma iniciada em 2008,  e concluída dois anos depois, em 2010. O principal objetivo da reforma foi a recuperação do patrimônio histórico do prédio, tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal em 1986. 
Além disso, houve algumas melhorias em relação à acessibilidade. A construção de rampas, escadas e plataformas facilitou a locomoção de deficientes físicos pelo seu interior.
Patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e afetivo de Fortaleza, o sobrado de 526 metros quadrados, não tem recebido muitas atividades desde a conclusão da reforma, permanecendo fechado a maior parte do tempo.
Fica na Rua dos Tabajaras, 397, na Praia de Iracema

pesquisa: 
livro Caminhando por Fortaleza, de Francisco Benedito
Revista Impressões Digitais - 3ª edição
SecultFor

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