modelo de título de eleitor no Brasil Império (imagem G1)
Antigamente as eleições se efetuavam nas igrejas.
Acreditavam os organizadores que dentro dos templos, em respeito ao ambiente e
às imagens sagradas, arrefecessem a ira partidária, inibisse o furor entre adversários, e a ação
dos capangas, arvorados em eleitores.
Puro engano. As velhas crônicas estão salpicadas de muito
sangue derramado em eleições, algumas das quais ficaram célebres pelas mortes
violentas ocorridas durante os trabalhos.
Canindé em 1940
Assim é que em 1852 foi assassinado em Canindé o
tenente-coronel Manuel Mendes da Cruz Guimarães. No Crato, em 1856 o
proprietário José Landim; no mesmo ano em Sobral, dentro da igreja, durante a
votação, quatro pessoas foram mortas a punhaladas e cinquenta ficaram feridas.
Ainda no mesmo ano, em Santana (atual Santana do Acaraú) morreram três liberais durante as eleições; e
na Telha, hoje Iguatu, ocorreram quatorze mortes, inclusive a do delegado de
polícia, na eleição de 1860.
Crato, 1936
Em Maria Pereira (atual Mombaça) na eleição de 1880, uma
forte discussão entre eleitores degenerou em áspera luta dentro da igreja, onde
o professor Jayme de A. Araripe disparou vários tiros de garrucha, na intenção
de amedrontar os brigões. O expediente não surtiu efeito; a luta continuou e os
combatentes usaram até os castiçais dos altares para acertar os adversários.
Quando o conflito acabou a igreja estava destruída; vários eleitores estavam feridos, inclusive o Sr. Joaquim Torres e, foi assassinado o caboclo Farias, agregado da tradicional família da região. Já em eleição anterior, ali mesmo, em Maria Pereira, o coronel Manuel Martins, famoso pela coragem e força, feriu gravemente três soldados, que queriam impedir que entrassem na igreja alguns eleitores, seus amigos.
Quando o conflito acabou a igreja estava destruída; vários eleitores estavam feridos, inclusive o Sr. Joaquim Torres e, foi assassinado o caboclo Farias, agregado da tradicional família da região. Já em eleição anterior, ali mesmo, em Maria Pereira, o coronel Manuel Martins, famoso pela coragem e força, feriu gravemente três soldados, que queriam impedir que entrassem na igreja alguns eleitores, seus amigos.
Sobral, 1924
Não se cogitava, então, uma eleição pacífica: eleição era
sinônimo de luta e combate no sentido estrito da palavra, e por isso os cabos
eleitorais iam para o local de votação, no caso as igrejas, armados de facas,
facões, garruchas e pedaços de paus. Quando as lutas se acirravam entravam em cena
os bacamartes.
Naqueles tempos, todo mundo era eleitor, desde as pessoas de melhor condição social até indivíduos pertencentes às classes mais baixas. No período eleitoral em Fortaleza, viam-se grupos enormes de gente, quase toda descalça, a percorrer as ruas em passeatas entusiásticas antes, e malcriadas depois da vitória.
Naqueles tempos, todo mundo era eleitor, desde as pessoas de melhor condição social até indivíduos pertencentes às classes mais baixas. No período eleitoral em Fortaleza, viam-se grupos enormes de gente, quase toda descalça, a percorrer as ruas em passeatas entusiásticas antes, e malcriadas depois da vitória.
Cruzamento das ruas Major Facundo e Guilherme Rocha - década de 1920
O ano de eleição para juízes de paz e vereadores, em 1879,
foi bastante atribulado em Fortaleza.Corriam os trabalhos na Matriz quando se espalhou a noticia
de que ali começara uma grande desordem. Assustada, a mulher do político José
Feijó de Melo, que se encontrava na igreja, mandou que um criado de nome João
Peci, fosse chamá-lo.
O criado saiu apressado e, correndo quis entrar na Sé, cujas
portas estavam guardadas por soldados. Supondo que o criado fosse um desordeiro
atraído pelo tumulto reinante na igreja, um dos soldados matou-o com um tiro de
espingarda.
A noticia do assassinato espalhou-se pela cidade que ficou apavorada. No dia seguinte o corpo da vítima foi levado em passeata até o cemitério, pelo Partido Conservador graúdo. Por algum tempo, Peci ficou falado e célebre em Fortaleza: não pelo que houvesse feito, mas pelo que lhe fizeram.
A noticia do assassinato espalhou-se pela cidade que ficou apavorada. No dia seguinte o corpo da vítima foi levado em passeata até o cemitério, pelo Partido Conservador graúdo. Por algum tempo, Peci ficou falado e célebre em Fortaleza: não pelo que houvesse feito, mas pelo que lhe fizeram.
Durante muitos anos só havia dois partidos políticos no
Brasil, o Liberal e o Conservador. Mas no Ceará cada um deles se subdividia em
duas facções irreconciliáveis. Para a eleição da Câmara de 1880 os Liberais
Paulas se coligaram com os Conservadores
Graúdos e os Conservadores Miúdos com os Liberais Pompeus.
No dia da eleição, ainda cedo, os dois primeiros grupos, com seu numeroso eleitorado, ocuparam militarmente, a Igreja da Sé. Quando por volta das 9 horas, chegaram os Miúdos e os Pompeus, também acompanhados de um eleitorado da mesma espécie, foram atacados e repelidos à faca, pedaços de paus e tiros pelos adversários.
Travou-se então uma verdadeira batalha campal em frente à Matriz. Os atacados, em menor número, recuaram e resistindo sempre, foram empurrados pela Rua Conde D’eu em direção ao Palácio da Luz. Houve um momento em que o campo de batalha se estendia desde o portão do Mercado Novo até perto da esquina da Rua da Assembleia. Por toda parte se lutava. Sangue por todos os lados; muitos já fugiam, outros jaziam estendidos pelo calçamento e calçadas.
No dia da eleição, ainda cedo, os dois primeiros grupos, com seu numeroso eleitorado, ocuparam militarmente, a Igreja da Sé. Quando por volta das 9 horas, chegaram os Miúdos e os Pompeus, também acompanhados de um eleitorado da mesma espécie, foram atacados e repelidos à faca, pedaços de paus e tiros pelos adversários.
Travou-se então uma verdadeira batalha campal em frente à Matriz. Os atacados, em menor número, recuaram e resistindo sempre, foram empurrados pela Rua Conde D’eu em direção ao Palácio da Luz. Houve um momento em que o campo de batalha se estendia desde o portão do Mercado Novo até perto da esquina da Rua da Assembleia. Por toda parte se lutava. Sangue por todos os lados; muitos já fugiam, outros jaziam estendidos pelo calçamento e calçadas.
A luta se acirrou brutalmente nas proximidades daquela
esquina. Um homem à cavalo, dava tiros para o ar, e um outro, armado de
uma acha de lenha fazia frente a cinco atacantes numa calçada da Rua Conde D’Eu.
Foi ali que o conflito terminou, pela retirada dos atacados. Seriam 11 horas do dia.
A população apavorada, muitos apanhados no meio do fogo cruzado, assistia sem compreender o porquê de tanta brutalidade, nem a razão de tamanha violência.
A população apavorada, muitos apanhados no meio do fogo cruzado, assistia sem compreender o porquê de tanta brutalidade, nem a razão de tamanha violência.
Largo do Palácio, em 1908
Tão acostumados estavam os nossos antigos moradores com
desordens e mortes em eleições, que o Barão de Ibiapaba, proclamou a modo de
axioma que – quem morre em eleição, morre de morte natural.
O processo eleitoral só saiu da igreja com a lei Saraiva, de 1881, ainda na época do Império. Além de criar o título eleitoral e estabelecer eleições diretas, o texto previa que o eleitor deveria ter mais de 21 anos, ter renda maior que 200 mil réis e ser alfabetizado.
O processo eleitoral só saiu da igreja com a lei Saraiva, de 1881, ainda na época do Império. Além de criar o título eleitoral e estabelecer eleições diretas, o texto previa que o eleitor deveria ter mais de 21 anos, ter renda maior que 200 mil réis e ser alfabetizado.
fotos do Arquivo Nirez e do Álbum de Vistas do Ceará
pesquisa:
Eleições de Outrora, de João Nogueira, publicado na Revista
do Instituto do Ceará.
G1.globo.com
wikipédia
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