Imagem: cabarceno.iespana.es/hienas.htm
A cena é dantesca, protagonizada por atores patéticos e de quinta:
Um político ultrapassado, velho de idéias e de ações
- que já tinha sido apeado do poder -
tremendo e babando como um cão raivoso, apontando o dedo e cobrando,
como se proprietário fosse de algum resquício de moral, que lhe permitisse cobrar o que quer que seja a quem quer que fosse.
O segundo, também afastado da chefia da sinecura,
por escândalos que misturaram no mesmo caldeirão, desvio de dinheiro, corrupção ativa, amantes, vacas e chifres,
defendendo com sua moralidade peculiar os atos de seu chefe/comparsa
que repetiu no mesmo cargo as mesmas práticas imorais que decretaram a queda do seu agora defensor.
E um terceiro, acuado entre as muitas hienas figurantes que habitam o picadeiro, impotente, solitário a pregar moralidade nesse circo dos horrores.
Nesses tempos obscuros, quando a lama já não cessa de escorrer do centro do poder e se espalha pelo país inteiro, nada como os versos de Brecht para lembrar a quem cabe a responsabilidade pela volta e pela permanência dessa cambada de vigaristas, que assaltam os cofres públicos, legislam em causa própria, e mancham o nome do Brasil .
O ANALFABETO POLÍTICO
O pior analfabeto
É o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.
Bertolt Brecht (1898-1956)
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