A chegada da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) dizimando
populações e devastando cidades em proporções nunca vistas, é considerada o marco
que decreta o fim do modo de vida florido e eufórico que caracterizou a belle Epoque não só na Europa, mas também em
Fortaleza.
Familia no Passeio Público e os trajes usados durante a Belle Epoque
O pavor deixado pelas trincheiras, barricadas, saques, além da depredação e destruição de ícones da modernidade, entranhou uma profunda apreensão no seio das elites, arrefecendo o entusiasmo com os belos tempos até então vividos na cidade.
Em 1915, uma nova estiagem despejou milhares de flagelados
na capital: o medo do contágio e do retorno de epidemias impeliu o governo do Estado a criar, na periferia, um campo de concentração cercado (apelidado de “Curral
dos Bárbaros” por Rodolfo Teófilo), para isolar os retirantes e mantê-los
distantes do perímetro urbano central.
De 1917 a 1925 irrompe um inédito conjunto de greves e de
combativas organizações operárias como a Associação Gráfica do Ceará e a
Federação das Classes Trabalhadoras, sem falar da Criação dos Partidos
Socialista e Comunista.
Como se não bastasse, para afetar a euforia e a tranquilidade das camadas dominantes, no mesmo período aumenta o número de delitos e transgressões na cidade. O cotidiano da capital tornou-se atribulado também por conta do aumento dos fluxos urbanos desencadeado pelo adensamento populacional – nos anos 20 a população de Fortaleza atinge a casa dos 100 mil – e pela proliferação de automóveis, bondes, caminhões, e estabelecimentos comerciais no perímetro central.
Jardim 7 de Setembro na Praça do Ferreira, com um quiosque ao fundo. Foi construído por Guilherme Rocha, no início do século XX, quando a prioridade era o embelezamento da cidade. O Jardim e os quiosques, em número de quatro foram retirados em 1925 porque ocupavam muito espaço na Praça do Ferreira.
Como se não bastasse, para afetar a euforia e a tranquilidade das camadas dominantes, no mesmo período aumenta o número de delitos e transgressões na cidade. O cotidiano da capital tornou-se atribulado também por conta do aumento dos fluxos urbanos desencadeado pelo adensamento populacional – nos anos 20 a população de Fortaleza atinge a casa dos 100 mil – e pela proliferação de automóveis, bondes, caminhões, e estabelecimentos comerciais no perímetro central.
Em razão desse volume crescente de conflitos, tensões e
greves no centro da cidade, as elites
ali residentes principiam, a partir de 1915, a se transferir para uma área
distante e desocupada, como o Jacarecanga. No correr dos anos 20 o arrabalde
fica lotado de mansões e palacetes e torna-se efetivamente, o primeiro bairro
elegante de Fortaleza.
A seguir viriam Praia de Iracema (anos 30 e 40); Aldeota
(anos 40/50 em diante), delineando com maior visibilidade a constituição de
novos espaços burgueses, reforçando assim a segregação sócio- espacial entre
ricos e pobres da cidade.
O Jacarecanga foi o primeiro bairro a concentrar a elite da cidade
A introdução de automóveis (1910) e a instalação de bondes
elétricos (1913) imprimiram maior velocidade ao trânsito, provocando atropelamentos, forçando
a criação da polícia de trânsito e uma reorientação dos pedestres no uso das
vias públicas.
Com os bondes elétricos uma boa quantidade de postes precisou ser
instalada, começando a comprometer a harmonia do visual e o aformoseamento das
ruas. Por outro lado, a multiplicação desses veículos, além da própria extensão
urbana, concorreu para maior extensão de calçamentos, calçadas e abertura de
novas ruas e avenidas. Além disso, foi necessário reduzir o tamanho de alguns
logradouros centrais, caso da Praça do Ferreira em 1925, para facilitar a
passagem e o estacionamento daquelas novas máquinas.
A chegada dos bondes elétricos exigiu a colocação de grande número de postes e fios, o que comprometeu a beleza visual da cidade
A remodelação da Praça do Ferreira, na gestão do prefeito
Godofredo Maciel em 1925, mudou radicalmente aquele espaço: além de implantar
alamedas laterais para facilitar o trânsito, exigiu a demolição dos quatros
cafés afrancesados e do jardim 7 de Setembro, que ocupavam quase toda a praça,
deixando-a mais aberta ao fluxo de pedestres.
Os únicos toques de embelezamento permitidos foram a instalação de
estreitos canteiros de flores nas extremidades e um coreto coberto no centro da
praça.
A Praça do Ferreira, antes da reforma de 1925. Na parada do bonde uma grande aglomeração, em frente à Intendência Municipal, esquina com a Rua Floriano Peixoto
A demolição dos cafés e do Jardim 7 de Setembro simbolizava assim, o fim da vigência da belle epoque em Fortaleza. Símbolos da modernidade, datados do final do século e marcados pelos ideais de civilização e aformoseamento urbano, aqueles equipamentos conviveram romântica e harmoniosamente com o ritmo de bondes puxados por burros e charretes em volta da praça. Amplos e bucólicos, os cafés e o jardim agora eram vistos como obstáculos que deveriam desaparecer para dar passagem ao vaivém frenético da multidão de transeuntes, automóveis e bondes elétricos dos agitados anos 20.
A Praça do Ferreira depois da reforma, em 1925. Canteiros estreitos e um coreto no centro.
Essa transformação imposta à Praça do Ferreira, por ser o centro nervoso e gravitacional da cidade, onde as principais mudanças e novidades ocorriam com maior ressonância, é exemplar para demonstrar também que, nos agitados anos 20, tem início a constituição de uma nova organização do espaço urbano fortalezense, baseada na racionalidade e não mais no embelezamento.
O centro, portanto, já não era mais o mesmo. A Rua Formosa passou a se chamar Barão do Rio
Branco e já perdia sua formosura, deixando de ser residencial para se tornar
comercial. A tranquilidade, o conforto e a ambiência florida de antes cederam
lugar ao burburinho e ao congestionamento, forçando as elites a se mudarem para
o Jacarecanga.
A Avenida Pessoa Anta (antiga Rua da Praia) fazia parte de um conjunto de vias que partindo da Ponte Metálica deveriam atingir o centro urbano.
Por sua vez a abertura de um sistema de avenidas em 1927,
ligando o centro à Praia de Iracema (Praia do Peixe até 1925), já anunciava a
emergência dos anos 30 em diante, da região leste enquanto área residencial nobre e como lugar
de uma nova fonte de lazer: o banho de mar. O movimento nesse sentido foi
iniciado com a construção da bela mansão de veraneio, a Vila Morena, em 1928,
na praia de Iracema. A seguir vieram
outros bangalôs, além de bares e clubes praianos.
O banho de mar, antes utilizado apenas para fins de tratamento terapêutico recomendado por médicos, só se tornou opção de lazer a partir da liberalização comportamental e vestuária verificada nos anos 20 em diante. A praia antes ocupada por gente pobre como pescadores e estivadores, agora se transformava em espaço residencial elegante.
Ainda nos anos 20, assiste-se uma mudança radical nos costumes e no modo de vestir, sobretudo das mulheres. A nova moda, escandalosa e ousada, traduziu-se no uso de vestidos curtos e sem mangas e o corte de cabelos curtos, iguais aos dos rapazes. Dessa forma, para desespero de pais, maridos e namorados, as mulheres abandonam aquela aparência que vigorara durante séculos.
fotos do Arquivo Nirez
Pesquisa:
artigo "A Belle Epoque em Fortaleza: remodelação e controle", de Sebastião Rogério Ponte
artigo "A Belle Epoque em Fortaleza: remodelação e controle", de Sebastião Rogério Ponte
publicado no livro Uma Nova
História do Ceará.
livro "Fatores de Localização e de Expansão da Cidade de Fortaleza", de José Liberal de Castro
livro "Fatores de Localização e de Expansão da Cidade de Fortaleza", de José Liberal de Castro
3 comentários:
Parabéns pelo Blog.
Boas histórias, boas fotos...precioso.
Obrigado por nos oferecer a oportunidade de conhecer mais nossa cidade.
Gustavo Quinderé
obrigada a você Gustavo, por prestigiar a pagina.
Parabens pelo material,por dedicacao e esforco como esses de colocar e organizar em publico,é que podemos ainda descobrir e saber um pouco,da historia de nossa cidade!Muito Obrigado!
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