No
meio do terceiro quarteirão da Rua Major Facundo, erguia-se um velho sobrado
residencial, com muitas portas no pavio térreo e apenas duas ou três janelas no
andar superior, de propriedade do português José Smith de Vasconcelos. Chegando
ao Ceará em 1831, esse português fez fortuna como panificador em Fortaleza, foi
proprietário de “O Barateiro”, a primeira padaria da cidade instalada na Rua
Major Facundo esquina com a Castro e Silva. Ali se estabeleceria mais tarde, a
Fábrica Iracema de Cigarros de Philomeno Gomes e Filho e a Empresa de J. Tomé
de Saboia.
Alcunhado
de “Zé Barateiro”, esse tio do Barão de Studart tornou-se o 1° barão de
Vasconcellos. Voltou a residir na Europa e faleceu no Rio de Janeiro em 1903.
No lugar do sobrado de sua residência encontra-se atualmente o Edifício J.Lopes.
Antes da construção desse edifício funcionou o Restaurante Palhabote, de
Antônio Dias Pinheiro, Pedro Muniz e Guilherme Moreira da Rocha. Tempos depois
esse prédio foi ocupado pelo Cassino Cearense com o Cinema Júlio Pinto, uma das
primeiras casas de espetáculo cinematográfico de Fortaleza. Num dos espaçosos
salões desse Cassino, todo iluminado a luz elétrica, inaugurou-se o cinema, em
18 de setembro de 1909, com a presença de várias autoridades, entre outros pelo
presidente Nogueira Accioly e todo seu secretariado.
Vizinha
à residência do Barão de Vasconcellos localizava-se a casa comercial de José
Gomes de Moura – cônsul do Paraguai – e a loja de tecidos de seu cunhado –
cônsul da Bolívia – Maximiano Leite Barbosa.
Nas
proximidades encontrava-se ainda a moradia do português João Antônio Albernás
do Amaral, casado com uma Correia de Mello, membro da família proprietária da
Casa de Ferragem Amaral e Filhos. Dentre os seus descendentes destacam-se seus
filhos José Correia do Amaral e Isaac Correia do Amaral, conhecidos
abolicionistas e o cônego Ananias Correia do Amaral, um dos fundadores do
Colégio São José em Fortaleza.
Nessa
residência instalou-se mais tarde, a Casa Contado Cabral, fundada em 1884,
propriedade da família de Raul Conrado Cabral. Esse quarteirão abrigaria também
o escritório de Joaquim Markan. Próxima loja de Ferragens de Conrado Cabral
instalou-se a antiga Farmácia Teodorico, da família Eloy da Costa, na Rua Major
Facundo. A Farmácia Teodorico era a casa comercial mais antiga da cidade,
contemporânea do Brasil-reino, fundada pelo pai do velho Teodorico. Três
gerações dessa família dirigiram a farmácia, a começar por Antônio Eloy da
Costa, nascido em Recife em 1797, a quem foi concedida licença para abrir uma
botica. A instalação da farmácia em Fortaleza ocorreu em 1821.
Na
esquina das ruas Major Facundo e São Paulo, onde hoje funciona a Livraria
Paulinas residiu o Major Facundo de Castro Menezes, covardemente assassinado em
sua residência por adversários políticos. Depois a Casa Villar ocupou esse
casarão durante 105 anos, até novembro de 1959. A família Villar é uma das
treze famílias descritas por Raimundo Girão em seu livro “Famílias de
Fortaleza”, junto com as famílias Albano, Amaral, Bastos, Borges, Brasil, Cals,
Ellery, Gaspar de Oliveira, Teóphilo, Gouveia, Machado, Mamede e Salgado. A
maior parte delas tem origem em portugueses que imigraram para Fortaleza em
meados do século XIX e aqui desenvolveram o comércio da cidade.
fachada da loja Torre Eiffel, de Paulo Morais
No
quarto quarteirão dessa rua sobressaía-se o sobradão de cinco portas térreas e
cinco janelas avarandadas do cônsul de Portugal Manoel Caetano de Gouveia, rico
e socialmente influente. Na sua vizinhança Fernando de Alencar Pinto instalaria
os escritórios de sua empresa. Da sociedade dos Irmãos Pinto, surgiria a
Companhia Importadora de Máquinas e Acessórios Irmãos Pinto – Cimaipinto. Em
suas imediações ficava a Loja Torre Eiffel de Paulo Morais, adquirida de
Antônio Fiuza Pequeno e Álvaro Mota; a Livraria Humberto, de Humberto Correia
Ribeiro; a Casa Dummar; a Livraria Ribeiro, de Luiz Severiano Ribeiro.
Num
prédio de Plácido de Carvalho, que por muito tempo apresentaria no alto da
fachada uma estátua de bronze representando o deus Mercúrio em tamanho natural,
funcionaria a Companhia Quixadá, fundada por Adolpho Quixadá; próximo a ela
encontrava-se a sede da Livraria e Papelaria Comercial, de Meton Gadelha.
Fechando
o quarteirão estava o sobrado do comendador Machado, com três portas para a Rua
Major Facundo e quatro para a Rua Guilherme Rocha, onde hoje se ergue o
Excelsior Hotel. No antigo casarão hospedou-se em 1859, a Comissão Científica
que veio ao Ceará com a participação de Gonçalves Dias e outros.
Ao
final do século XIX, a firma Gradvohl e Fils ocupou seu andar térreo, com o
proprietário residindo na parte superior. Os Gradvohl eram franceses
originários da Alsácia-Lorena. Eram proprietários da Casa Gradvohl Frères. A
exemplo da Casa Boris, a Gradvohl Frères teve grande duração no Ceará.
Mais
tarde o térreo do sobrado do Comendador Machado foi ocupado pelo famoso Café
Riche, de propriedade de Alfredo Salgado e Luiz Severiano Ribeiro,
estabelecimento frequentado por literatos, escritores e poetas.
Extraído
do livro:
Ideal Clube – história de uma sociedade de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do arquivo Nirez
Ideal Clube – história de uma sociedade de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do arquivo Nirez
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