Na segunda metade dos anos
quarenta, terminada a Segunda Guerra Mundial, enquanto a Europa tentava
recuperar-se dos estragos causados pelo conflito, os americanos emergiram como
os novos heróis, os vencedores que derrubaram Hitler e seus aliados.
O Estoril na Praia de Iracema era o reduto dos soldados norte-americanos em Fortaleza durante a 2a. Guerra
Em toda América
Latina os americanos viram aumentar o prestígio e a idolatria pelos bravos
soldados do Tio Sam. Nada mais natural para essas populações, inclusive a do
Brasil, do que aderir à emergente cultura proveniente da América do Norte, o
que significava, dentre outras coisas, aceitar as grandes invenções americanas:
os utensílios de plástico, o pirex, as meias de nylon, a caneta esferográfica,
além é claro, da Coca-Cola e outras bugigangas.
Fortaleza, que antes da guerra
estivera sob jugo da moda francesa, de onde eram importados tecidos finos,
chapéus, vestidos, sapatos e perfumes, de repente, encantou-se pelas
quinquilharias americanas. Já não eram as sofisticadas vitrines da Casa Sloper
e da Broadway que chamavam a atenção; antes da guerra, maravilhosa era a
Alemanha, grande parceira econômica com seus gênios inventores, onde o Brasil
comprava máquinas e carros, e vendia grãos, matéria-prima e até armas.
Passeio Público no tempo da Belle Epoque: chapéus, ternos e belos vestidos inclusive para as crianças (1920)
A França
mandava a frescura na forma de moda, de hábitos culturais, de artes e no modelo
de urbanização. Agora, porém, a coisa estava mudando, e Tio Sam com sua festiva
cartola estrelada começava a exercer sua influência sobre os ingênuos
habitantes do Terceiro Mundo. E não foram só as quinquilharias que causaram
sensação por aqui: a música latina, bem alegre e vibrante, as danças sensuais,
a moda, a gastronomia, e a arquitetura. Os filmes encontraram espaço nos salões
e nos cinemas da cidade e os colégios católicos passaram a priorizar o inglês
como segunda língua, em vez do francês. Os jovens mascavam chicletes, tomavam
Coca-Cola e dançavam Fox. Os mais velhos dançavam ao som de Glenn Miller e dos
ritmos caribenhos.
Em frente as lojas do centro se juntavam pequenas multidões
para assistir as demonstrações das novas aquisições. Nas Lojas de Variedades na
Praça do Ferreira, os vendedores mostravam as maravilhas do plástico – através
de copos que não quebravam mesmo quando eram arremessados ao chão – e do pirex,
o novo vidro miraculoso que podia ir ao forno sem quebrar, para uma plateia que
assistia tudo de boca aberta, queixo caído, maravilhada diante de tantas
novidades.
Lojas de variedades, no centro de Fortaleza
Mas sucesso mesmo fizeram as
meias de nylon: primeiro correu a notícia de que os americanos tinham inventado
uma “meia de vidro”. Seria tão fina e transparente que podia ser lavada e usada
em seguida, pois secava instantaneamente. Logo depois as meias de nylon
chegaram às vitrines e causaram furor; as tradicionais meias de seda foram
deixadas de lado, as mulheres tinham prazer em ostentar a novidade que mostrava
até os poros das pernas. Uma sensação! As vitrines mostravam as raridades como
se fossem joias preciosas.
O plástico aumentou a família na forma de bacias,
baldes, tigelas, pratos e até penicos. Então lançaram a grande novidade: o
plástico em forma de tecidos, em peças estampadas. As mulheres não perderam
tempo. Fizeram vestidos e desfilavam na esquina da Broadway. Mas logo abandonaram
o modismo porque o vento não levantava suas saias e por causa do calor que
fazia. Jogaram os vestidos no lixo, para só depois descobrirem que a novidade
servia era para fazer cortinas de banheiro.
Assim se deu a transição da elegante
Fortaleza à francesa para a cidade americanizada: uma cidade seduzida por
plásticos, pirex, e meias de ”vidro”.
extraído do livro:
Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40, de Marciano Lopes
fotos IBGE e arquivo Nirez
fotos IBGE e arquivo Nirez
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